27 dezembro 2011

Tributo ao Rei do Chamamé Missioneiro


Noite de 11 de outubro de 2011:

- Acho que não é um bom momento. O Dedé tá muito entristecido, pois ontem faleceu um amigo dele, o gaiteiro Chaloy Jara que tocava com o Cenair Maicá. Quem sabe semana que vem ele tá melhor. A gente entra em contato.

Foi assim que a companheira do músico são-borjense Dedé Cunha, na tentativa de uma entrevista com o mesmo, nos surpreendeu com a notícia da morte de um ícone chamamecero.

A tristeza de Dedé Cunha, certamente, não era única aqui no Rio Grande do Sul. Seguramente que muitos artistas ligados à música nativista gaúcha sentiram um vazio no dia 10 de outubro deste ano. Sentiram o silêncio definitivo de um bandoneon que fez história na musica gaúcha castelhana e rio-grandense, principalmente aqui no nosso lado da fronteira. 

Don Salvador Chaloy Jara, argentino de Posadas – capital da província de Misiones, nasceu em 1 de março de 1931. Ainda “gurizote” teve contato com a música, primeiramente, com a execução de um acordeão, mas logo depois trocou para o bandoneon. Junto com seus dois irmãos formou seu primeiro conjunto, “Los Posadeños”, que fazia pequenas apresentações para a família e em eventos escolares.

Em 1947 rumou e estabeleceu-se em Buenos Aires, aonde veio a aperfeiçoar sua técnica consideravelmente. Nessa época teve como influencia dois músicos: Gregorio Martinez Riera e Ricardo Ojeda. Passou a tocar com diversos grupos, e, por consequência, diferentes gêneros de música tradicionalista. Seu intuito era de adentrar as fronteiras para difundir a sua arte, muito influenciada pelas características missioneiras. 

E foi no final dos anos de 1950, depois de gravar seu primeiro trabalho chamado de “Assunção” pelo selo “Music Hall”, que Chaloy Jara se arranchou em Santo Ângelo; onde moraria por 5 anos.

A partir de então, o argentino missioneiro se ligaria para sempre com o povo rio-grandense, principalmente com a nossa região missioneira. Ativo por essas plagas, Chaloy cada vez mais ganhava a admiração do público com o seu chamamé ao ponto de o denominarem de “O Rei do Chamamé”. Mudou-se então para Porto Alegre e começou a acompanhar o notável artista santo-angelense Cenair Maicá nos seus trabalhos. Parceria que gerou a gravação de muitos álbuns. 

Chaloy Jara (primeiro à esquerda) junto do seu parceiro e amigo, o músico missioneiro Cenair Maicá (no meio)

Sua estada e trajetória em território brasileiro durariam 20 anos, e nesse tempo fez apresentações em outros estados do país e participou de vários festivais nativistas sempre acompanhado de músicos como os “Los Hermanos Cavia”, Eugenia Maidana e Antonio Ortiz. Com estes, gravou: “Rei do Chamamé” (1988), “Chaloy Jara e Seu Bandoneon de Ouro” (1996) e “Melhor Chamamé” (1998).

Nos anos de 1990 voltou ao seu chão natal, Posadas, para se juntar à Banda Municipal de Música e por lá morou até sua morte, há dois meses, aos 80 anos, por falência múltipla dos órgãos. 

Don Salvador Chaloy Jara foi uma autoridade e referência do bandoneon. Talentoso músico e compositor deixou uma obra eternizada de no mínimo 100 temas. Dentre as mais lembradas estão: "Jamás Te Podré Olvidar" (que se tornou um clássico do cancioneiro argentino), "Patrono De Mi Pueblo", "Pueblito Iguaçú", " Basto Coli", "Recuerdo De Mi Terra", "Muchachita de Missiones, “El Moconá” e “Don Elizer Canete”. Além das muitas em conjunto com Cenair Maicá; só como exemplo:, “Baile do Sapucay”, “Bolicho”, “O Louco”, “Puente Pessoa”, “Ultima Lembrança”, dentre outras.  Destacam-se, também, as que exaltam o legado missioneiro, como: “Terra Vermelha”, Canto Missioneiro” e “Balaio, Lança e Taquara”.

Don Chaloy recebeu dois láureos pelo seu rico trabalho cultural: um em Posadas, no ano de 1995, pela Câmara Municipal e uma homenagem em 2005 no “Encontro Chamameceros” em São Luiz Gonzaga, cidade que adquiriu fortes ligações. 

Sua arte, assim como as de gaiteiros como Reduzino Malaquias e de Dedé Cunha, é perfeita como trilha numa manhã de domingo no preparo do churrasco. Estes foram às bases que fundamentaram e difundiram, aqui no Rio Grande do Sul, a magia do chamamé missioneiro. 

Vai bem! Cenair, Jayme e Noel, os troncos missioneiros, estão lhe esperando para acompanhá-los numa bailanta.

Confira uma faixa de uma lendária apresentação junto com Cenair Maicá e Jayme Caetano Braun:


28/11/2011

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