Se há uma nação que aparenta ser muito mais patriota que a nossa
essa nação é a Argentina. Até porque o Brasil é, na verdade, um continente com
muitos Estados Países multiétnicos. Porem, na Argentina esse ufanismo se
reflete potencialmente no tango e no rock
argentino; duas das principais manifestações musicais do país. E aqui o que há
é uma miscelânea de ritmos que não representam o país como uma unidade.
No momento, o que não para de tocar nos fones de ouvido, por
questão de preferencia, é esse rock
apaixonado que se faz no outro lado do rio. Percebe-se como espectador distante
que há muito mais orgulho, mais vigor em passar esse pertencimento identitário
através desse gênero. O rock argentino
é parnasiano. Os artistas parecem serem mais valorizados. Músicos que são
cânones atemporais no país ainda lotam estádios, vide Charly García e Fito Páez.
Talvez os mais conhecidos aqui no Brasil. Mas o catálogo de artistas ídolos do rock da Argentina é extenso.
Na metade dos anos 1960, quando o rock tomou conta da Inglaterra e dos EUA, os argentinos de imediato
tiveram contato com essa revolução cultural e logo nasceram bandas como Los
Gatos, Manal e Almendra. Grupos que se podem considerar precursores do estilo
na Argentina. Enquanto aqui no Brasil ainda estávamos engatinhando. O ritmo
ainda não existia. Recém tínhamos versões de Celly Campelo e depois da Jovem
Guarda. Nossos vizinhos estavam há muitos anos na frente em termos de produção
cultural por meio do rock and roll.
Lá a efervescência era grande. Depois apareceu Pescado
Rabioso, Sui Generis, Serú Girán, Pappo’s Blues (liderada por Norberto ‘Pappo’
Napolitano a maior autoridade de blues
que existiu no país), Color Humano, Vox Dei; e uma infinidade de bandas que
faziam aquele rock clássico de alta
qualidade. Muitas delas tocaram no mesmo palco, em 1972, no famoso Festival B.A
Rock, retratado no filme ”Hasta que se Ponga el Sol”, de Aníbal Uset, algo como
o Festival de Woodstock da Argentina.
O filme é um documento histórico cultural do país e ali se tem a real noção do
brilhantismo do rock feito pelos
nossos “hermanos”.
Fazer uma lista é um processo muito subjetivo. Geralmente,
escolher as preferidas é um sofrimento. Mas essa não foi difícil. São canções que
no primeiro contato já se sente porque são aclamadas em seu país. São temas que
tocam realmente, pelo lirismo que possuem. Transcendem questões de gostos
específicos. São belas canções universais. Ei-las:
10. Trátame
Suavemente - Soda Stereo: A banda mais popular da Argentina dos anos 1980 e
1990. Sucesso da mesma proporção que a Legião Urbana aqui no Brasil. Formada
pelo baterista Charly Alberti, pelo vocalista e guitarrista Gustavo Cerati e
pelo baixista Zeta Bosio. A Soda Stereo, durante 15 anos (1982 – 1997) de
carreira estiveram no topo da fama. Maior exemplo de tamanho prestígio do trio
são as duas apresentações entusiasmadas, como atração principal do Festival
Internacional da Canção de Viña del Mar, em 1987.
São autores do famoso hit
“De Musica Ligera”, que foi tema de duas versões aqui: uma d’Os Paralamas do
Sucesso, com o mesmo nome; e outra do Capital Inicial, chamada “À sua Maneira”.
Em 2007, reuniram-se para a turnê Me Veras Volver. Na volta triunfal fizeram
história ao ser a primeira banda de rock
a realizar cinco shows seguidos no
Monumental de Nunez, Estádio do River Plate. Posteriormente, apresentaram-se
também, no México, Estados Unidos, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Chile.
Finalizada a excursão cada um retornou para os seus projetos. Tristemente, em
meados de 2010, Gustavo Cerati sofre um AVC, em meio a uma
apresentação em Caracas. Desde lá continua em coma na Clínica Alcla, em Buenos
Aires. Soda Stereo é, sem dúvida, uma das bandas mais imprescindíveis do rock ibero-americano. Tratame Suavemente é o tema mais
romântico da banda. Deve ter embalado muitos casais na época. Outros, entre
tantos, enormes sucessos do Soda, destacam-se: Nada Personal, Persiana
Americana, Cuando Pase el Temblor
e En
la Ciudad de la Furia.
9. Imágenes Paganas -
Virus: Virus é uma banda pop
tipicamente dos anos 1980. Daquelas do estilo New Wave; que abusam do teclado, sintetizadores e bateria
eletrônica. Fizeram considerável sucesso até 1988. Ano em que perderam para o
HIV o seu líder, Federico Moura. Continuaram por mais um ano, com o irmão de
Federico nos vocais. Em 1994 voltaram, e estão ativos até hoje. Mas, nunca mais
chegaram perto de Imágenes Paganas, o
maior sucesso da banda no seu auge.
8. Seguir Viviendo sin tu Amor
- Luis Alberto Spinetta: O
El Flaco. Foi um dos poetas musicais mais importantes da Argentina. Compositor,
cantor e guitarrista. Mentor de uma das bandas seminais do rock do país, o Almendra. As letras de Spinetta vertem influencias
de filósofos, escritores, poetas e pensadores de renome, como: Rimbaud, Castaneda, Foucault, Deleuze, Nietzsche, Jung, Freud e Artaud. E é
Artaud o nome do principal álbum do Pescado Rabioso, grupo liderado por
Spinetta de 1971 a 1973. O guitarrista David Lebón (Serú Girán) também fez
parte da banda. Foram apenas três anos de duração, mas o suficiente para
editarem três obras primorosas: Desartomentándonos (1972), Pescado 2 (1973) e
Artaud (1973). Este último considerado, através de uma votação da revista
Rolling Stone, o melhor disco da história da música Argentina. O Pescado
Rabioso era um grupo que fazia baladas e um blues rock impecáveis. Por suas produções nos anos 1970, Spinetta foi
reconhecido em toda a América do Sul. Foi partícipe de outras bandas nas
décadas seguintes: Invisible, Spinetta Jade,
e Spinetta y los Socios del Desierto. Depois seguiu carreira solo ativamente -
até dia 8 de fevereiro de 2012, quando a notícia de sua morte por câncer no
pulmão entristeceu a todos que sentiam sua genialidade. Com a melosa Seguir Viviendo sin tu Amor nota-se a
dimensão de sua sensibilidade artística. É um bom ponto de partida para
começar a conhecer o seu trabalho. Outro
clássico seu é Rezo por Vos (parceria
com Charly García). Imaginem o que pode sair dessas mentes juntas.
7. Carabelas Nada - Fito Páez: um dos principais e exímios compositores do país, do porte de Spinetta
e Charly Garcia. Talvez o músico argentino de maior popularidade no exterior.
Seu álbum El Amor Despues del Amor (1992)
é o mais vendido de toda a história do rock
argentino, ultrapassando a marca de 700 mil unidades. Isso rendeu uma turnê
de estádios lotados em nove países e uma apresentação para um público de 50 mil
em Cuba, a primeira de um artista estrangeiro na Plaza de La Revolución. Seu hit pop Mariposa Tecknicolor foi talvez a música argentina mais
tocada nos anos 1990. Além de músico e compositor, se aventurou no cinema.
Dirigiu e escreveu um média metragem (La Balada de Donna Helena) e um longa (Vidas Privadas).
Dentre os artistas argentinos é o que cultiva maior ligação com o
Brasil. Foi regravado e fez parcerias com Caetano Veloso, Os Paralamas do
Sucesso, Djavan, Thedy Correa, Titãs. É um aficionado pela música brasileira.
Fã de Chico Buarque, Fito já fez muitas referencias ao poeta brasileiro em suas
canções e regravou a música Construção no álbum Confiá, de 2011. Carabelas Nada na primeira
palavra menciona Chico Buarque. É um tango arrastado, com uma bela linha de
piano. É uma canção que suscita imagens. Um retrato de Buenos Aires, do bairro
Caballito numa tarde chuvosa, de belas mulheres com suas lindas pernas descendo
de um taxi. Fito tirou essa balada de dentro da alma.
6. Los Dinosaurios - Charly
García: este dispensa maiores apresentações. Com mais de 40 anos de
carreira é sinônimo de rock
argentino. É uma das personalidades mais icônicas da América Latina.
Reconhecido tanto pelo seu talento musical, como pelo seu comportamento
polêmico e desregrado. Cantor, compositor, produtor, guitarrista e perito em
piano. Artista ativo, liderou bandas do primeiro escalão do rock argentino, como Sui Generis,
PorSuiGieco, La Maquina de Hacer Pájaros e Serú Girán. Desde 1982 possui uma
equilibrada carreira solo. Já deixou seu legado na história da música
argentina. Nem é necessário produzir mais. Mas quanto mais do Charly melhor.
Los Dinosaurios é uma das mais lindas composições de sua carreira como solista.
É uma balada triste que versa sobre perda, sobre o imprevisível e a brevidade
da vida.
5. Seminare - Serú Girán:
para muitos críticos e melomaníacos argentinos é considerada como a maior banda
de rock da Argentina de sempre.
Formada por Charly García, David Lebón, Pedro Aznar e Oscar Moro; o grupo
foi referencia de protesto contra a ditadura, e se destacavam por misturarem
gêneros musicais como, blues, jazz e progressivo. Em muitas de suas
músicas a impressão que se tem é como se o Pink Floyd (progressivo do Charly
Garcia) tivesse o Jaco Pastorius em sua formação (pela técnica no baixo fretless do Pedro Aznar). Na letrística
transitavam por temas universais como amor, solidão, nostalgia e costumes. Seminare, juntamente com Eiti Leda, são as principais canções de
amor deles. Estão juntas no álbum homônimo de estreia da banda, de 1978.
4. Canción para mi Muerte -
Sui Generis: como o termo significa, foram únicos no país. A primeira banda
de Charly García e Nito Mestre - o flautista latino. Junto com eles, fizeram
parte do grupo: Carlos Piegari, Beto Rodríguez, Juan Belia e Alejandro Correa.
Ao longo de sete anos de atividade ocorreu várias deserções na banda. Mas a
essência era a dupla. Cancion para mi Muerte
é a obra prima da banda folk. É uma
epígrafe nostálgica para a morte dos sonhos da juventude.
3. La Colina de la Vida -
León Gieco: o Bob Dylan argentino. Um dos maiores compositores e cantores
populares da Argentina. Autor de muitas músicas de cunho social e político.
Gieco é a mistura de rock rural com
folclore urbano. Suas canções são libelos a favor dos direitos humanos. É a
outra ária eterna de Gieco. Da altura emotiva de Sólo Le Pido a Dios. Para os mais roqueiros podem conhecê-la na
versão mais punk da banda Attaque 77,
dividindo o microfone com o próprio Gieco.
2. Sólo le Pido a Dios -
León Gieco: é o seu tema mais afamado. Literalmente um hino contra a
injustiça social. Canção eternizada e reconhecida (se não mundialmente, deveria
ser), na voz da grande Mercedes Sosa. Além desta e de La Colina de la Vida, outra composição sua de ampla notoriedade é Hombres de Hierro.
1. Viernes 3am - Serú Girán:
A pérola do supergrupo de rock mais
cultuado pelos castelhanos. Viernes 3am é a canção mais linda já feita na
Argentina. Os arranjos, a harmonia, o vocal do Charly e o som dos ponteiros do
relógio tornam-na única. Arte perfeita. Inesquecível.
Rock Argentino, Gracias
Totales! Fuerza Cerati!