29 dezembro 2015

Acaba logo 2015!


 Ian "Lemmy" Kilmister

(1945 - 2015)


Foi embora o último roqueiro de verdade.

22 dezembro 2015

A baixa de mais um combatente


O rock gaúcho sente dor pela morte prematura de um dos seus alicerces. Flávio Basso, mais conhecido nas artes como Júpiter Maçã, morreu nesses dias natalinos de dezembro. E com apenas 47 anos de vida excêntrica.

Um dos fundadores da lendária TNT e partícipe também da icônica Os Cascavelletes, Basso iluminava a música com sua arte criativa e irreverencia. Um dicotômico entre a graça e a tristeza.

Um menino roqueiro no TNT e n’Os Cascavelletes e um homem produtivo e original nos discos solitários. Autor da obra mor do psicodelismo brasileiro, o sydbarretiano “A Sétima Efervescência”, de valor reconhecido além-mares.

Perdemos mais um, ou uns. Perdemos as personalidades do Flavio e dos Júpiteres. Perdemos uma referencia do rock do Rio Grande do Sul. Perdemos um grande artista gaúcho.



03 dezembro 2015

A explosiva Jijiji


Um dos meus grandes desejos, como um apaixonado pelo rock argentino, era ver uma apresentação do grupo Los Redondos, com o seu vocalista Índio Solari, num dos estádios históricos da Argentina.

Patricio Rey y sus Redonditos de Ricota é uma lenda e uma das bandas mais representativas do país hermano. Jijiji é uma das músicas mais contagiantes que já escutei. Quando tocada ao vivo é a causa do maior pogo do planeta.

Apesar de toda a merda praticada pelo governo argentino ao longo de muito tempo eles são exemplos de voz ativa e amor à pátria de que se tem notícia.



09 novembro 2015

Tim Maia pode viver para sempre


Lembro com exatidão a noite que Tim Maia morreu. Tinha lá uma década de idade. Naquela noite posei na casa do meu tio e lembro-me de ver no noticiário o acontecimento infausto. Pensei: morreu um famoso da teve. Só isso. E fui dormir.

Passado uns cinco anos, já ligado em música, fui perceber o que aquele mulato, gordo e engraçado representava: um dos maiores gênios da música. O Rei do Soul brasileiro.

Sebastião Rodrigues Maia elevava seu talento ao limite. Inovou ao trazer suas raízes americanas do soul, funk, latinidade e psicodelia para o Brasil. Misturou no liquidificador com xaxado, baião, samba e chocolate e serviu batidas dançantes, felizes e depressivas à massa.

Tião era um artista nato. Um arranjador incomum e complexo. Sempre acompanhado de músicos competentes, conseguiu aliar sua desorganização emocional e informação musical em cultura rica.

Não há música oca em sua discografia. São estratos recheados de grooves, suingues e balanços que empolgam o mais rabugento, e também baladas que emocionam o mais casca dura. E todas simetricamente aparadas pela sua voz de rocha.

As obras Racionais são inatingíveis em termos de qualidade instrumental e de banda afiada.



Tim Maia é tudo... E nada é nada.


08 setembro 2015

Provérbios do Inferno

   

                                     de WILIAM BLAKE (1757-1827)

                                         De “O matrimónio do Céu e do Inferno”:

No tempo de semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.

Conduz teu carro e teu arado sobre a ossada dos mortos.

O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.

A Prudência é uma rica, feia e velha donzela cortejada pela Impotência.

Aquele que deseja e não age engendra a peste.

O verme perdoa o arado que o corta.

Imerge no rio aquele que a água ama.


O tolo não vê a mesma árvore que o sábio vê.
    

Aquele cuja face não fulgura jamais será uma estrela.
A Eternidade anda enamorada dos frutos do tempo.

À laboriosa abelha não sobra tempo para tristezas.

As horas de insensatez, mede-as o relógio; as de sabedoria, porém, não há relógio que as meça.

Todo alimento sadio se colhe sem rede e sem laço.

Toma número, peso & medida em ano de míngua.

Ave alguma se eleva a grande altura, se se eleva com suas próprias alas.

Um cadáver não revida agravos.

O ato mais alto é até outro elevar-te.

Se persistisse em sua tolice, o tolo sábio se tornaria.

A tolice é o manto da malandrice.

O manto do orgulho, a vergonha.

Prisões se constroem com pedras da Lei; Bordéis, com tijolos da Religião.

A vanglória do pavão é a glória de Deus.

O cabritismo do bode é a bondade de Deus.

A fúria do leão é a sabedoria de Deus.

A nudez da mulher é a obra de Deus.

Excesso de pranto ri. Excesso de riso chora.

O rugir de leões, o uivar de lobos, o furor do mar em procela e a espada destruidora são fragmentos de eternidade, demasiado grandes para o olho humano.

A raposa culpa o ardil, não a si mesma.

Júbilo fecunda. Tristeza engendra.

Vista o homem a pele do leão, a mulher, o velo da ovelha.

O pássaro um ninho, a aranha uma teia, o homem amizade.

O tolo, egoísta e risonho, & o tolo, sisudo e tristonho, serão ambos julgados sábios, para que sejam exemplo.

O que agora se prova outrora foi imaginário.

O rato, o camundongo, a raposa e o coelho espreitam as raízes; o leão, o tigre, o cavalo e o elefante espreitam os frutos.

A cisterna contém: a fonte transborda.

Uma só idéia impregna a imensidão.

Dize sempre o que pensas e o vil te evitará.

Tudo em que se pode crer é imagem da verdade.

Jamais uma águia perdeu tanto tempo como quando se dispôs a aprender com a gralha.

A raposa provê a si mesma, mas Deus provê ao leão.

De manhã, pensa, Ao meio-dia, age. Ao entardecer, come. De noite, dorme.

Quem consentiu que dele te aproveitasses, este te conhece.

Assim como o arado segue as palavras, Deus recompensa as preces.

Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.

Da água estagnada espera veneno.

Jamais saberás o que é suficiente, se não souberes o que é mais que suficiente.

Ouve a crítica do tolo! É um direito régio!

Os olhos de fogo, as narinas de ar, a boca de água, a barba de terra.

O  fraco em coragem é forte em astúcia.

A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão ao cavalo como apanhar sua presa.

Quem reconhecido recebe, abundante colheita obtém.

Se outros não fossem tolos, seríamos nós.

A alma de doce deleite jamais será maculada.

Quando vês uma Águia, vês uma parcela do Gênio; ergue a cabeça!

Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para pôr seus ovos, o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas.

Criar uma pequena flor é labor de séculos.

Maldição tensiona: Benção relaxa.

O melhor vinho é o mais velho, a melhor água, a mais nova.

Orações não aram! Louvores não colhem!

Júbilos não riem! Tristezas não choram!

A cabeça, Sublime; o coração, Paixão; os genitais, Beleza; mãos e pés, Proporção.

Como o ar para o pássaro, ou o mar para o peixe, assim o desprezo para o desprezível.

O corvo queria tudo negro; tudo branco, a coruja.

Exuberância é Beleza.

Se seguisse os conselhos da raposa, o leão seria astuto.

O Progresso constrói caminhos retos; mas caminhos tortuosos sem Progresso são caminhos de Gênio.

Melhor matar um bebê em seu berço que acalentar desejos irrealizáveis.

Onde ausente o homem, estéril a natureza.

A verdade jamais será dita de modo compreensível, sem que nela se creia.

Suficiente! Ou Demasiado.

13 julho 2015

13 de julho: Dia “Mundial” do Rock?

Apesar da efeméride ser chamada de Dia Mundial do Rock, esta data somente é comemorada aqui no Brasil. Ela surgiu em homenagem ao evento beneficente Live Aid em 1985, ocasião em que o músico Phil Collins expressou sua vontade de que a data fosse considerada o “Dia Mundial do Rock”. Porem, a ideia não ganhou seguidores lá fora.

Foi nos anos 1990 que duas rádios paulistanas (a 89 FM e 97FM) lançaram a ideia, abalizada pelo baterista inglês, e começaram a dedicar nesse dia programações alusivas à data. Então, o “Dia Mundial do Rock” não é reconhecido internacionalmente. Está mais para uma farsa.

Seria mais sensato comemorar o mês do rock, visto que existem outras datas em julho mais significativas para tal. Como em 5 de julho de 1954, quando Elvis Presley gravou pela primeira vez o Blues acelerado, “That’s All Right, Mama”; ou 12 de julho de 1962, data de formação e do primeiro show em Londres dos Rolling Stones; ou até mesmo em 25 de julho de 1965, quando o Bob Dylan “traiu” os folkeanos ao se apresentar pela primeira vez com uma guitarra elétrica no Festival de Newport.

Porque ao invés de copiar os gringos - até porque nem eles possuem uma data específica -, não se criou uma que celebrasse o rock em solo brasileiro? Poderia ser em março de 1959, quando Celly Campelo gravou a versão Estúpido Cupido; o álbum de estreia dos Mutantes em junho de 1968; ou em maio de 1973 quando a banda fictícia Rock Generation, liderada por Raul Seixas, lançou a coletânea “Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock”. Seria muito mais digno a nós brasileiros que amam esse estilo de vida.

Mas o que importa é evidenciar esse gênero extraordinário que mudou o rumo da história mundial. Tanto nas artes como no comportamento.


05 junho 2015

Rosa Tattooada: duas décadas e meia de lealdade


Poucas bandas do glorioso rock gaúcho tiveram a coragem de se manter por tantos anos pela indelével paixão pela música. E uma dessas poucas é a Rosa Tattooada. É de se orgulhar que ainda estão na ativa pela ideologia do Hard Rock. Nicho que teve seus anos de glória no final dos 1980 e meados dos 1990. Abafado pela midiatização massiva do Grunge, muitas desistiram no exterior e tantas outras levadas a pagarem mico ao tentar se adequar à nova onda. Não adianta, não era a praia. E aqui no sul a Rosa seguiu. Minguando, mas com o punho erguido pela filosofia da velha escola.

Quem nunca ouviu "O Inferno Vai ter que Esperar" ou "Tardes de Outono" tocar incessantemente nas FMs da vida? Não é preciso ser um apreciador xiita da vertente. Essas pérolas canções chegaram a todos os públicos. Jacques Maciel, o vocalista com a voz peculiar que continua na linha de frente da banda, já pode ser considerado um dinossauro.

Com muitos reveses e fases de adaptação na formação a Rosa lançou em 2000 um dos álbuns mais importantes e significativos de todos os tempos da discografia gaúcha: "Carburador", com um peso e profusão de riffs matadores. Lançaram um novo trabalho de inéditas em 2013: o identitário "XXV", em comemoração ao ciclo de 25 anos de barulho.

Procure aquele seu disco empoeirado da Rosa Tattooada e ponha a tocar novamente. Reviva aqueles tempos áureos dos 1990. Quando a Rosa imperava. A sonoridade não envelhece, assim como os grandes reis do rock puro ACDC.

A marca é maior que seus inventores. A Rosa Tattoada é um pilar perto do impossível de desmoronar. Esses caras nem idosos deixarão de tocar. Vão morrer com a guitarra na mão. Ao som de um bom Hard e um com um gole seco de uísque ou cerveja na garganta. Sempre trilha ideal para uma noite de diversões pesadas.


26 maio 2015

Pública

Pública é a banda de rock gaúcha mais interessante e envolvente que surgiu na última década. Emana um misto de horizonte juvenil com uma aura saudosista.


"Tenho saudade da vida passada,
Dos velhos amigos, as mesmas risadas,
Mãos e conversas em volta da mesa,
Que agora calada, recorda a tristeza."

16 maio 2015

Caio e Vânia: integração cultural através da dança


“São Borja é uma cidade missioneira e fronteiriça ao mesmo tempo, e o Chamamé representa a união entre o Brasil e a Argentina.”

Assim Caio Benevenuto enfatiza o papel que sua terra natal teve na sua paixão pela dança. Luiz Carlos Benevenuto é professor de danças folclóricas gaúchas e em poucos minutos de conversa ele já deixa transparecer sua paixão pelo Chamamé, estilo de música e dança comum na província de Corrientes, na Argentina. Também cultuada no Paraguai, e no Brasil; pelos gaúchos, pelos sul mato-grossenses e paranaenses.

O Chamamé teve procedência dos povos indígenas guaranis, de espanhóis e imigrantes italianos.  O encontro dessas culturas deu origem ao gênero musical. Mas, Caio também tem outra paixão: sua parceira de dança e esposa, Vânia. Eles se conheceram há 23 anos. E o destino já estava traçado, pois foi numa pista de baile que se encontraram pela primeira vez. A dança os aproximou e os mantêm juntos até hoje. “Desde esse nosso primeiro encontro nós viemos dançando juntos. A dança faz parte da nossa história de união”, afirma Caio.

Para o casal, mais do que o prazer de dançar, eles têm nela um elemento essencial de estímulo, a tal ponto que hoje, eles representam o Chamamé rio-grandense e a cidade de São Borja em competições nacionais e internacionais de danças tradicionalistas.

A paixão pela dança surgiu quando Caio ainda era guri. “A dança me acompanha desde a minha infância. Minha mãe gostava muito. Meu avô era cigano e ciganos gostam de danças. Meu pai era um espanhol, então eu tenho uma procedência. Tá no sangue.” Mas, esse amor teve um empurrãozinho, na verdade, pelo futebol. Afinal, não fosse pelas três cirurgias no joelho, ele não ouviria a recomendação que mudaria sua vida. “Um médico de Santa Maria me disse, há treze anos, que eu não tinha mais capacidade de jogar futebol. Só que eu deveria fazer algum exercício. ‘Vai dançar dança de salão’, ele me disse. ‘Esse vai ser um exercício muito bom pra ti. Mas não o faz só nos finais de semana. Pratica a dança’. Então comecei a exercitar em casa, com a minha mulher”. Essa prática tornou-se rotina, e como diz o ditado ‘a prática leva a perfeição’, eles ficaram motivados em participar de apresentações na cidade, mas foi num evento artístico, no Piquete Portal da Querência, que a dupla recebeu o primeiro elogio: “Vocês têm algo na dança que os diferencia na pista”, analisou um radialista. E de fato, para quem já teve oportunidade de vê-los dançando concordariam com o comentarista. Percebe-se que levam a dança mais do que apenas distração, mas também como realmente algo importante e prazeroso. O elogio os incentivou, servindo como força para seguirem o caminho dessa arte milenar: a materialização da música através dos passos e dos movimentos.

Eles escolheram se especializar no Chamamé. Para Caio o entusiasmo nasce não só do ato de dançar, mas também do estudo do ritmo, do que ele representa, e, principalmente, de como senti-lo. Para ele, tem que se conhecer a história do folclore, do estilo e o que ele representou para seus criadores e representa para seus praticantes. “O Chamamé nasceu na tribo Caiguá, dos índios Guaranis. E era um ritual que se agradecia aos Deuses. Por isso que quando eu e a Vânia estamos bailando costumamos agradecer aos Deuses do Chamamé por tudo àquilo que recebemos. Quando estamos dançando um Chamamé ou qualquer outro ritmo gaúcho sempre é com muito sentimento”.



O Chamamé é uma cultura que predomina mais na região missioneira da Argentina. Especificamente na província de Corrientes, que são vizinhos mais próximos do Rio Grande do Sul, facilitando a influência na música gaúcha. Dessa forma, o estilo artístico serve como um fator em potencial de integração entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai. Caio e Vânia, que convivem nesse meio relacional, por meio das diversas participações de eventos nos países vizinhos, veem o Chamamé como uma conexão entre esses povos. Um mesmo ideal pela arte. O mesmo sentimento de pertencimento missioneiro. “Mais do que um ritual indígena, hoje, o Chamamé é uma dança de salão, que aqui no Rio Grande do Sul vem crescendo muito e vem unindo países. Porque a porteira do Mercosul, através da arte e da cultura, está sempre aberta. Na parte cultural não há inimigos. Não há adversários, e sim uma união. Nos sentimos irmanados. Todas as vezes que participamos de festivais na Argentina somos recebidos como chamigos, irmãos correntinos que estão ali praticando a dança deles. Eles se orgulham de ter um par são-borjense, fronteiriço, como campeões chamameceros”, compartilha o dançarino.

Como pesquisador da cultura musical gaúcha, Caio ensina que “nós temos a Vaneira, o Xote e a Milonga, que é uma dança romântica. A Milonga para o gaúcho é como se fosse um Tango, que o gaúcho namora sua dama. Se executa muito pouco a Milonga nos bailes. Nós temos Mazurca, temos Terol, temos Polca, temos Contrapasso, Marcha, e temos a Chamarra que é uma música missioneira. A Chamarra expressa às missões, e não se executa em fandango. No fandango vocês vão escutar somente Vaneira e Xote, difícil se tocar uma Milonga. A Valsa também é muito pouco executada, sendo que ela é a primeira dança de par enlaçado. Até foi proibida antigamente, era vista com indecência. A Valsa deveria ser executada porque é a mãe da dança de salão. O repertório gaúcho é muito amplo e muito pouco divulgado e executado. No fandango não se vê a diversidade que nós temos. Inclusive o ritmo mais rio-grandense é o Bugio, que é pouco executado. O Bugio é uma dança que nasceu aqui no Rio Grande do Sul e que deveria fazer parte de todo o fandango. O Bugio, a Vaneira, o Xote, a Rancheira, as coisas do Rio Grande ficam restrito aos Centro de Tradições Gaúchas (CTGs) que, com muita honra digo isto, são os que cultivam as nossas tradições, porque senão elas seriam esquecidas, estariam em segundo plano. As rádios deveriam executar muito mais nossos ritmos para que o público ouvisse e também gostasse. Vamos colocar o Bugio nas rádios até o pessoal pegar gosto!”, convoca entusiasmado.

Caio também lembra que o termo sapucay, tão falado pelos gaúchos, principalmente durante as apresentações, normalmente não é conhecido pelas pessoas de outros Estados. Nem imaginam o que significa, até escutarem. Caio descreve o real sentido da palavra: “Nós que estudamos a cultura argentina e a cultura do Chamamé temos o sapucay como realmente o grito da alma. Se você me pedir pra soltar um sapucay agora, eu não vou fazer isso. Porque ele não se treina, o sapucay nasce do sentimento de ouvir um Chamamé, no momento de emoção quando você está bailando. E bailar é viver aquele momento. Você sente a necessidade para que aquilo venha espontaneamente. O sapucay é um sentimento a ser expresso em agradecimento aos Deuses.”

A dança tem levado a dupla a lugares distantes, tanto aqui no Rio Grande do Sul, como em Santa Catarina, e principalmente, na Argentina. E nessas viagens costumam trazer a tiracolo muitas conquistas inéditas, Em 2010 foram campeões do 46º Festival do Folclore Correntino, na cidade de Santo Tomé. Ocasião em que concorreram com 16 pares argentinos. Este prêmio os credenciou no mesmo ano a participar do 21º Festival Mundial do Chamamé, na cidade de Corrientes. Na oportunidade, dançaram no Teatro Transito Cocomarola, considerado pelos argentinos o Templo do Chamamé. Desta vez trouxeram o título de sub-sede internacional de Chamamé para São Borja e Santo Tomé. Com esse láureo, São Borja passa a ser a única cidade fora da Argentina a ser uma sub-sede chamamecera. Em março de 2012 foram até a cidade de Goya, na Argentina, distante 460 km de São Borja, concorrer no 22º Baila Chamamé, e novamente foram vitoriosos.

Premiação em Goya, Argentina

“Eu fico aguardando o momento de ser convocado para um festival ou para ir fazer uma apresentação artística na Argentina, em Santo Tomé, que é aqui na nossa divisa, pela maneira de eles nos receberem, de nos respeitar e respeitar as coisas do nosso Estado. A nossa arte, a dança e a indumentária são vistas. Eles se encantam com tudo isso. Quando nós participamos dos festivais geralmente nem é pronunciado o nome do bailarino, e sim a cidade: é Rio Grande do Sul, a cidade de São Borja, Brasil. E isso nos orgulha muito. Representar o nosso país e essa cidade que a gente ama tanto”, orgulha-se Caio.

Sempre que a dupla se apresenta, seja competindo ou não, costumam levar como músicas temas, canções de artistas de São Borja, e que cantem a cultura missioneira. Uma forma de valorizar ainda mais a identidade e a arte criada na cidade. “Quando saímos para dançar sempre procuramos levar músicas que falam das nossas coisas, das missões: os Chamamés missioneiros, os Rasguidos Dobles missioneiros e as Valsas missioneiras. Nós temos uma cultura musical bem diversificada na parte missioneira. E eu sempre levo porque eu tenho essas músicas como um hino, elas nos emocionam quando tocam. A gente se sente parte dela. E o bailarino precisa ser motivado quando está no palco. E essas canções são fundamentais. Talvez esses Deuses missioneiros são os que têm nos levado a ganhar esses títulos internacionais.”

Mas, como sempre, o sucesso tem suas adversidades. Caio diz que quando estão dançando em um baile gaúcho sente muitas vezes olhos de desdém de algumas pessoas: “Quando vamos num fandango, alguns não gostam do casal Caio e Vânia. Eu até compreendo, porque nós dançamos na pista como dançamos numa competição, não para aparecer, mas porque isso já é natural para nós. Às vezes comentam que queremos ser diferentes. Mas, nós fazemos aquilo que o nosso corpo e a nossa mente pedem. Não é porque queremos nos destacar em pista de baile. Nós queremos nos sentir a vontade com os outros. Mas o diferencial é apenas que a gente exercita mais e isso trás uma diferença na pista. A qual muitos admiram e muitos não veem com bons olhos”, desabafa Caio.



O misto de dedicação e talento da dupla são-borjense lhes rendeu a entrada no balé Cruz de Papel, da cidade de Curuzú Cuatiá, na Argentina. O grupo é composto por 40 casais correntinos e um brasileiro e é visto como um dos mais representativos da Argentina. Há treze anos se apresentam como o balé oficial no Festival Mundial de Chamamé. A iniciação nesta companhia fez com que tivessem a necessidade de uma carga mais rigorosa de ensaios, mais concentração nos passos, pois o grupo trabalha com Chamamés coreografados e sincronizados; diferente das danças dos bailes gaúchos. “A partir do momento que passamos a fazer parte desse balé, daí sim, nós começamos a praticar a dança artística mesmo. O Chamamé começou a fazer parte do nosso dia-a-dia em trabalhos específicos de coreografias.”

Cada vez mais aumenta para a dupla os compromissos com a dança. As viagens para o país vizinho há tempos não são mais novidade. Já se sentem meio argentinos meio brasileiros. Ao ponto de durante suas falas misturarem as duas línguas. Quando se dão conta estão conversando em “portunhol”.

“Ficamos felizes em saber que São Borja é a 1ª sub-sede de Chamamé, 1ª cidade a ter uma dupla campeã de Chamamé e é a 1ª cidade a integrar o ballet mundial por dois anos. E este é um trabalho nosso para São Borja. A dança para nós não é um baile, é um culto a Deus, ao Deus da musica, ao Deus do ritmo. Quando estamos a bailar nos sentimos em outra dimensão. Nós nos dedicamos a esta arte, a essa cultura com tanto amor. Nós não vamos competir por dinheiro, nós vamos competir principalmente por essa integração do Mercosul e para que seja conhecida a nossa arte fora do nosso país”, finaliza o casal.


13 abril 2015

Eduardo Galeano (1940-2015)



Nostalgia


Que saudade do tempo que passou... Que saudade daquela década. Que saudade dos anos 1990. Saudade da infância. Da inocência. Minha consciência se fez naqueles marcantes anos.

Saudade do Grunge, do Nirvana, do Pearl Jam. Da Legião. Dos Mamonas. Da Dance Music. Do El Simbolo. Da Laura Pausini. Da estreia da Shakira e dos Cds da Paradoxx. Saudade da Copa de 1994, quem não viu não sabe a emoção que perdeu. Do Senna. Dos Cavaleiros do Zodíaco. Dos primeiros tazzos e das tardes no fliperama.

Saudade das amigas da minha irmã reunidas aqui em casa. Do poso na casa dos amigos. Do futebol no fim de tarde no colégio das Freiras. Dos jogos da Ser Itaqui no Castelão. Da febre do Padel. Do Padel Mania, do Padel Play e do Ita Padel. Dos Estaduais. Da Mini Batucada. Dos carnavais de rua na Independência. Das Guerras de bexiguinha e dos bailes infantis no Clube Comercial.

Já fomos muito felizes.

Saudade do melhor tempo de nossas vidas.

18 março 2015

R.I.P Andy Fraser


Morreu um gigante, segunda-feira, 16 de março. Um dos mais talentosos baixistas da historia do rock mundial.

Sempre que vejo suas performances, cada vez mais me apaixono pelo som imprescindível e belo de um baixo.

Agora ele é literalmente Free.

04 março 2015

Todo mundo tem um sósia II

                          Cafu                       Roland Gift (Fine Young Cannibals)

"A fama é o excremento, a merda que sobra no final, o subproduto. Muitos pensam que isso é o principal. Para mim, o que importa é a criatividade." (Bruce Dickinson)

20 fevereiro 2015

04 fevereiro 2015

A voz calma do silêncio


Há artistas que são realmente difíceis de descrever, pois o impacto da arte é subjetivo. Cada um é tocado de forma diferente pela música. Muitos nem dão o mínimo tempo para ela. Outros a vivem. Mas para quem a ama, possui o privilégio de sentir a vida de outros prismas. Tamanha a aura que as canções carregam e te batem de uma forma arrepiante.

Sabes quando escutas algo que te faz acelerar o coração e te deixa sem fôlego? Que faz com que feche os punhos e cante junto.  E que durante a audição sentes uma mistura complexa de melancolia e alegria? Se já sentiste essa sensação entenderá o raciocínio.

Pois existe um artista, que ao escutar seus registros, proporciona-me essa avalanche de emoções. O nome dele é ANDREA BOCELLI. Um tenor italiano que merece todo o respeito. Independente de preferencias. Seu maior feito foi fazer com que a música clássica de tenor chegasse às massas. Conseguiu aproximar esse estilo tão séquito com a música popular mundial radiofônica. Tanto pela estrutura dos seus arranjos, quanto pelos duetos com artistas de reconhecimento.

Em meados dos anos 1990 fez muito sucesso no Brasil por fazer parte de trilha sonora de novela. Seu segundo álbum, “Romanza”, vendeu muito por aqui. Vide sucessos, como: Con te Partiro e Vivo per Lei.

Tenho retornado a infância ao escutar sua obra. É uma herança materna para mim. Mas somente agora entendo a potencia e o alcance de sua arte.

La Voce del Silenzio, Sogno, Il Mare Calmo de la Sera, Vivere e Canto de la Terra; são transcendentais.

Não poderia deixar escapar o desejo de escrever sobre Bocelli.

31 janeiro 2015

Adeus ao filho de Afrodite


Uma das vozes mais líricas e marcantes da música mundial calou-se no último 25 de janeiro. Demis Roussos, o grego barbudo, morreu em em um hospital particular em Atenas, aos 68 anos.

Seu timbre e potencia fez com que carimbasse sua voz nos anos de 1970. Ao lado de Vangelis e Loukas Sideras no trio progressivo Aphrodite’s Child, compôs,  tocou e cantou lindas canções como Rain and Tears; Spring, Summer,Winter and Fall; Marie Jolie; I Want to Live; It’s Five O’clock. Baladas que não perdiam em nada para os sucessos românticos dos Beatles.

Em carreira solo,  a partir de 1980, criou a eterna Forever and Ever. Uma das mais amorosas já escritas, que com certeza embalou muito casais apaixonados.

Como nossos pais, escutaremos sempre Demis Roussos. Em trilhas de filmes, de novelas, e em programas saudosistas de rádios AM. Mesmo não sabendo e no inconsciente, quando aquela voz de nuvem soar ela será intima.

A obra de Demis Roussos vai além de preferências, de rótulos e categorias frívolas. É universal, bela e ponto! Quem possui o minimo de sensibilidade é tocado pela magia de suas músicas.

Mais um veterano que se vai e deixa uma lacuna impreenchivel.

Repose en Paix.

14 janeiro 2015

Quintal de Clorofila: um marco do folk rock brasileiro


A internet é uma dádiva para nós jovens que não vivemos tempos que queríamos presenciar. Com ela podemos nos transportar aos anos pretéritos. Podemos escutar obras que marcaram gerações. Somente nessas viagens de garimpo podemos nos deparar, por exemplo, com grupos como QUINTAL DE CLOROFILA.

Quem é que escreve sobre alamedas, pinheiros e pirais? Somente os irmãos Arbo: Antonio Carlos, Negrende e Dimitri. Registros que é difícil de ver similares nos dias atuais. Ao lado de grupos lendários do folk rock gaúcho dos anos 1970, como OS TÁPES, ALMÔNDEGAS, UTOPIA, GRUPO TERRA VIVA, TAMBO DO BANDO e COURO, CORDAS E CANTOS; o duo Quintal de Clorofila se destacou com essa  jornada atmosférica chamada “Mistério dos Quintais”, lançado em vinil no ano de 1983.

Mistério dos Quintais é um dos álbuns mais ricos e inspiradores da discografia gaúcha do rock nacional. Possui uma sonoridade mística de sons universais. Psicodelia de São Francisco, música andina, medieval, latina, natureba, e até oriental.

A complexidade sonora e lírica é cativante. Leva-nos aos Montes Urais à Amazônia. À JETHRO TULL e PINK FLOYD até a bandas sonoras de filmes de Western. Há muito que perceber e sentir no Mistério dos Quintais.

Quintal de Clorofila é a prova de que o rock brasileiro sempre foi opulento e subestimado.

Há até um tributo aos Beatles em “Liverpool”.

Gosta de Jethro Tull? Ouça!

Quem tem esse LP possui uma pérola de cultura nas mãos.

“Ainda há esperanças em todos nós, pois nós sonhamos em querer viver.”


Quintal de Clorofila – O Mistério dos Quintais (1983)

1.      As Alamedas
2.      Jornada
3.      Drakkars
4.      Liverpool
5.      Gotas de Seresta
6.      Viver
7.      O Último Cigano
8.      Jardim das Delícias
9.      Balada da Ausência
10.  O Mistério dos Quintais



05 janeiro 2015

A Fleuma (ou Juliana)

Para Juliana Kulman

É ela
Só pode ser ela
Mesmo que não seja...
É ela

Tenho certeza que é ela
Porque só ela que não tem medo de expor
Seu apego
Sua preocupação
Sua possessão

Só ela que mostra o carinho verdadeiro
Os beijos de saudade
Os abraços de ligação

Quando estou com ela esqueço meus medos
Meus pensamentos invertidos
Meus boicotes
Minha covardia
Esqueço minha autodestruição

Quando estou com ela todas minhas agruras se elimina
Nos seus braços, no seu odor e no seu calor
É o portal para a paz e uma noite bem dormida

Quando não estou com ela perco o equilíbrio
E a recaída se aproxima
Por isso preciso dela do meu lado todo o dia.