21 fevereiro 2010

Contra o preconceito artístico

No dia 25 de Janeiro o músico e letrista gaúcho Nei Lisboa, em entrevista ao jornal Zero Hora, esboçou críticas severas à música gaúcha e ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Segundo ele, “tudo em torno” da música gauchesca lhe parece “muito ruim, estética, ideológica e musicalmente”. “A música gaúcha se torna intragável para qualquer pessoa mais esclarecida. (...).

Desde então a polêmica foi engendrada e músicos do gênero, obviamente, não gostaram nem um pouco da declaração do artista caxiense. João de Almeida Neto e César Oliveira rapidamente manifestaram-se com artigos defendendo suas artes e opiniões. Nei Lisboa, por sua vez, escreveu novo texto intitulado de Não aos “patrões da cultura”, acalentando ainda mais o bate-boca.

A apreciação de Nei Lisboa também, como centenas de gaúchos, deixou-me suficientemente intimidado ao ponto de comentar a discussão levantada.

Claro que qualquer tipo de juízo deve ser sempre considerado, afinal, esse é o propósito do pensamento livre. Porém, ele torna-se obtuso quando a crítica é dada de forma totalitária.

Considero-me uma pessoa esclarecida na medida em que respeito as raízes da qual faço parte e esboço as preferências musicais que bem entendo. Minha ecleticidade permite ir da Música Gaúcha Nativista ao Heavy Metal. Não há mais limites. Já foi o tempo em que se buscava uma identidade única.

Qual é o problema de exaltar e cultivar a cultura e o folclore de onde se pertence? Porque não podemos ser orgulhosos da terra onde nascemos e universal ao mesmo tempo? Tenho certeza que muitos músicos que cantam o nativismo possuem essa qualidade, assim como Nei Lisboa também demonstra ao expressar suas produções.

Duvido que Nei Lisboa nunca tenha escutado e considerado admiráveis obras de talentosos como Noel Guarany, Mário Barbará, Luis Carlos Borges, Jayme Caetano Braun; enfim, entre tantos porta-vozes da música regional gaúcha. Engano meu ou Nei Lisboa nunca tocou nas suas músicas em costumes do seu povo, como por exemplo, o chimarrão?

E quanto ao MTG qual o desmerecimento em acarretar normas de qualquer movimento que se disponha a seguir.

Soa clichê, mas é preciso ponderar antes de generalizar. Pois pode se tornar ofensa a quem pensa o oposto.

19 fevereiro 2010

Chega de carnaval!

Quarta–feira de cinzas é um dia que não precisava existir. Nem merece ser vivido. Serve somente para dormir... hibernar para relaxar os músculos que latejam e recuperar os dias e noites de mal sono.

Agora que a euforia já passou e de já estar de saco cheio de carnaval é preciso dar jeito no futuro. Existem coisas mais importantes que ficar cinco dias bebendo e dando gargalhadas resultantes de boas convivências. É ótimo, mas cansa.

Vamos começar agora!

10 fevereiro 2010

Eu até posso estar parecendo um chato, mas é intensamente difícil para mim ouvir e ver a Legião Urbana, e, principalmente, o Renato Manfredini Junior. A emoção e as lágrimas são inevitáveis. A admiração por sua obra e personalidade é clara. Foi, sem contestações, nosso poeta definitivo. Nosso Jim Morrison ou Ian Curtis.

Muitos homofóbicos (as) insistem, até hoje, em não enxergá-lo e não percebê-lo como um mensageiro das coisas que pensamos e a importância dele para nós, esse exército urbano complexo e quase sempre triste.

02 fevereiro 2010

Renato Russo: 13 anos de carência


Esqueça por uns minutos a felicidade. Esqueça esse verão e os sorrisos. Como podemos ser tão egoístas ao ponto de dizer que estamos bem afortunados. Do que adianta. Pense nos famintos! Será que eles estão tão felizes?

Escute a Legião Urbana. Será que já se esqueceram dela... Do Renato? Pensador que abria nossos olhos! Letrista de uma sinceridade corajosa... Despudorada. Pela personalidade que possui, se não tivesse morrido por doença teria se matado fisicamente ou quimicamente... De vergonha da realidade. Nada mudou. Mesmo assim ele faz falta... Por pelo menos sonhar com a mudança.

Sempre que escuto Legião tenho vontade de chorar, e em algumas vezes acabo chorando mesmo, tamanha a emoção ao escutar as palavras de um coração tão aberto.

"É a verdade que assombra, o descaso que condena, e a estupidez o que destrói..."


Perfeição
(Renato Russo)

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escola
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e seqüestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda hipocrisia e toda afetação
Todo roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã.

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão.

Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção.

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão.

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera -
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição.

Essa diz tudo!!