Que
São Borja sempre foi berço de músicos e poetas de qualidade todo mundo sabe. Na
música gaúcha, principalmente. Mas, que além do grupo Os Angüeras, existiram
muitos mais conjuntos nativistas na cidade, não é do conhecimento de muitos. Ou,
simplesmente, a lembrança está nos vultos do esquecimento. Por ser pátria de
muitos artistas é normal que a cidade tenha tido muitos grupos nativistas em
sua história musical. Mesmo que muitos de passagem rápida.
O
Grupo Garrão de Potro foi um desses.
Nasceu, na verdade, de três garrões, em 1984. Os fundadores foram: José Inácio
Pereira (o Zeca, na gaita e esporadicamente no vocal), o João Carlos Souza
(cantor e violonista), e o Milton Monteiro (no bumbo leguero).
Foi
dentro do Centro Nativista Boitatá que o conjunto nasceu, e à casa representava.
Tocavam essencialmente a música nativa. Não chegaram a ter composições próprias.
Portanto, só executavam os temas que estavam fazendo sucesso no momento.
Vantuir Cáceres, que também fez parte do Garrão, explica: “Nós tocávamos as
mais tradicionais daqui, inclusive as da Ronda de São Pedro, e as do resto do
Estado. Tudo do nativismo. Não era a nossa função animar baile. Até porque os
instrumentos no início eram só bumbo leguero, violão e gaita.” Cáceres entrou
no grupo somente em 1991 e foi sua primeira experiência de músico fora de casa.
Nem pensava em compor ainda.
O
Zeca, que era o gaiteiro da Invernada do Boitatá e um dos criadores do
conjunto, descreve a passagem de como que o Cáceres entrou na jogada. “Eu
encontrei ele lá no parque de exposições, no festival do Clarim. O Clarim foi
um festival daqui de São Borja, que teve só um ano. Nós precisávamos de um
baixista e me falaram: Tem um guri aí que encaixa. Na época o Cáceres tocava
violão ainda. E ele dizia: Ah! mas eu não vou conseguir. E eu retrucava: Tu vai
conseguir! Aí começamos a ensaiar. Ele ficou na banda e acabou se tornando o
grande baixista que é hoje.”
O
Cáceres apresenta sua versão: “Eu conheci o Zeca através da Invernada do Boitatá. Eu comecei a tocar
nesse grupo de dança que ele era o gaiteiro, e então, me estendeu o convite
para tocar no Garrão de Potro”.
Muitos
outros artistas também tertuliaram no conjunto, dentre eles: Flávio Campos
Sartori, Júlio Cruz, João Barbosa, João Pedro Rocha, Sgt. Pimentel, Wilson e
Mingo Moura.
As
informações tornam-se confusas, mas ambos – o Zeca e o Cáceres – entram em consenso
quando afirmam que o grupo foi bastante ativo. Que fizeram muitos shows,
mateadas, na cidade e na Argentina. “Enquanto eu estava no grupo lembro que as
apresentações eram mais na cidade e em Santo Tomé. Nós íamos para Apóstoles, e
às vezes nos convidavam para tocar em algumas fazendas na Argentina. O Boitatá
ia e nós levávamos o musical também, para fazer as honras”, recorda Cáceres.
Zeca
conta que a diretoria do Boitatá pedia muito o show: “Eles davam apoio para
nós”. Que faziam muitas apresentações fora das dependências do Boitatá também e
que animaram muitas festas particulares. “Começamos como uma brincadeira, o
pessoal foi se agradando e fomos ficando conhecidos.”
Quando
fala a palavra Apóstoles, Zeca abre um sorriso no rosto: “Íamos seguido na
Argentina, em Apóstoles - no festival da Erva Mate lá. Foram shows grandes
aqueles”. - Foi bonito lá? “Bah! Era um festival grande. E davam muito valor
para o pessoal de fora. Foi marcante mesmo.”
Na
Ronda se apresentaram nas primeiras edições. Não com temas de autoria própria,
mas sim como grupo de apoio. “Participamos duas vezes da Ronda. Não chegamos a
sermos premiados. Tocávamos com o seu Munhoz (já falecido), que era da Polícia
Federal. Ele fazia a letra e nós o acompanhávamos”, lembra Zeca. Cáceres
acrescentou que chegaram a inscrever uma composição, mas que não passou na
triagem.
Tinham
até pilcha, camiseta e moletom personalizados. Todos com o logotipo do grupo marcado
nas vestes.
Infelizmente,
como acontece em muitos conjuntos, o caminho de cada integrante começou a
pender para o oposto. A patronagem do Boitatá trocou. Cada um foi para um lado
e as atividades foram diminuindo.
Quanto
à duração precisa do Garrão não se tem certeza. Mas foi aproximadamente por
cerca de nove anos. De 1984 a 1993, por aí. Depois, de alguns remanescentes do
Garrão, surgiu o Musical Boitatá; mas daí é história pra outra edição.
Tu tens mais alguma lembrança daquela época do grupo Garrão
de Potro? Era bom aquele tempo? “Bah! Melhor época que teve. Melhor época do
Boitatá. Qualquer coisinha era churrasco e tocávamos toda a noite. E baile
tinha seguido. Todo o final de semana” finaliza Zeca, em tom saudosista.
Grupo Garrão de Potro
se apresentando na Mostra musical
Cometa Poesia, no CN Boitatá. Flavio Sartori (violão), Zeca (gaita) e João
Pedro Rocha (Leguero). Foto: Arquivo Flávio Sartori