21 dezembro 2012

Ode a Brian Jones



Porque foste há muito tempo?
Anjo loiro
Tão cedo

Deixou o real
Para brilhar no mundo celestial
Que aqui já cintilava através do seu rosto peculiar
Da sua aura de criança

Deixou-nos órfãos da sua presença sedutora
Do seu sorriso cativante
Do estilo próprio

Ficou a vontade de mais
De mais criações
Mais notas
Mais aparições do encanto loiro

Perdemos o tempero do som
O pôr do sol amarelo
O stoneano multitalentoso

Estímulo por Rimbaud



A escrita é a história
É a alma transfigurada em memória
A personalidade golfada
O estilo em excesso

Escrever é revelar-se
Os bons e corajosos: sem pudor e indiferentes
A transcendência pelas experiências
E pelos pensamentos do próprio tempo

É viver liberto
Das convenções febris
Das obrigações descontentes
E sim, aproveitar dos prazeres suspirantes e indecentes.

20 dezembro 2012


Vivemos sempre no limite. No limite da dor. No limite de uma felicidade. No limite de um amor. No limite da alienação. No limite dos prazeres e das consequências deles. No limite da estafa, das chagas mentais. No limite de não levantar. No limite da aparição de um motivo.  No limite da morte. No limite de querer evaporar.

08 dezembro 2012


A música pesada é necessária muitas vezes durante os dias. Ela liberta nossas chagas. O metal é como um tiro no sofá. Como porradas com toda a vontade num saco de boxe. Serve pra expelir nossos problemas, nossa confusão, nossos medos. Faça força! Coragem! Os dias passam, de qualquer maneira. Sobreviveremos, apesar dos tumultos internos. Vai ver somos todos uma farsa!



Como pode The Cure ser tão bom! A voz do Robert Smith é exclusiva.


Equilíbrio


Não vou enlouquecer!
Não vou!
Enquanto tiver meus álbuns,
Meus livros,
Meus amigos verdadeiros.

Não devo enlouquecer.
Tenho minha mente pra pensar,
Pra domar,
Meus medos pra vencer
E meus dedos pra escrever

Não enlouquecerei, definitivamente.
Enquanto tiver meus Deuses pra me encorajar,
Minhas comidas pra fazer,
As louças sujas pra lavar,
E ela pra me despertar.

Recordações acerca de um Garrão de Potro


Que São Borja sempre foi berço de músicos e poetas de qualidade todo mundo sabe. Na música gaúcha, principalmente. Mas, que além do grupo Os Angüeras, existiram muitos mais conjuntos nativistas na cidade, não é do conhecimento de muitos. Ou, simplesmente, a lembrança está nos vultos do esquecimento. Por ser pátria de muitos artistas é normal que a cidade tenha tido muitos grupos nativistas em sua história musical. Mesmo que muitos de passagem rápida.

O Grupo Garrão de Potro foi um desses. Nasceu, na verdade, de três garrões, em 1984. Os fundadores foram: José Inácio Pereira (o Zeca, na gaita e esporadicamente no vocal), o João Carlos Souza (cantor e violonista), e o Milton Monteiro (no bumbo leguero).

Foi dentro do Centro Nativista Boitatá que o conjunto nasceu, e à casa representava. Tocavam essencialmente a música nativa. Não chegaram a ter composições próprias. Portanto, só executavam os temas que estavam fazendo sucesso no momento. Vantuir Cáceres, que também fez parte do Garrão, explica: “Nós tocávamos as mais tradicionais daqui, inclusive as da Ronda de São Pedro, e as do resto do Estado. Tudo do nativismo. Não era a nossa função animar baile. Até porque os instrumentos no início eram só bumbo leguero, violão e gaita.” Cáceres entrou no grupo somente em 1991 e foi sua primeira experiência de músico fora de casa. Nem pensava em compor ainda.

O Zeca, que era o gaiteiro da Invernada do Boitatá e um dos criadores do conjunto, descreve a passagem de como que o Cáceres entrou na jogada. “Eu encontrei ele lá no parque de exposições, no festival do Clarim. O Clarim foi um festival daqui de São Borja, que teve só um ano. Nós precisávamos de um baixista e me falaram: Tem um guri aí que encaixa. Na época o Cáceres tocava violão ainda. E ele dizia: Ah! mas eu não vou conseguir. E eu retrucava: Tu vai conseguir! Aí começamos a ensaiar. Ele ficou na banda e acabou se tornando o grande baixista que é hoje.”

O Cáceres apresenta sua versão: “Eu conheci o Zeca através da Invernada do Boitatá. Eu comecei a tocar nesse grupo de dança que ele era o gaiteiro, e então, me estendeu o convite para tocar no Garrão de Potro”.

Muitos outros artistas também tertuliaram no conjunto, dentre eles: Flávio Campos Sartori, Júlio Cruz, João Barbosa, João Pedro Rocha, Sgt. Pimentel, Wilson e Mingo Moura.

As informações tornam-se confusas, mas ambos – o Zeca e o Cáceres – entram em consenso quando afirmam que o grupo foi bastante ativo. Que fizeram muitos shows, mateadas, na cidade e na Argentina. “Enquanto eu estava no grupo lembro que as apresentações eram mais na cidade e em Santo Tomé. Nós íamos para Apóstoles, e às vezes nos convidavam para tocar em algumas fazendas na Argentina. O Boitatá ia e nós levávamos o musical também, para fazer as honras”, recorda Cáceres.

Zeca conta que a diretoria do Boitatá pedia muito o show: “Eles davam apoio para nós”. Que faziam muitas apresentações fora das dependências do Boitatá também e que animaram muitas festas particulares. “Começamos como uma brincadeira, o pessoal foi se agradando e fomos ficando conhecidos.”

Quando fala a palavra Apóstoles, Zeca abre um sorriso no rosto: “Íamos seguido na Argentina, em Apóstoles - no festival da Erva Mate lá. Foram shows grandes aqueles”. - Foi bonito lá? “Bah! Era um festival grande. E davam muito valor para o pessoal de fora. Foi marcante mesmo.”

Na Ronda se apresentaram nas primeiras edições. Não com temas de autoria própria, mas sim como grupo de apoio. “Participamos duas vezes da Ronda. Não chegamos a sermos premiados. Tocávamos com o seu Munhoz (já falecido), que era da Polícia Federal. Ele fazia a letra e nós o acompanhávamos”, lembra Zeca. Cáceres acrescentou que chegaram a inscrever uma composição, mas que não passou na triagem.

Tinham até pilcha, camiseta e moletom personalizados. Todos com o logotipo do grupo marcado nas vestes.

Infelizmente, como acontece em muitos conjuntos, o caminho de cada integrante começou a pender para o oposto. A patronagem do Boitatá trocou. Cada um foi para um lado e as atividades foram diminuindo.

Quanto à duração precisa do Garrão não se tem certeza. Mas foi aproximadamente por cerca de nove anos. De 1984 a 1993, por aí. Depois, de alguns remanescentes do Garrão, surgiu o Musical Boitatá; mas daí é história pra outra edição.

Tu tens mais alguma lembrança daquela época do grupo Garrão de Potro? Era bom aquele tempo? “Bah! Melhor época que teve. Melhor época do Boitatá. Qualquer coisinha era churrasco e tocávamos toda a noite. E baile tinha seguido. Todo o final de semana” finaliza Zeca, em tom saudosista.



Grupo Garrão de Potro se apresentando na Mostra musical Cometa Poesia, no CN Boitatá. Flavio Sartori (violão), Zeca (gaita) e João Pedro Rocha (Leguero).  Foto: Arquivo Flávio Sartori