21 dezembro 2012

Ode a Brian Jones



Porque foste há muito tempo?
Anjo loiro
Tão cedo

Deixou o real
Para brilhar no mundo celestial
Que aqui já cintilava através do seu rosto peculiar
Da sua aura de criança

Deixou-nos órfãos da sua presença sedutora
Do seu sorriso cativante
Do estilo próprio

Ficou a vontade de mais
De mais criações
Mais notas
Mais aparições do encanto loiro

Perdemos o tempero do som
O pôr do sol amarelo
O stoneano multitalentoso

Estímulo por Rimbaud



A escrita é a história
É a alma transfigurada em memória
A personalidade golfada
O estilo em excesso

Escrever é revelar-se
Os bons e corajosos: sem pudor e indiferentes
A transcendência pelas experiências
E pelos pensamentos do próprio tempo

É viver liberto
Das convenções febris
Das obrigações descontentes
E sim, aproveitar dos prazeres suspirantes e indecentes.

20 dezembro 2012


Vivemos sempre no limite. No limite da dor. No limite de uma felicidade. No limite de um amor. No limite da alienação. No limite dos prazeres e das consequências deles. No limite da estafa, das chagas mentais. No limite de não levantar. No limite da aparição de um motivo.  No limite da morte. No limite de querer evaporar.

08 dezembro 2012


A música pesada é necessária muitas vezes durante os dias. Ela liberta nossas chagas. O metal é como um tiro no sofá. Como porradas com toda a vontade num saco de boxe. Serve pra expelir nossos problemas, nossa confusão, nossos medos. Faça força! Coragem! Os dias passam, de qualquer maneira. Sobreviveremos, apesar dos tumultos internos. Vai ver somos todos uma farsa!



Como pode The Cure ser tão bom! A voz do Robert Smith é exclusiva.


Equilíbrio


Não vou enlouquecer!
Não vou!
Enquanto tiver meus álbuns,
Meus livros,
Meus amigos verdadeiros.

Não devo enlouquecer.
Tenho minha mente pra pensar,
Pra domar,
Meus medos pra vencer
E meus dedos pra escrever

Não enlouquecerei, definitivamente.
Enquanto tiver meus Deuses pra me encorajar,
Minhas comidas pra fazer,
As louças sujas pra lavar,
E ela pra me despertar.

Recordações acerca de um Garrão de Potro


Que São Borja sempre foi berço de músicos e poetas de qualidade todo mundo sabe. Na música gaúcha, principalmente. Mas, que além do grupo Os Angüeras, existiram muitos mais conjuntos nativistas na cidade, não é do conhecimento de muitos. Ou, simplesmente, a lembrança está nos vultos do esquecimento. Por ser pátria de muitos artistas é normal que a cidade tenha tido muitos grupos nativistas em sua história musical. Mesmo que muitos de passagem rápida.

O Grupo Garrão de Potro foi um desses. Nasceu, na verdade, de três garrões, em 1984. Os fundadores foram: José Inácio Pereira (o Zeca, na gaita e esporadicamente no vocal), o João Carlos Souza (cantor e violonista), e o Milton Monteiro (no bumbo leguero).

Foi dentro do Centro Nativista Boitatá que o conjunto nasceu, e à casa representava. Tocavam essencialmente a música nativa. Não chegaram a ter composições próprias. Portanto, só executavam os temas que estavam fazendo sucesso no momento. Vantuir Cáceres, que também fez parte do Garrão, explica: “Nós tocávamos as mais tradicionais daqui, inclusive as da Ronda de São Pedro, e as do resto do Estado. Tudo do nativismo. Não era a nossa função animar baile. Até porque os instrumentos no início eram só bumbo leguero, violão e gaita.” Cáceres entrou no grupo somente em 1991 e foi sua primeira experiência de músico fora de casa. Nem pensava em compor ainda.

O Zeca, que era o gaiteiro da Invernada do Boitatá e um dos criadores do conjunto, descreve a passagem de como que o Cáceres entrou na jogada. “Eu encontrei ele lá no parque de exposições, no festival do Clarim. O Clarim foi um festival daqui de São Borja, que teve só um ano. Nós precisávamos de um baixista e me falaram: Tem um guri aí que encaixa. Na época o Cáceres tocava violão ainda. E ele dizia: Ah! mas eu não vou conseguir. E eu retrucava: Tu vai conseguir! Aí começamos a ensaiar. Ele ficou na banda e acabou se tornando o grande baixista que é hoje.”

O Cáceres apresenta sua versão: “Eu conheci o Zeca através da Invernada do Boitatá. Eu comecei a tocar nesse grupo de dança que ele era o gaiteiro, e então, me estendeu o convite para tocar no Garrão de Potro”.

Muitos outros artistas também tertuliaram no conjunto, dentre eles: Flávio Campos Sartori, Júlio Cruz, João Barbosa, João Pedro Rocha, Sgt. Pimentel, Wilson e Mingo Moura.

As informações tornam-se confusas, mas ambos – o Zeca e o Cáceres – entram em consenso quando afirmam que o grupo foi bastante ativo. Que fizeram muitos shows, mateadas, na cidade e na Argentina. “Enquanto eu estava no grupo lembro que as apresentações eram mais na cidade e em Santo Tomé. Nós íamos para Apóstoles, e às vezes nos convidavam para tocar em algumas fazendas na Argentina. O Boitatá ia e nós levávamos o musical também, para fazer as honras”, recorda Cáceres.

Zeca conta que a diretoria do Boitatá pedia muito o show: “Eles davam apoio para nós”. Que faziam muitas apresentações fora das dependências do Boitatá também e que animaram muitas festas particulares. “Começamos como uma brincadeira, o pessoal foi se agradando e fomos ficando conhecidos.”

Quando fala a palavra Apóstoles, Zeca abre um sorriso no rosto: “Íamos seguido na Argentina, em Apóstoles - no festival da Erva Mate lá. Foram shows grandes aqueles”. - Foi bonito lá? “Bah! Era um festival grande. E davam muito valor para o pessoal de fora. Foi marcante mesmo.”

Na Ronda se apresentaram nas primeiras edições. Não com temas de autoria própria, mas sim como grupo de apoio. “Participamos duas vezes da Ronda. Não chegamos a sermos premiados. Tocávamos com o seu Munhoz (já falecido), que era da Polícia Federal. Ele fazia a letra e nós o acompanhávamos”, lembra Zeca. Cáceres acrescentou que chegaram a inscrever uma composição, mas que não passou na triagem.

Tinham até pilcha, camiseta e moletom personalizados. Todos com o logotipo do grupo marcado nas vestes.

Infelizmente, como acontece em muitos conjuntos, o caminho de cada integrante começou a pender para o oposto. A patronagem do Boitatá trocou. Cada um foi para um lado e as atividades foram diminuindo.

Quanto à duração precisa do Garrão não se tem certeza. Mas foi aproximadamente por cerca de nove anos. De 1984 a 1993, por aí. Depois, de alguns remanescentes do Garrão, surgiu o Musical Boitatá; mas daí é história pra outra edição.

Tu tens mais alguma lembrança daquela época do grupo Garrão de Potro? Era bom aquele tempo? “Bah! Melhor época que teve. Melhor época do Boitatá. Qualquer coisinha era churrasco e tocávamos toda a noite. E baile tinha seguido. Todo o final de semana” finaliza Zeca, em tom saudosista.



Grupo Garrão de Potro se apresentando na Mostra musical Cometa Poesia, no CN Boitatá. Flavio Sartori (violão), Zeca (gaita) e João Pedro Rocha (Leguero).  Foto: Arquivo Flávio Sartori

14 setembro 2012

Urbano, mas de coração e gene campeiro



É de apertar a garganta, de lacrimar de agradecimento por ser dessa terra. De viver num chão que tem história, não tão clara... De dor, mas, sobretudo, de audácia. De amor por nutrir os costumes que nos passaram.

É de agradecer cada nota dedilhada pelo coração nos dedos, cada melodia de cordas e de gaita de cada músico que transpira a tradição. Gratidão por cada som de voz, cada força de expressão do âmago dos nossos cantores. Cada palavra, cada oração, sentido, raio de luz de inspiração dos nossos poetas mensageiros. Cada dialeto, cada semblante triste, feliz, enrugado, dos homens simples e de honra. Obrigado a cada tropeiro. Cada aroma de terra, de pasto, de noite. Todos os sons de silencio do campo, da serenata dos grilos.

Obrigado aos nossos antepassados. Aos que não deixam morrer nossa narrativa. Nosso jeito. Nossos valores. Obrigado, a todos os Homens e Mulheres daqui. Guerreiros.


Orgulho. Não só nessa semana, mas sempre!

05 setembro 2012


Não tenho mais medo da obrigação de produzir. Não forço mais a criação. Deixo que ela venha e bata na minha mente, de supetão. Afinal, meu tempo não é aquele: frenético. E sim esse: de contemplação e reflexão.

Enquanto isso admiro a ponta rubra reluzente do meu palheiro acesso. Companheiro fiel das noites ventosas de boa solidão.

31 agosto 2012

Antagônico


Fujo das regras técnicas
Prezo pela liberdade criativa
Pela licença poética

Por que não ser um dadaísmo?
Imprevisível
Não ter a obrigação de fazer sentido
Só pelo instinto

Obedecer a vertente da mente
As artérias do coração
Com as melhores intenções
Só queremos deitar serenamente

Ter boas noites de sono nessa vida
No escuro ter a sensação de prazer pelo dia
Agradecer os privilégios, as pessoas, os sorrisos, as empatias.
Relembrar os acasos...

Os superávits dos dias raros
Os bons dias sorridentes
O que vale a pena
Os que valem a pena

O que nos dá a sensação de utilidade... de prosperidade.

29 agosto 2012

Sem sentido pra ti, com sentido pra mim


De bucho cheio, sento e penso se escrevo. Sobre o que? É preciso ter ação e emoção nos dias para sentir disposição de criar. Agora, apenas obedeço ao fluxo do pensamento vazio. Rodeado de sons cruzo as mãos e deixo fluir meus dedos a apertarem as teclas, que respondem a mente e a razão, ao objetivo de apenas vomitar palavras sem hesitação. Divagando me vejo. Nos dias. No futuro inevitável e desconhecido. Na monotonia da abstinência dos prazeres. No esforço de cumprir a rotina.

Atenho-me na chegada das horas de excitação. Nas horas de esquecimento dos medos. Nessas horas penso que realmente vivemos. Quando algo nos enche de satisfação. Porque não existimos para agonizar na pressão desse modelo de vida de imposição de aparências. Oposto às regras. Façamos mais o que gostamos!

21 agosto 2012


Quem pode contar com uma família unida tem mais chances de ter momentos felizes na vida.


18 junho 2012

Os Dinâmicos inesquecíveis



Quando perguntamos para um são-borjense do meio musical da cidade, quais eram as bandas que São Borja teve no passado; certamente ele vai citar o nome Os Dinâmicos. Isso porque esse grupo fez história. E uma longa história.

Os Dinâmicos foi um dos grupos de baile seminais de São Borja. Antecede Os Soprantes e Os Sheiks. Foi o berço de muitos músicos da cidade e talvez o grupo são-borjense que ficou mais tempo em atividade.

A banda surgiu na metade da década de 1960, no bairro do Passo. Bairro conhecido como um dos que mais revelaram e revela músicos e bandas de qualidade, por conta da presença das bandas de escola. E Foi a partir de uma, a Banda do Colégio Olavo Bilac (antiga Banda Cesar Pitoni, e hoje, Banda Municipal Tusnelda Lima Barbosa), que Alberto Roque Matoso (sax), Errol Nunes Caetano (trombone) e Algemiro Moiano Ribeiro (mais conhecido como Canário - bateria); se aventuraram a criar um conjunto próprio para baile. Na época, a diretora da escola era a professora Tusnelda Lima Barbosa, que acabaria sendo a figura chave para a fundação da banda.

Alberto Roque Matoso, um dos criadores do grupo conta como foi o inicio de tudo: “A nossa turma era toda da banda do colégio e quando eu levei para a professora Tusnelda o projeto de fundar o conjunto pra baile, ela nos deu todo o apoio; desde que a turma fosse toda da banda do Olavo Bilac. Agradeço muito a ela, até hoje”.

Matoso lembra que os instrumentos que a banda tocava eram todos da banda do colégio. Ela, a professora Tusnelda, emprestava os instrumentos e também uma sala de aula para fazerem os ensaios: “Nós ensaiávamos numa sala do Olavo Bilac. Terminava a aula às cinco e meia, então ensaiava a banda da escola, e quando terminava o ensaio da banda da escola era a vez d’Os Dinâmicos”.

Uma das primeiras formações da banda, além do Matoso, do Errol Nunes Caetano e do Canário, completavam a equipe o Joel Nascimento (contrabaixo), José Alves e Luis Ferreira Jardim (Pato). Nessa época, bem no inicio, Matoso conta que a banda não tinha instrumentos eletrônicos, só tinham bateria, bumbo, surdo, caixa, instrumentos da banda do colégio mesmo. Tocavam somente música orquestrada. A partir daí que surgiram Os Dinâmicos. “Não tínhamos meios financeiros. Não tínhamos instrumentos. Tudo era da banda do colégio. Bateria não tinha. Mas tínhamos um bumbo, que ela nos permitiu fazer um furo pra colocar um prato. O Canário tocava no Clube Comercial nas boates sentado num engradado de Coca Cola, porque não tinha banco. Só bem depois que a banda foi modificando e se profissionalizando. Fomos evoluindo aos poucos”, lembra o fundador e líder do conjunto.

Uma recordação interessante que Matoso compartilhou é de que a banda, na época da escola ainda, se locomovia por meio do transporte urbano mesmo: “(...) tinha um ponto de ônibus bem na frente da escola. Cada um pegava seu instrumento, eu pegava o sax, o João Carlinhos pegava o trompete dele, o Canário pegava um bumbo, uma caixa e um prato, subíamos no ônibus e íamos tocar no comercial. Na época a gente não tinha esses recursos. A gente descia do ônibus, carregávamos os instrumentos e íamos tocar no clube.”

 Os Dinâmicos nos seus primeiros anos


Com o passar do tempo, Os Dinâmicos foram sendo requisitados cada vez mais para se apresentarem.
“Nós começamos tocando em bailes no Clube Fraternidade, depois subimos para o Clube Recreativo e lá tocamos durante 25 carnavais consecutivos; só bem depois passamos a tocar no Clube Comercial. Até irmos tocar no Recreativo a gente não tinha tocado carnaval ainda, a gente tocava em bailes. Nosso conjunto era um grupo de baile”, explica Matoso.

Os Dinâmicos presenciaram e animaram por toda a sua existência os bailes da cidade. As festas macabras, a famosa fase das luzes negras (em que as roupas brilhavam no escuro), os bailes dos bichos, as reuniões dançantes nos domingos, as apresentações nas escolas... Também embalaram sempre o carnaval da cidade, tanto o de rua, como o de salão. Isso em tempos em que os bailes de carnaval tinham mais glamour. Na época em que começavam a meia-noite e acabavam às cinco da manhã. Do tempo que os grupos puxavam os blocos das ruas e adentravam no salão com os foliões pulando. Quando os integrantes dos conjuntos se diferenciavam do público pelas roupas e fantasias coloridas. Uma época áurea que foi se dissipando aos poucos.

Os Dinâmicos no ano de 1972, em mais uma de suas famosas entradas no carnaval do Clube Recreativo: Errol Nunes Caetano, Zé de Sousa, Matoso e João Moiano


O grupo tocava em toda a região. Em Itaqui, Uruguaiana, São Luiz Gonzaga, Jaguari, Alegrete, Santo Antônio das Missões. “Fazíamos toda essa região. E em épocas difíceis que não tinham estrada. Para irmos tocar num baile em Jaguari, nós levávamos quase um dia para chegar. Viajávamos em duas Kombis, uma carregando o pessoal e a outra os instrumentos”, recorda Matoso.

Foram muitas vezes contratados para se apresentarem para nossos hermanos também. Fizeram muitos shows em Posadas e em Santo Tomé, essa principalmente. Acabava o carnaval daqui e iam animar o de lá.

Nessa época, os bailes com conjunto eram muito mais frequentes do que hoje. Até pelo fato do som mecânico não ter chegado ainda. A demanda exigia dedicação: “Nós ensaiávamos na minha casa, até quatro horas por dia. Isso todos os dias da semana. Tocávamos quarta, sábado e domingo. Mas naquela época era muito melhor do que agora. Hoje a coisa anda mais difícil pra música. Existiam muito mais clubes em São Borja. O mercado era muito grande. A gente não vencia. Chegamos até recusar contratos”, conta Matoso.

Por ser um conjunto de baile, o repertório d’Os Dinâmicos era variado. Tocavam os sucessos do momento da música nacional e internacional. The Fevers, Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, eram só algumas das bandas que tocavam. Matoso conta também que trouxe três músicos de Santo Tomé para tocar na banda; um cantor, um tecladista e um contrabaixista. Isso com o intuito de executar músicas da banda uruguaia Los Iracundos, que fazia muito sucesso na época. A lambada e os sambas-enredo das escolas do Rio de Janeiro faziam parte da lista de músicas também.

No carnaval, obviamente, tocavam só samba. Na época não existia o axé music. As músicas de artistas locais, as que concorriam nos festivais de músicas para o carnaval da cidade, o grupo incluía no repertório.  “Digamos que 30% do repertório d’Os Dinâmicos eram musicas daqui de São Borja, de autores daqui, defendidas por nós no festival ou não. A vencedora marcha, a vencedora samba, as vezes alguma outra lá que não ganhava mas que achávamos que era melhor da que ganhava. Todas essas nós colocávamos no repertório,  como por exemplo: o samba “Dia - a – Dia”, do Clemar Dias. Foi um samba que marcou. Nós tocávamos essa música sempre. Daí a  importância desse festival”,

Não fosse pelas fotografias, seria muito difícil recordar detalhes sobre a banda. Mesmo com as fotos, Matoso tem dificuldade de lembrar do nome de todos os integrantes que passaram pela banda. Afinal, pelas suas contas, passaram 63 músicos pelos Dinâmicos, em todos esses anos de história. “Dos que iniciaram comigo, somente dois não saíram. Da época da fundação só o Canário e o Caetano que foram até o final, os outros foram sempre trocando.”

Muitos músicos são-borjenses participaram d’Os Dinâmicos. Nomes como: Lady Mendonça, Alfredo Ramos, Joel Nascimento, João Moiano Ribeiro, Mário Nei Bitencourt, Dorival Pimentel, Adalberto de Oliveira, Paulo Vicente, João Carlos Lopes, Luis Ferreira Jardim, José Alves, Eraldo, Vitor Ramires, Luiz Eriberto Brum, Jorge Dornelles, César Lindemeyer, José Nairo, Paulo Pires, Roberto Durão, Claudia Durão, Zé de Souza, entre muitos outros.

 O conjunto numa de suas inúmeras formações, no palco do Clube Esperança: Mário Nei Bittencourt, Sérgio Sousa, Cláudia Durão, Canário, Roberto Durão, Lady Mendonça, Matoso e João Moiano


Faltavam músicos na banda, Matoso ia sempre atrás. “O grupo teve integrantes de outras cidades, de Porto Alegre, Santa Maria, Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga, Itaqui e Uruguaiana. Até um uruguaio e um carioca cantaram na banda. De Uruguaiana nós tivemos o Caco, um tecladista cego, até hoje não conheci um melhor que ele; o Antão, tecladista e gaiteiro; e o Nonato, que cantava um samba como ninguém. De Itaqui veio o Sérgio Wagner de Sousa (atualmente toca nos Angüeras e acompanha o Mário Barbará), o Dodô (contrabaixista), o Sapo (Anadir Bacelar).”

Na década de 1970, existiu uma grande ligação entre Os Dinâmicos, Os Soprantes e Os Sheiks. Um foi dando surgimento ao outro. Através da troca que ocorria de integrantes entre as três bandas. Matoso recorda até de uma ocasião de solidariedade que ocorreu certa vez: “Os Sheiks, uma época, estava se apresentando no Clube Fraternidade nos sábados. Num desses bailes, o conjunto se acidentou na vinda, na esquina do Posto Ipiranga. No dia domingo, eles tinham uma reunião dançante no Clube Sete de Setembro. Eles não puderam tocar, por terem se acidentados, e então, nós (Os Dinâmicos) os substituímos e no dia seguinte entregamos o cache para eles”.

Outro período que Matoso se orgulha de rememorar era quando tinham um programa de calouros no Cinema Presidente, nos sábados à tarde, na extinta rádio Fronteira do Sul: “Nós ensaiávamos com os calouros, o Cerzo Brites e o Boni Lima faziam o aparato todo pra transmitir o programa, e o professor Ivonie Marques apresentava. Entravamos com os calouros pra ensaiar e acompanhá-los durante o programa. Fizemos isso por muito tempo. O cinema lotava sempre.”

Durante 37 anos de existência Os Dinâmicos nunca pararam. Mudavam os integrantes, mas nunca deixaram de tocar. Conseguiram resistir a fase do som mecânico, que pôs fim a muitas bandas da região. Talvez por se apresentarem bastante em outras cidades tenha contribuído para a longa carreira do conjunto.

“Fomos sempre bem recebidos nas cidades em que tocamos, e na argentina também. Sempre procuramos trabalhar bem, colocar qualidade, responsabilidade, com profissionais bons; porque manter uma equipe boa, de confiança, não é fácil. Tem que ser profissional mesmo, e a gente foi crescendo assim e fomos indo. Ficamos todo esse tempo aí porque sempre procuramos fazer um trabalho bem feito. O melhor que podíamos”, conclui Matoso.

Encerraram as atividades por volta de 2004. Os tempos eram outros e não existia mais uma valorização como antes. Mas quem viveu aqueles tempos dificilmente vai se esquecer dos bailes e carnavais animados pelos Dinâmicos.

 Início dos anos de 1970, no Clube Recreativo: Matoso, João Carlinhos, José do Nascimento e Canário



Musiviola: o papa-títulos do Festival de Carnaval

Os Dinâmicos também se apresentavam nos festivais de musicas para o carnaval da cidade. Porém, na maioria das vezes, subiram ao palco com a alcunha de Musiviola. Apresentaram-se também como O grupo.

O Musiviola (que era originalmente o nome da escola de música de Sergio Wagner de Souza, integrante do conjunto) ganharam quase todas as edições que participaram. De acordo com Matoso, chegaram a ganhar 11 anos consecutivos. “Nós ganhávamos, às vezes, em marcha e samba. E também por melhor intérprete, melhor arranjo e melhor instrumentista. As letras, em sua maioria, eram do Caéco Batista e do Otorino Côvolo.”

As músicas que a banda defendia nos festivais prontamente entravam no repertório d’Os Dinâmicos para os bailes de carnaval. Algumas conquistas e sucessos do grupo foram: “A Pau e Corda” (samba- letra e música de Otorino Côvolo e Sergio Souza); “Rimas e Penas” (marcha - letra de Jones Martins e Otorino Côvolo e música de Sérgio Souza); “Igual Cigarra” (samba – letra de Eugênio Dutra e música de Sérgio Souza), “Faixa, Saudade e Carnaval” (marcha de autoria de Otorino Côvolo),“Palhaços” (marcha - com letra de Caéco Batista e música de Sérgio Souza), “A Mesma História” (de autoria de Nivea Fonseca Mendes e João Carlos Lopes), “Uma Pequena Marcha Para Um Grande Amor” (marcha - letra de Otorino Côvolo e música de Sérgio Souza, e o samba “Promorar” (letra de Eugênio Dutra e música de Sérgio Souza).

 

23 maio 2012

A vez do rock d’Os Sheiks



Logo depois da saída de Alfredo Ramos, João Moiano, Joel Nascimento e do João Aires da Silva d’Os Soprantes; não demorou muito para que os músicos formassem outra banda. Em 1973 nasce, então, Os Sheiks. Recrutam o saxofonista Antônio Ladi Mendonça e Augusto Teixeira (Guto) para ocupar o cargo de vocalista.

A formação original dos Sheiks se alinha da seguinte maneira: Alfredo Ramos, no teclado e vocal; João Moiano, no trompete e vocal; Joel Nascimento, no contrabaixo; João Carlinhos, na guitarra-base e vocal; João Aires da Silva na bateria; Antônio Ladi Mendonça, no saxofone, e o Augusto Teixeira (Guto), no vocal principal.

Assim como na segunda fase d’Os Soprantes, quando faziam parte da banda, continuaram a tocar um repertório focado nos sucessos da época do rock nacional. Os Ie-ie-iês da Jovem Guarda e de Renato e Seus Blue Caps, Beatles, e passaram a agregar  à lista músicas do Creedence Clearwater Revival, que na época estava estourando e fazendo muito sucesso. Os Sheiks não tiveram composições próprias.

A banda inicia uma constante de apresentações, nos clubes locais e em cidades da região. “Em São Borja, além de termos tocado em todos os clubes da cidade, tocamos também nas boates Tala Larga, que era na esquina de cima onde é ou era o cinema Presidente; em uma boate inaugurada quase em frente ao posto Shell (aonde antes era um depósitos de bananas do Sr.Kurt), e em muitas festas organizadas nos colégios da cidade”, rememora o músico Alfredo Ramos. 

Os Sheiks também se apresentaram do outro lado do rio, no país vizinho. Segundo Ramos, fizeram “muitos shows na Argentina, especificamente em Santo Tomé. Eram sempre contratos para tocarmos nos clubes e também para promoções estudantis”.

Ele recorda, também, de uma apresentação particular que fizeram: “Uma vez chegamos a tocar na casa de um empresário de São Borja, à beira da piscina em uma noite de verão. E nesta apresentação privada, estava a Vera Fischer, que na época eu não lembro se já era miss ou não”. 

O músico conta que com o grande número de shows que o grupo fazia, tornaram-se bastante conhecidos e requisitados na região. “Os Sheiks era uma das melhores bandas do momento, em toda a região da fronteira. Tocamos em muitos carnavais do Clube Comercial e também em muitas cidades do Estado. Na época, além dos Sheiks, as melhores bandas do momento, também, eram algumas de Santo Ângelo, Alegrete, Ijuí e de Porto Alegre.”

Como de comum na maioria dos conjuntos, Os Sheiks também passaram por mudanças em sua formação. O contrabaixista Joel Nascimento voltou para sua cidade natal, Santo Ângelo, e posteriormente passou a tocar na banda San Marino. Joel Nascimento conta um pouco de sua passagem pelos Sheiks: “(...) participei de quase todas as bandas de maior expressão de São Borja na época, e me considero o "fundador" dos Sheiks, juntamente com os demais parceiros e amigos. Fui o responsável pela escolha dos componentes e pela arrecadação do dinheiro que tocamos no carnaval e também na praça onde era apresentado o concurso de músicas de carnaval. No término das festas carnavalescas fui a Porto Alegre adquirir os instrumentos: baixo, guitarra, bateria e outros; para dar inicio a nova banda Os Sheiks. Nunca parei de participar de bandas musicais e sendo a de maior expressão que fiz parte foi a banda San Marino, de Santa Rosa, onde toquei por mais de 15 anos."

Com a saída do Joel Nascimento, o grupo colocou em seu lugar Rafael. A banda passaria por mais trocas na sua formação, por conta da evolução do repertório.

”Como o nosso repertório estava cada vez melhor, pois passamos a executar musicas dos Beatles, do Creedence e também músicas francesas (estas a esposa do Dr, Freire as escutava, copiava as letras e nos ensinava a pronúncia). O repertório ficava mais nervoso e exigia um bom guitarrista. Trouxemos o Serginho (atual violonista aí em São Borja). Precisávamos de um guitarrista-solo, então o Serginho nos falou que tinha um rapaz que era um exímio violonista e morava em Itaqui. Nós o trouxemos para fazer um teste e o rapaz nos surpreendeu pela alta técnica que tinha. Esse rapaz é o Juliano Trindade, mais conhecido como "Bonitinho”, dono do atual conjunto gaúcho chamado ‘Eco do Minuano e Bonitinho’. Depois que o Bonitinho saiu, tivemos como guitarrista o Geraldo (irmão do Eraldo, músico de São Borja) – ambos, e também o Samuel foram da banda Os Titânicos de Porto Alegre. Os três fizeram parte dos Sheiks, mas por pouco tempo”, conta Ramos.

Conforme Ramos, durante “quase sete ou oito anos” Os Sheiks estiveram na ativa. Tocando e animando em muitos bailes e boates. Tudo ia bem, até que a febre da disco music com a sua massificação tomou conta dos clubes. Muitas bandas de rock ficaram em segundo plano, em detrimento à musica mecânica. 

“Com o surgimento de promoções de bailes em ambientes maiores que os dos clubes da cidade, animados pelo que chamamos na época de "Música Eletrônica" (hoje chamamos de DJ), os bailes animados por conjuntos musicais, nos clubes, começaram a diminuir muito. Em face disso, os Sheiks entraram em recesso e em reunião dos componentes, ficou decidido que os Sheiks parariam de tocar”, explica Ramos.

Antes do encontro de encerramento das atividades da banda, Os Sheiks se restringiam a poucos (quatro) elementos: Alfredo Ramos (teclado), João Aires (bateria), Rafael (contrabaixo) e Edivaldo Gutierrez (o Edimaior), como vocalista e guitarra-base. Nesta última fase de formação a banda deu seus últimos suspiros e acordes em alguns clubes pequenos  da cidade como, o 13 de Julho, o Clube Esperança, Clube União e em alguns colégios.











07 maio 2012

Dot Hacker: mais do que um simples projeto, espero



Poucas novidades na música atual me suscitam o encantamento e o ato da escrita. Dot Hacker é uma delas. A estreia da banda do mais novo chili pepper, Josh Klinghoffer, merece atenção. Além deste, na guitarra e no vocal, completam a equipe, Clint Walsh (também na guitarra, nos teclados e nos vocais de apoio), Jonathan Hischke (no baixo) e Eric Gardner (na bateria).

Na ânsia de montarem uma banda própria e deixarem de atuar como coadjuvantes de artistas estabilizados, como Gnarls barckley (Walsh), Charlotte Gainsbourg, The Motels (Gardner) e El Nuevo Grupo de Omar Rodriguez-Lopez (Hischke); estes músicos tiveram a felicidade de criarem o Dot Hacker, no ano de 2008. Neste mesmo ano começaram a produzir o álbum, nos intervalos dos compromissos musicais de cada um.  Porém, a banda foi deixada em segundo plano por conta desses trabalhos com outros artistas. Então a vida do Josh Klinghoffer muda completamente com a sua entrada no Chili Peppers. Daí sim que a parceria entraria num hiato. Por dois anos o processo de gravação ficou parado. Somente agora o álbum foi lançado. Felizmente.

A banda apresenta um conceito bem experimental, muitos ruídos que se entrelaçam, uso de ferramentas da musica eletrônica, sintetizadores e efeitos sombrios. A voz sensível de Josh contribui para essa sensação suave. 

Inhibition é uma obra intimista e viajante. Sonoridades não óbvias e calmas ao ouvido. Um trabalho original e agradável, de músicos maduros e criativos. Nem parece uma parceria recente, e sim, de anos de estrada, acostumada em tocar e conviver musicalmente juntos.

É difícil de descrever semelhanças musicais que a banda apresenta em seu som. Em alguns momentos lembra The Mars Volta. Enfim, o melhor que você fará é apagar a luz e ouvir atentamente esse álbum. É de muita qualidade e sua escuta proporciona uma sensação gratificante. Para os que gostam de uma novidade que valha a pena, é claro.

Com esse trabalho se torna evidente que Josh Klinghoffer é mais do que um mero substituto do Frusciante. Os Chili Peppers acertaram em cheio na escolha. Nesse trabalho ele mostra que é um ótimo músico e muito criativo. Junto com os outros integrantes, igualmente de primeira categoria, Dot Hacker tem tudo pra fazer sucesso.

A banda promete que fará shows nas folgas de suas bandas. Tomara. Já fez algumas apresentações em Los Angeles e abriu uma apresentação do Jane’s Addiction.

Uma das melhores surpresas que tive até agora, nesse 2012.

Abaixo algumas músicas:






14 abril 2012

Momento próspero


Celebre
O atual momento
A satisfação do tempo
A sua disposição

Agradeça
Esse seu caminho
Merecido
Útil e digno

Faça!
Aproveite
Os prazeres
Os sorrisos latentes

Deguste
A vida, com a companhia divertida da família
Com a empatia dos verdadeiros amigos
Em volta das gastronomias
E das bebidas

Sinta!
Os sentidos
As sensações do clima
O gelado

O ambiente
O efeito das músicas
O estouro das bolhas
A suavidade das espumas

A felicidade dos reencontros
Dos abraços
E das distrações

Descubra as emoções.

17 março 2012

A fase de ouro d’Os Soprantes


Por volta do final dos anos de 1960 e inicio de 1970, existiram três grupos musicais bastante ativos em São Borja, em que alguns integrantes chegaram a participar de formações das três bandas. São elas: Os Dinâmicos, Os Soprantes e Os Sheiks.
Dessa vez vamos nos ater na história do conjunto Os Soprantes.

A banda nasceu em meados de 1968 a partir da ideia e da vontade do Sargento Naval carioca, Jerson Mendes. A formação inicial da banda consistia em: Jerson Mendes, na guitarra e no vocal; João Aires da Silva, na bateria; e José Nascimento, também na guitarra; ambos são-borjenses.

Mas cerca de um ano depois, em 1969, entra então a figura do músico, também natural de São Borja, Alfredo Ramos: “Comecei a ir aos ensaios dos Soprantes. No início da banda o Jerson só tocava músicas românticas, baladas, boleros; e o que estava bombando na época eram as músicas do Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, e outros”, conta.

Com a necessidade de adicionar a esse repertório inicial os sucessos do momento, a banda então recebeu o acréscimo de mais integrantes, com o intuito de executar tais temas. Houve, a partir daí, um rodízio na frente dos instrumentos.

“O José Nascimento não sabia fazer na guitarra, a batida, os ritmos das músicas dessas bandas do momento. Eu as treinava em casa, em meu violão e, uma vez no ensaio deles, eu peguei a guitarra e fiz os ritmos das músicas do Renato, e o João Moiano (são- borjense) que fora junto comigo, as cantou. Aí o Jerson gostou e nos convidou para fazer parte dos Soprantes. Então passei a ser o guitarrista dos Soprantes, o José Nascimento passou para o contrabaixo (que ninguém tocava por não ter músico para tal instrumento) e o João Moiano saiu dos Dinâmicos e passou a fazer parte dos Soprantes, cantando e tocando trompete”, relembra Ramos.

Ramos recorda também como que o teclado começou a fazer parte da sonoridade do conjunto: “O Jerson comprou um teclado marca Arbon, era um show da época. Eu treinei muito no piano do Clube Comercial, durante a Quaresma e quando esta terminou, treinando no piano, eu me tornei um músico autodidata e aprendi a acompanhar, no teclado, 15 músicas do repertório dos Soprantes. Foi então que o José Nascimento voltou para a guitarra e o meu amigo Joel (nativo de Santo Ângelo) saiu dos Dinâmicos e veio fazer parte, também, dos Soprantes, tocando o contrabaixo”.

O repertório foi definido com basicamente músicas dançantes, para animar bailes, com a execução de temas do Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, e outras bandas nacionais famosas da época; além das baladas românticas a cargo do fundador Jerson Mendes.

Formação e set list consagrados, o grupo ganha o gosto do público e começa a tocar em boa parte dos bailes do Clube Comercial; assim como nas boates da casa também.

Nessa época fazem shows em outras cidades do Estado, como: Porto Lucena, Santa Maria, Santiago, Porto Alegre e Uruguaiana.

A banda seguiria nessa constante de sucesso por dois anos, até que por desentendimentos aconteceu a separação do grupo. Alfredo Ramos, João Moiano, Joel Nascimento e João Aires da Silva resolvem sair e formar Os Sheiks.

Os Soprantes ainda seguiriam por mais um ano com o fundador Jerson Mendes, junto a outros músicos. Mas, por estes serem de outras cidades acabou por inviabilizar o prosseguimento da banda. Por pelo menos quatro anos Os Soprantes animaram as noites são-borjenses.

 Os Soprantes no Aeroporto (Campo de Aviação) de São Borja: da esquerda para a direita; Alfredo Ramos, João Aires da Silva, Joel Nascimento, João Moiano, Jerson Mendes, e Pedro (bagagista da banda).

O adeus de mais um ícone

 
Infelizmente, me sinto na obrigação de escrever sobre mais uma partida irretornável de um homem e artista da nossa música nativista gaúcha. No dia 12 do último dezembro, aos 63 anos, morreu em Porto Alegre, o cantor José Cláudio Machado. Vitimado pelos prazeres dos excessos com álcool e fumo. Um enfisema pulmonar o pealou.

Também compositor e gaiteiro, o tapense José Claudio Machado começou sua trajetória consagrada ao compor em parceria com Claudio Boeira Garcia o clássico Pedro Guará, que ergueu a Calhandra de Ouro na segunda edição da Califórnia da Canção Nativa, em 1972. Na mesma década fez parte do grupo Os Teatinos, junto com Glênio Fagundes, Paulo Portela Fagundes e Marco Aurélio Campos. Com eles, gravou dois álbuns riquíssimos e notórios do folclore gaúcho: o Telurismo I e II. Chegou a participar e gravar também por um período com o conjunto Os Serranos e foi parceiro do pajador Jayme Caetano Braun.

Mas, seu reconhecimento mesmo veio ao interpretar versos de Mauro Moraes, que viriam a ser alguns dos seus maiores sucessos, como Lástima, Fulanos e Sicranos, e Milonga Abaixo de Mau Tempo. Machado eternizou em canção essas poesias. Assim também, como: Chasque Para Dom Munhoz, de Airton Pimentel e Campesino de letra de José Theodoro dos Santos Jr.

Deixou de legado 14 álbuns com a sua maior marca: a voz. Dentre esses trabalhos, dois são obras interessantes para qualquer entusiasta da música gaúcha: as parcerias com Bebeto Alves em Milongueando Uns Troços (1993); e com Luiz Marenco em De Bota e Bombacha (2001).

Foram quatro décadas dedicadas à arte gaúcha. O corpo vai, mas o espírito fica em suas músicas, em imagens como a do braço erguido com um pala de seda atado ao punho cantando “São gritos de bamo-cavalo, toca toca, êra êra...” da famosa Pêlos no programa Galpão Crioulo, debaixo da figueira conversando antes de interpretar Milonga Abaixo de Mau Tempo. Enfim, um artista que com o seu cantar galponeiro deixou uma marca singular e eterna encravada no cancioneiro regional gaúcho.