15 dezembro 2009

Vivendo e conhecendo


Já tinha ouvido falarem, mas nunca tinha ouvido sua voz. Tinha consciência da sua importância, porem nunca reservei um tempo para conhecer suas interpretações. Até que num domingo de isolamento brotou a vontade de escutá-la.

Mercedes Sosa é pura magia. Que voz! Que energia seu timbre espalha. Percebe-se verdadeiramente a sua alma saindo pela boca. Ao ouvi-la logo lembrei Atahualpa Yupanqui. Ambos são, artisticamente, autoridades.

As versões de Sosa para as músicas de Milton Nascimento são imortais. Esta, juntamente com o dueto com Fagner em “Ãnos”, expressam nitidamente um sentimento de integração dos países sul-americanos. A sua interpretação para “Gracias a La Vida”, da folclorista chilena Violeta Parra, é a ária definitiva de gratidão à existência.

Há um tempo, vi numa edição da Rolling Stone, uma foto em que posavam reunidos no estúdio do programa dos anos 80 Pra Começo de Conversa da TVE-RS, Wander Wildner, Eduardo Bueno e Cunha Jr. Atrás deles, estampado na parede, um pôster de Mercedes Sosa. Aquilo marcou. Ela não estava ali à toa. Percebi na hora seu significado para a arte musical e para a cultura sem fronteiras dos gaúchos. Agora sinto e comprovo sua grandeza.

Mercedes Sosa morreu este ano. Mas sua voz jamais se extinguirá. Está aqui, junto com os ventos da América do Sul.

Ouça, identifique-se e emociona-te também com essa voz poderosa!





18 novembro 2009

Os abutres e seus faros impetuosos

Didático e reflexivo. Essas duas palavras sempre vêm à tona quando se fala no clássico do cinema noir americano A Montanha dos Sete Abutres (Ace In The Hole – 1951), de Billy Wilder. Didático porque é uma das referencias obrigatórias de estudo em qualquer escola de Jornalismo, pelo fato de mostrar os limites de uma cobertura jornalística. E reflexivo por simplesmente bombardear o telespectador de ações contestatórias que suscitam a debates infindáveis e, consequentemente, benéficos para o pensar jornalístico, principalmente no campo ético da profissão.

Protagonizado por Kirk Douglas, Charles Tatum é um jornalista autodidata e desempregado que consegue uma oportunidade de trabalho em um jornal de pequeno porte na cidade interiorana de Albuquerque. Com um caráter extremamente petulante, para ele, o emprego é temporário, até conseguir aquele furo de reportagem que o recoloque a um jornal de renome.

Charles Tatum, então transforma o fato de um homem preso nas pedras de uma caverna em um grande “carnaval”. Para isso o jornalista pratica uma penca de atos controversos, em maior escala se vê a manipulação, tanto nas pessoas ligadas diretamente à vitima, Leo Minosa, como no desdobramento do fato.

O longa, além de ser uma um retrato do cinismo e da ambição do ser-humano, é uma critica ácida à imprensa sensacionalista que ignora a responsabilidade social, a veracidade dos fatos, para a qualquer custo se auto-promover. Esta é a imagem que Tatum passa durante todo o filme, que reflete notoriamente a ideologia da “penny press” americana iniciada nos anos 30 e que permanece nos dias atuais.

Durante a película, se encontra várias máximas que se eternizariam no meio jornalístico e que são levadas como norteadora na definição do que é notícia até hoje nos cursos de graduação, nas empresas de comunicação e obviamente nos profissionais destas. "Eu posso cuidar de grandes notícias e pequenas notícias, e se não houver notícias eu saio e mordo um cachorro", diz Charles Tatum, ao pedir o emprego.

A verdade é que a análise do que é de bom senso ou não nas ações do protagonista se tornam muito complicadas. É mais uma questão de caráter do que de diretriz profissional. O personagem já tinha sido demitido de onze jornais por várias razões, entre calúnias e envolvimento com a mulher do editor. Um comportamento questionável que já denota um antiprofissionalismo de sua parte.
O papel de Tatum pode ser em partes, aceito; até o momento em que ele coloca em risco a fonte mudando o plano de sua retirada e adiando para uma semana o trabalho que seria feito em um dia. Ao comparar com o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros ele quebra, com essa atitude, o parágrafo IV do artigo 7º que visa não expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, situação que era a de Leo Minosa.

Billy Wilder expõe de maneira asseverativa o comportamento da sociedade e da imprensa acerca de um fato de drama humano, talvez por isso ao olhar A Montanha dos Sete Abutres somos tão identificados com o propósito do diretor que acabamos nos sentindo ultrajados. Essas duas assimilações explicam o fracasso comercial do filme na época, e, ao mesmo tempo, o torna reconhecido pela sua seriedade e o seu valor artístico.

Ficha Técnica:
Título original: Ace in the Hole
Gênero: Drama
Duração: 01 hs 51 min
Ano de lançamento: 1951

Estúdio: Paramount Pictures
Distribuidora: Paramount Pictures
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Walter Newman, Billy Wilder e Lesser Samuels
Produção: Billy Wilder
Música: Hugo Friedhofer
Fotografia: Charles Lang
Direção de arte: A. Earl Hedrick e Hal Pereira
Figurino: Edith Head
edição: Arthur P. Schmidt

08 novembro 2009

The Last Waltz - O último concerto de rock

O longa musical dirigido por Martin Scorsese é magistral e paralelamente inacreditável. O filme é o registro do show de despedida da banda estadounidense-canadense de country-rock The Band.

Que outro espetáculo reúne no mesmo palco astros do calibre de Bob Dylan, Neil Young, Muddy Waters, Eric Clapton, Ringo Starr, Van Morrison, Neil Diamond, Ron Wood e Joni Mitchell? Nenhum. Trata-se de uma celebração única na história do rock.

O evento se passa no ano de 1976, quando se podem ver os músicos em plena jovialidade e no auge de suas criações artísticas. Figuras que para muitos rockeiros não poderiam envelhecer e nem morrer, de tão especialistas em criar boa música que são ou que eram.

A película se compõe de depoimentos, ao término de cada tema musical, dos integrantes da The Band guiados pelo próprio diretor, que aparece em certos momentos. Será que o verdadeiro rock ali deu seu último suspiro? Pode ser que sim! Ou não, pois a maioria dos artistas dali deram continuidade em suas carreiras.

Uma grandiosa comemoração que Scorsese teve a sorte de documentar. Muddy Waters está lá. Só isto já vale o tempo de olhá-lo. A produção é a homenagem definitiva que Scorsese fez para o universo indecifrável do rock and roll.

O espectador será vítima de uma overdose de solos de guitarra e toda a musicalidade em torno delas. Isso inclui harmônicas, saxofone, acordeom, violino e algo mais.

Quem ainda não conhece, vale à pena ir atrás. Obrigatório para qualquer louco pelo gênero.
Ficha Técnica:
Título no Brasil: O Último Concerto de Rock
Título Original: The Last Waltz
País de Origem: EUA
Gênero: Documentario, Musical
Tempo de Duração: 117 minutos
Ano de Lançamento: 1978
Estúdio/Distrib.: FM Productions
Direção: Martin Scorsese
Elenco:
Robbie Robertson...Himself - Lead Guitar / Vocal (as The Band)
Rick Danko...Himself - Bass & Violin & Vocal (as The Band)
Richard Manuel...Himself - Piano / Keyboards / Drums / Vocal (as The Band)
Levon Helm...Himself - Drums / Mandolin / Vocal (as The Band)
Garth Hudson...Himself - Organ / Accordion / Saxophone / Synthesizers (as The Band)
Eric Clapton...Himself - Performer
Neil Diamond...Himself - Performer
Bob Dylan...Himself - Performer
Joni Mitchell...Herself - Performer
Neil Young...Himself - Performer
Emmylou Harris...Herself - Performer
Ringo Starr...Himself - Performer
Paul Butterfield...Himself - Performer
Dr. John...Himself - Performer
Van Morrison...Himself - Performer

06 novembro 2009

Faith No More em Porto Alegre: um show épico

A casa de eventos Pepsi On Stage foi palco de um momento onírico para os que esperavam ansiosos




Foto: Filipe Limas

É difícil escrever sobre o que realmente foi o show da banda Faith No More na noite de 3 de novembro. Torna-se em vão qualquer tentativa de passar ao leitor sensações da ocasião. Somente quem presenciou tem competência para expressar sobre o que aconteceu e o que sentiu.

Depois de quase duas décadas o grupo voltou a tocar para os gaúchos. Não só os fãs de carteirinha, mas qualquer pessoa que goste e conheça o rock n’ roll foi pego de surpresa com a notícia; de poder ver ao vivo o grupo liderado pela figura estranha de Mike Patton.




É bem certo que a banda sempre foi alternativa – eles mesmos já reconheceram isso – porém, pela qualidade artística inegável apareceram na mídia e obtiveram sucesso e muitos fãs na primeira metade dos anos 90. Mas é quase impossível que Epic e Easy não soem familiares para o mais desinteressado em música. Há onze anos a banda estava hibernada, acumulando em seus admiradores a cobiça de revê-los.

E o momento chegou e foi literalmente um estouro! O grupo se apresentou de forma agressiva para uma platéia já impaciente para deleitar-se na sonoridade singular da banda.




Trajados socialmente, com exceção do baterista canhoto Mike Bordin, o grupo fez uma apresentação inolvidável, com muita vontade e energia em todas as músicas. Em nenhum momento a banda foi apática, nem ao tocar e muito menos com o público: Mike Patton e o tecladista Roddy Bottum arriscaram várias vezes o português em palavras obscenas e ao agradecer o público.



Mike Patton vestindo um brilhoso terno prateado, em contraste com uma iluminação completamente vermelha iniciou o show de forma obscura e emocionante tocando com uma escaleta a instrumental Midnight Cowboy. Depois só vieram os petardos: From Out Of Nowhere, Land Of Sunshine, Surprise! You’re Dead, Last Cup Of Sorrow, Midlife Crisis, o eterno hit Epic, e por aí vai. As leves Evidence, Easy, a bossanovista engraçada Caralho Voador e a clássica de Burt Bacharach eternizada por Herb Alpert This Guy´s In Love With You também fizeram parte do repertório.

A banda demonstrou ainda generosidade e reconhecimento ao seu público, presenteando-o com 3 bis - resposta aos gritos em uníssono de Faith No More! Faith No More! E atendendo por último os berros de We Care a Lot! We Care a Lot!

O insano Mike Patton alucinado, como sempre, usou seu típico megafone e até se atirou de costas para os espectadores o agarrarem. Percebeu-se que os integrantes deram o seu máximo e mostraram como arrancar suspiros e levar ao delírio uma platéia.

Para muitos que viram, o ano de 2009 se resumiu ao show do Faith No More.

Antes e depois da apresentação Roddy Buttom confirmou em seu twitter o apreço que a banda sente pelo país.

"Descer do avião em Porto Alegre foi como cair bêbado nos braços quentes de um velho amigo..."às 11h25 do dia 2/11.

"Obrigado Porto Alegre. Vocês lembraram-nos esta noite porque nós amamos tanto o Brasil. Belo concerto."à 1h30 do dia 4/11.

Set List – Porto Alegre:

01. Midnight Cowboy
02. From Out Of Nowhere
03. Land Of Sunshine
04. Caffeine
05. Evidence (portuguese version)
06. Surprise! You're Dead!
07. Last Cup Of Sorrow
08. Ricochet
09. Easy
10. Midlife Crisis
11. Epic
12. Caralho Voador
13. The Gentle Art Of Making Enemies
14. King For A Day
15. Ashes To Ashes
16. Just A Man

Extras:

17. Chariots Of Fire/Stripsearch
18. As The Worm Turns

19. This Guy's In Love With You

20. We Care A Lot

27 setembro 2009


As sinfonias de Beethoven são inexpressáveis experiências sonoras do firmamento. Escutá-las remete a um sacrifício corporal e mental. Elas são trilhas de perfeita sincronia para todas as imagens relevantes da história da humanidade.

Ouvir as nove obras de uma forma inteira, de olhos fechados; aceitando passivamente penetrar nos ouvidos as suas alturas, harmonias, e ataques de ascensão das notas de violino é se colocar como espectador de um filme de visões e emoções subjetivas.

A natureza das imagens que passarão por sua cabeça é incontrolável. Podem ser boas ou más. Divinas ou diabólicas. Todas as emoções que o ser - humano pode experimentar são possíveis ao som de Beethoven. É o contraponto da glorificação da vida com a violência desmedida.

Trata-se do escolhido de uma força divina para mostrar a música dos anjos

22 setembro 2009

Ainda bem que temos o samba!


Tá num momento de tristeza? Escuta um samba - de - raiz genuinamente brasileiro. Um bom momento pra ouvir qualquer obra de João Nogueira – o mais suburbano dos sambistas cariocas. Você sentirá orgulho de ser brasileiro, boêmio, vagabundo... A identificação por alguma letra é certeira. No mínimo, um sorriso enquanto escuta é inevitável.

Tente:

Vida Boêmia (1978)
Clube do Samba (1979)

21 setembro 2009

Remorso

Hey parceiro! Já sei
Acordaste tarde novamente
Perdeste o dia outra vez

Olha só o que restou de ti
Depois do trago só resta tu
E ninguém mais

Moço teimoso
Sendo assim, sozinho ficará
Um dia será tarde para uma companhia
E dará adeus á alegria

Olhará pela janela e verá o céu escuro
Há quanto tempo não vê o sol?
Não há nem resposta

Caia em si, deixe o álcool
Tu ta cansado de saber que
A euforia gerada por ele é passageira

É um companheiro traíra
Porque no outro dia ele já transpirou o efeito
E o primeiro sentimento é de isolamento
Não pode continuar assim

Olha só, já está tarde até para um mate
Renove-se
Entre em metamorfose
Antes que não se lembre nem o motivo
por não ter aproveitado a vida

15 setembro 2009

"Na música, como no sexo, a gênese da vida e da morte deixa-se conhecer, por extrema magnamidade dos deuses, como prazer". (José Miguel Wisnik)

12 setembro 2009

Butts Band: uma preciosidade escondida


O ano é 1973. Na Inglaterra, Pink Floyd lança sua obra prima conceitual progressiva “The Dark Side Of The Moon”; do outro lado do Atlântico, o reggae de Bob Marley and The Wailers começa a se disseminar mundo afora com “Catch a Fire” e nos Estados Unidos The Stogges e New York Dools principiam o que se rotularia mais tarde de Punk.

Em meio a esse cenário da música no Mundo, os ex-integrantes do The Doors: Robby Krieger (guitarrista), John Desmore (baterista) e Ray Manzarek (teclados), há dois anos que se viam órfãos de Jim Morrison, o poeta mais intrigante do agitado anos 60. Os três decidem irem para a Inglaterra à procura de um cantor. No caminho, Manzarek se ausenta devido assuntos familiares. Krieger e Desmore seguem viagem e acabam se juntando com o vocalista Jess Roden (ex-Bronco, The Alan Bown Set, Keef Hartley Band), Roy Davies (ex- Freddie Mack, Gonzalez) no comando do teclado e do sintetizador; e Larry Mcdonald nas congas. Bandas e músicos de grande classe que estavam á margem da notoriedade.

Nasce, então, o projeto Butts Band. O álbum homônimo é gravado metade na Jamaica e metade no Reino Unido com o engenheiro de som do Doors, Bruce Botnick. O resultado é uma sonoridade de extrema qualidade. Trata-se de uma fusão raramente vista de folk, jazz, blues e misturas difíceis de nominar. Todas cantadas pela voz suave de Jess Roden.

Os destaques são: a balada jazzistica Sweet Danger assinada por Jess Roden e a swingueira Be With Me de Robby Krieger. Temas ideais para se ouvir num encontro amoroso ou para ser tocada em pubs escuros. Porque ao mesmo tempo em que a primeira apresenta um ritmo doce acompanhada com notas de teclado e sintetizador; a segunda você se depara com uma levada peculiar de um corpo instrumental que se completa. A voz insigne de Jess Roden, ao lado dos solos incríveis de Krieger e da levada surpreendente de John Desmore, dá um tom de inovação nas composições.

As demais como a folk I Won’t Be Alone Anymore; Baja Bus, em que o batuque a lá Santana se sobrepõem; as duas neutras, Pop-A-Top e New Ways; a dançante e com ares de psicodelia, Love Your Brother. A faixa totalmente blues Kansas City em versão ao vivo fecha de forma ascendente o álbum.


Jess Roden também gravou três álbuns em carreira solo.

Butts Band de 73 é grandioso, muito bem tocado, e, certamente com competência de estar incluído em qualquer lista de melhores álbuns já produzidos. Com exceção dos dois músicos já consagrados pelos Doors, a banda nos proporciona a descoberta de personalidades desconhecidas, ou não reconhecidas como mereciam no cenário artístico musical; Roy Davies, Larry Mcdonald e, principalmente o primor de cantor, Jess Roden.

Dois anos depois, em 1975, com a formação totalmente diferente, Butts Band lança "Hear and Now", com uma linha musical distinta do seu predecessor. Desta vez quem se junta com os ex-Doors é Mike Stull, um excelente cantor negro, detentor de uma voz potente que lembra à Isaac Hayes e Barry White. Juntamente com o baixista, Karl "Slick" Rucker (Nina Hagen, Gregg Wright, Lino); o tecladista Alex Richman (Salty); o baterista Mike Berkowitz (Billy Joel, Elton John) e Bobbi Hall (Janis Joplin) nas congas e percussão. A sonoridade da banda muda-se para um R&B louco e dançante.


A surpresa: uma versão de Get Up Stand Up de Bob Marley com uma roupagem completamente distinta; mais rock and roll e excitante devido ao vozeirão de Mike Stull. Uma variante que deixaria Bob Marley orgulhoso dos "caras".

Infelizmente Butts Band parou por aí. O reconhecimento não ocorreu, até porque a imagem da banda não foi divulgada. Talvez não fosse a pretensão de Robby Krieger e John Desmore. O fato é que se tornou uma raridade. Creio que seus álbuns saíram do catálogo de comercialização. As referencias na internet são mínimas. Vídeos, nem pensar. Tirando os maníacos por The Doors, poucos conhecem a existência da Butts Band. Jim Morrison se orgulharia do que a saudade e a vontade de criar fizeram com seus companheiros de percurso.


1. I Won't Be Alone Anymore
2. Baja Bus
3. Sweet Danger
4. Pop-A-Top
5. Be With Me
6. New Ways
7. Love Your Brother
8. Kansas City




1. Get Up, Stand Up
2. Corner Of My Mind
3. Caught In The Middle
4. Everybody's Fool
5. Livin' And Dyin'
6. Don't Wake Up
7. If You Gotta Make A Fool Of Somebody
8. Feelin' So Bad
9. White House
10. Act Of Love
11. That's All Right
12. Lovin' You For All The Right Reasons



06 setembro 2009

Morena Rosa

Lorena Rosa veio à luz da realidade numa manha de sábado ensolarada. O dia 29 de agosto amanheceu na sua total normalidade. Seu pai, trabalhador que és, dirigiu-se ao batente habitualmente. A sua mãe dormia com todo o zelo pela filha, que nasceria no mês seguinte – setembro. No entanto, a previsão não aconteceu. Lorena estava pronta para conhecer seus pais e não resistiu. Saltou pra fora.

Poucos dias antes, o pai pressentira o acontecimento na letra de uma música do Belchior que passou por sua cabeça: “eu não posso deixar de dizer, meu amigo. Que uma nova mudança em breve vai acontecer”. E aconteceu! A sua chegada foi uma exaltação à vida, como um reggae na sua forma mais crua e harmoniosa.

Sua perfeição desvendou aos seus pais e próximos o sentido da vida e do amor.

Agora, “o passado é uma roupa que não nos serve mais”; e o que “precisamos todos é rejuvenescer”. Emoção que ela já está nos proporcionando.

Lorena será muito adorada. A menina dançará na magia natural que sua presença emana em seu contorno.

30 agosto 2009

The Kite Runner: uma transposição adequada


A adaptação do primeiro best seeler de Khaled Hosseini,“O caçador de pipas”, para o cinema, não deixou nem um pouco a desejar. A história foi roteirizada com lealdade ao livro. Valor esse que é o principal mote abordado nessa narrativa literária de Hosseini.

Os acontecimentos foram transpostos da folha para a imagem com brilhantismo e doação total dos atores à história. Captaram com veemência a importância da lição que o romance transmite. Os fatos mais relevantes do livro foram mostrados.

Quem possui uma sensibilidade mais aguçada e não leu o livro emocionou-se, e quem teve o prazer da leitura creio que foi atingido mais ainda no lirismo particular que detém.

Trata-se de uma das histórias mais eficazes ao versar sobre a tríade: amor, traição e arrependimento. Toda a equipe de produção e envolvidos no projeto são dignos de felicitações.

Ficha Técnica:
Título Original: The Kite Runner
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 122 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Estúdio: DreamWorks SKG / Neal Street Productions / Wonderland Films / Participant Productions / Sidney Kimmel Entertainment / MacDonald/Parkes Productions
Distribuição: DreamWorks SKG / Paramount Pictures / UIP
Direção: Marc Forster
Roteiro: David Benioff, baseado em livro de Khaled Hosseini
Produção: William Horberg, Walter F. Parkes, E. Bennett Walsh e Rebecca Yeldham
Música: Alberto Iglesias
Fotografia: Roberto Schaefer
Desenho de Produção: Carlos Conti Direção de
Arte: Karen Murphy
Figurino: Frank L. Fleming
Edição: Matt Chesse
Efeitos Especiais: CafeFX / MK12 / Proof / Film Effects Co. Ltd.

Informações técnicas do filme retiradas do site http://www.adorocinema.com/.

29 agosto 2009

Tipo bar do Moe


A pessoa que gosta da noite... De viver na madrugada solitária e escura. Seja homem ou mulher, faz bem se adotar um bar para freqüentar regularmente. Um boteco, um pub, tanto faz. Pois o convívio junto da casa de bebidas pode trazer como conseqüência púberes relações sociais.

Não se trata de tribo. Mas um ambiente que te deixe aconchegante. Você torna-se, assim, pertencente do recinto. Dos seus acontecimentos. É um subterfúgio, e alguns o aderem por se sentirem à margem da sociedade popular e outros pela necessidade de ir ao encontro de novas experiências.

O deslocamento ao bar pode tornar-se rotina, mas o que acontece no seu interior á cada noite não. Imaginem quantos relatos de vida um dono de bar presente ouve por noite! É nessa peculiaridade que o hábito se torna tão interessante. A boemia pode ser um profícuo aprendizado. E são nesses cenários que se têm boas chances de conhecer mulheres interessantes e que gostem dessa tipicidade noturna.

Depois do trabalho cansativo, o melhor é relaxar, e uma das alternativas é essa - claro, se o convêm - : tomar um ou uns drinks no seu bar preferido. Sozinho, com os verdadeiros amigos ou com colegas da noite. Nesses momentos de lazer que brota a satisfação pessoal.

O fator básico que se deve levar em consideração para a adoção de um bar como segunda casa é o seu clima. Deve ser do seu gosto. A atmosfera de um lugar ideal para o blogueiro que escreve nesse espaço de disseminação de ideias é a de um bar sossegado. Nem um pouco agitado, de preferência subterrâneo; como já se viu em inúmeros filmes. À media-luz. Rusticidade deve ser um dos adjetivos. Quadros, muitos deles pendurados nas paredes de tijolo à vista. Mesas. Bancos acoplados ao balcão. Mesas de sinuca são dispensáveis. Se existirem, melhor. Não pode faltar uma grande variedade de bebidas. E a cerveja não pode acabar. Ver alguém da casa chegar com caixas de cerveja no meio da noite é amadorismo.

As músicas, o essencial de um bom bar: rock e suas ramificações, blues, jazz e reggae. Nada de pagode, sertanejo e outros gêneros. Com estas características o resto é de bom tom.

Seria ótimo se toda cidade do interior tivesse lugares assim.

27 agosto 2009

Faces da vida

Sempre quando coloco os pés nos ônibus sujos
Olho ao redor e lá estão: rostos lindos, feios, risonhos, cabisbaixos, carrancudos.
Jovens com cadernos descartáveis nas mãos, mochilas pesadas nas costas, sacramentando-as

Será que acham a transitória juventude tão boa quanto deveria ser?
Será que algo os aflige?
Questionam-se se são corajosos o suficiente para enfrentar seus medos?
Ou a maioria não dá a mínima pro futuro? Com a opinião de que talvez seja melhor assim.
Será que já se sentiram a um passo da insanidade?

Pra onde vão?
Em busca de dinheiro, garanto. Com o equivocado conceito de que é o principal para a meta da felicidade.
Não se dão conta que somente a amizade e a gargalhada são sinônimas de prosperidade.

Imaginem quantas lágrimas já derramamos, nós, humanos.
Com a maldita sensação e receio de inutilidade.
Somos assim, nascemos assim
Com a obrigação de lutar
Contra a tristeza, contra a carga negativa que recheia nossa cabeça.

Cabeça dura, contrária
Entupida de inquietações
Sadomasoquista
Com o deleite de nos levar á loucura.

Bukowski via as faces da vida e da morte no hipódromo
Eu as vejo no ônibus
Nos inconfortáveis ônibus
Se locomovendo para a existência

Enfrentando as situações, caindo e levantando
Em busca de um sorriso repentino
Olhando para a mãe que amamenta o filho no banco do transporte público.

22 agosto 2009

Escrever me liberta da negatividade. Não importa se o texto resulte em um lixo e seja recheado de erros de pontuação. O que interessa é o exercício de exteriorizar os pensamentos. E isso me faz bem, me satisfaz

Contra a epidemia do sedentarismo

Fazer exercícios físicos é imprescindível para a saúde e, por conseguinte para o bem estar do corpo. Essa é uma afirmativa mundialmente comprovada. Seja uma simples caminhada de uma hora, ou até um esporte mais complexo, que exija um esforço maior de energia. O importante é não se tornar sedentário. Apesar da maioria das pessoas (e eu me incluo nessa multidão) não seguir à risca o ideal, que seria realizar exercícios todos os dias. Quando fazem, certamente se sentem satisfeitos... Vivos.

Mexer o corpo faz bem pro organismo. Exterioriza aquele excesso de energia que está hibernada dentro de nós. Uma simples caminhada, ou uma pedalada nos faz arejar a cabeça. Enquanto o vento bate no rosto, esquecemos, nem que seja por uma hora, os imbróglios pessoais e profissionais que nos cercam no cotidiano.

Pesquisas já comprovaram que 70% dos brasileiros não praticam atividades físicas. Conclui-se, então, que o brasileiro é ocioso quando se trata do assunto. A causa de tal situação é, obviamente, agravante. O surgimento de doenças como: obesidade, hipertensão, diabetes, tabagismo, colesterol alto; têm ligação direta com a falta da prática de esportes.

Esse estilo de vida – a de não fazer esportes – pode ser responsabilizada por um dos, e principais fatores, de mortes por enfarto e derrame cerebral; as duas que mais matam no país. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), que fez um levantamento das capitais onde menos se faz exercícios de maneira suficiente, Rio de Janeiro aparece com 43,7%, Florianópolis (44,4%), São Paulo (35,4%) e Porto Alegre (30,4%).

A atividade física só traz benefícios para o ser – humano, tanto para a saúde, como para o pensamento positivo. Combate as mortes prematuras. É necessária para o saber viver. Dá-nos longevidade, mais chances e mais tempo de prazer.

Junto com uma boa alimentação, o esporte é necessário para o combate da obesidade mórbida. Moléstia esta, que sabemos que afeta e já afetou de forma intensa tantos norte-americanos.

Façamos esportes! Agradeceremos a nós mesmos.

Referência: <http://www.gallopersonal.com.br/novo_site/index.php?option=com_content&view=article&id=54:brasileiro-faz-pouco-exercicio-fisico-&catid=18:materias>

16 agosto 2009

Conforto alcançado

Nova moradia. Até que enfim. Demorou mas deu. Chegou ao limite da paciência morar num muquifo velho, feio, sem brilho; que nem se poderia chamar de apartamento, e sim, uma vila do chaves. A nova residência, essa sim, pode-se dar o título de apartamento decente. Espaçoso, com uma sala enorme (o anterior a área foi transformada num quarto). Nesse existem três quartos de verdade. O banheiro é impecável, da cor verde, e, o mais importante, com box. Extremamente oposto ao outro, que era uma aguaceira a cada banho. Estava mais para tortura. E quando a água da caixa acabava bem na hora de banhar-se... Não era agradável mesmo!

Não que seja fresco, bem pelo contrário. Mas se tu tens condições de locar um ambiente melhor, por que não? O conforto faz bem pro âmago. São novos aspectos, novos cheiros. E não o odor podre de mijo no vazamento do banheiro e do mofo dos parquês de um dos quartos. Incensos eram em vão.

O maior motivo da mudança é a privacidade, que é imprescindível para produzir. Antes era um entra-e-sai de pessoas naquele maldito portão barulhento. Agora nem vimos os outros moradores do prédio. Somente poucos barulhos de portas e passos. È um silêncio prazeroso. Quanto menor o contato com os vizinhos melhor. Sem falar dos conhecidos inconvenientes, que apareciam sem aviso prévio na hora que estávamos estudando. Eram poucos, mas existiam. Chatos sem tamanho.

Foi a primeira vez que participei de uma mudança, literalmente. Muitos dizem que fazer mudança é complicado. Não achei nem um pouco. Até por que não era um exagero de móveis. Isso ajuda muito. Coube tudo em um caminhão. O único trabalho é separar os pertences e nominá-los. O trabalho duro, braçal, paga-se para ser feito.

Imaginem que nem condomínio tinha no outro! Mas houve boas histórias lá. Ótimos momentos. E detestáveis também, estes em predominância.

Este possui bem mais peças... Vamos precisar de uma diarista para manter a limpeza. De preferência bem novinha e bonita.

Agora, no quarto novo, me desligarei da vida um pouco e entrarei no mundo dos sonhos e/ou pesadelos surreais que costumo ter. Cada noite, uma nova experiência. E serão muitas no novo endereço.

07 agosto 2009

A bonança material é inteiramente dispensável quando se está reunido a uma família em plena harmonia. Isso basta para reconfortar a alma.

01 agosto 2009

Versos de uma auto-ajuda barata

Não desista de ti, novo amigo
Tente não ficar deprimido
A maioria das pessoas só quer julgar
São más e querem te fazer chorar

Não importa quantos já foram os deslizes
Pense que em cada amanhecer há a chance de recomeçar
Prossiga com as suas virtudes, que poucos fazem questão de vislumbrar
Afinal, nessa passagem somos meros aprendizes

As pressões familiares sempre existirão
Na maioria das vezes o melhor é não dar ouvidos
Se não se transformam em um fardo insuportável
E acabamos ficando empacados

Reflexione o seu interesse e mergulhe na meta
Sem pensar em segundos
Vá sem medo
No final, tenho certeza, os intrometidos aplaudiram o êxito

Daí virá os elogios merecidos, mas não imprescindíveis
Como dizes: o mundo é cíclico
O seu prazer pode ser o desgosto de outrem
Se o que fizeres for incorruptível, o que importa o que dizem?

Seja um factótum, se for o caso
Não há nenhum mal há nisso
Crie
Pois, a prosperidade interior é o principal desígnio

24 julho 2009

Eu vivo numa redoma literária, fílmica e musical; e espero nunca sair dela. Pois, nela, absorvo todos os conhecimentos que acredito necessitar para coexistir.

17 julho 2009

O cultivo da laranja mecânica

Compatilhando. Uma trabalho da faculdade

Introdução

O artigo tem como pretensão fazer uma breve análise de âmbito cultural do filme “Laranja Mecânica” (A Clockwork Orange – 1971), baseado no livro homônimo de Anthony Burgess, e levado às telas pelo afamado diretor estadunidense Stanley Kubrick. A tarefa conterá comentários pessoais sobre a obra e em seguida ligações com pensamentos de alguns especialistas no assunto cultura midiática. A apreciação se dará seguindo três motes principais: o objeto na conceituação clássica de cultura, como produto cultural, e a maneira como a mídia tratou o filme na época do seu lançamento e como ela aborda, o mesmo, no tempo presente.

Sinopse

O enredo é ambientado em uma Inglaterra futurística não datada, e retrata o cotidiano transgressor de uma gangue de quatro jovens que saem para as ruas sujas e inóspitas da cidade para praticar desordens e “ultraviolencia”. Batem nos mendigos, estupram garotas, saqueiam casas e brigam com outros grupos da mesma índole. A história é narrada em primeira pessoa por Alex DeLarge (Malcolm McDowell), jovem evasivo de classe média alta e fã da música de Beethoven. É o protagonista principal do filme e líder do bando de malfeitores. A situação se inverte quando em mais uma de suas “visitas noturnas” em uma casa de uma senhora, Alex comete assassinato e logo após cai em uma cilada que o leva à prisão com detenção de 14 anos. Porém, é escolhido para ser cobaia de uma nova técnica do governo de reabilitação de apenados: o método Ludovico. Alex, então, é exposto a uma lavagem cerebral que consiste em sessões diárias de cenas de violência explicita. Justamente tudo que ele cometia. Agora, Alex corre o risco de sofrer e não ser mais capaz de cometer os delitos que sempre o deixaram alegre e satisfeito.

Impressões sobre o filme

Quem se interessa pela sétima arte sabe que Laranja Mecânica é uma referência mundial quando se fala de filmes subversivos, de imenso impacto emocional. Para muitos críticos e cinéfilos por hobby é visto como o primeiro dessa lista. Não é possível, então, pensar em cinema e não mencionar Laranja Mecânica. Está no seleto grupo dos ditos “clássicos” (aquela produção que fica imortalizada na história, que será sempre lembrada). Ganhador dos prêmios de Melhor Filme e Melhor Direção da Associação de Críticos de Nova York, e nomeado a quatro indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. Porque, afinal, o longa em questão possui tal mérito?

Costumo dizer que Laranja Mecânica é um filme multifacetado. Por trazer à tona diversas críticas à sociedade, é possível analisá-lo em diferentes enfoques. Em sua trama, versa de maneira verossímil sobre alguns temas, como: a delinqüência juvenil, o maniqueísmo político, a redenção através de arrependimento. Além desse fator, e principalmente, é porque creio que é totalmente original na forma de sua apresentação, não há nenhuma referencia de outras produções. Talvez seja por esses fatores que o torna extremamente formidável e chocante ao mesmo tempo.

Os personagens com um figurino peculiar, o cenário futurista, a fotografia extremamente limpa (típico do diretor Stanley Kubrick), a violência estilizada, todas essas categorias são pensadas criteriosamente com o intuito de hipnotizar o espectador; marcá-lo imageticamente no inconsciente. O uso de Beethoven na trilha sonora colabora com as cenas e situações. Parece que se encaixa simetricamente às imagens reproduzidas. Depois de olhar a sequencia de Alex estuprando a moça em frente ao seu marido cantando “I Singing In The Rain” de Gene Kelly, dificilmente você escutará essa música posteriormente e não se lembrará da cena.

O ponto fundamental do longa-metragem é o conflito entre o livre arbítrio do individuo e o controle do Estado nas imposições morais. O risco de o Estado adotar a violência como forma de dominação. Todo o filme discorre sobre esse cerne.
Kubrick mostra exatamente que quando a lei e a ordem desse método governamental falham acarreta na ascensão de grupos organizados, no caso Alex e seus “druges” (amigo, no dialeto Nadsat, amálgama de russo com inglês que Anthony Burgess inventou em seu livro).

Efeitos sociais e a representação da mídia no período

Na época não se acreditava que um filme desse tipo conseguiria uma produtora e menos ainda, que iria se safar da censura cinematográfica. Para a sorte dos envolvidos os anos 70 foi o período mais flexível na reprimenda de filmes na Grã-Bretanha. E ele saiu e foi o maior tremor social. As pessoas se chocaram com aquelas imagens violentas com visíveis traços surrealistas. A polêmica tomou conta do país. Foi tratado como perigoso. Os jovens, de certa forma, viram nele uma desculpa para se redimir de crimes e pedir diminuição de pena. Laranja Mecânica então ganhou o estigma de ilícito, ilegal.

A mídia, por sua vez, de informar e formar opinião deu maior ênfase ao assunto e uma série de noticias de crimes foi associada ao filme. As acusações de apologia à violência eram feitas. O fardo foi tão expressivo que Stanley Kubrick sofreu ameaças e acabou não agüentando ser responsabilizado por crimes e então tirou a obra de circulação dois anos depois de sua estreia. Durante 25 anos o filme não foi reproduzido na Inglaterra. No Brasil ele foi proibido na época que foi lançado, sendo liberado poucos anos depois, com a condição que a parte íntima da mulher no estupro fosse encoberta com uma barra preta.

O “produto cultural” Laranja Mecânica

Anthony Burgess fez uma forma de estudo cultural ao apresentar a realidade do meio onde passa a história. Assim como a Workers Educational Association (WEA) na década de 50, que teve como professores, Richard Hoggart, Thompson e Raymond Williams, precursores dos estudos culturais; que discutiam com seus alunos trabalhadores temas que tinham relação com a vida destes, Anthony Burgess usou da interdisciplinaridade (característica da WEA) ao mostrar criticamente as questões de seu livro. Filmado depois por Stanley Kubrick. Portanto, Laranja Mecânica já nasceu como um produto cultural que iria vingar e chegar à maioria da população inglesa e com o sucesso conquistado, consequentemente demoraria pouco para chegar à escala mundial.
Levando em consideração o antropólogo americano Gordon Matthews apud Nicole Reis dos Santos:

(...) o conceito "clássico" de cultura como "o modo de vida de um povo" e o conceito mais contemporâneo, que trata cultura como "as informações e identidades disponíveis no supermercado cultural global". (...) a oposição fundamental entre esses dois conceitos seria de que o primeiro coloca cultura como formada pelo Estado, e o segundo, como formada pelo mercado.
(REIS, Nicole I. dos. Resenha de "Cultura Global e Identidade Individual", de Gordon Matthews. 2003)


Tanto a obra literária como o filme retratam uma cultura inglesa imposta pelo Estado: o uso da prática pífia da brutalidade (lavagem cerebral) para amenizar a violência nas ruas, e o aproveitamento de políticos da situação do protagonista para fins de argumentos de oposição eleitoral. Desse modo, é a maneira de vida do povo mostrado por uma cultura estética, ou seja, o filme em questão; sendo este, um produto mercadológico.

A singularidade de Alex escutar somente Ludwig Van Beethoven, e ele tendo isso como a única música de valor; pode-se concluir que ele considera aquilo como uma cultura elitista, para poucos, já que está inserido nessa nata social. Então, se vê um aspecto cultural dentro do produto cultural, quer dizer, uma metalinguagem.

O fato de a produção ter sido feita com o orçamento de US$ 2 milhões, valor extremamente baixo se formos comparar com as grandes produções hollywoodianas, corrobora com a defesa de Douglas Kellner de que não é necessário um investimento muito alto, nem mesmo um significativo patrocínio do Estado para um produto ser considerado referencia de manifestação cultural. Não é o caso de Laranja Mecânica, mas reforça a ideia da importância de dar atenção aos produtos independentes.

O filme mais célebre de Stanley Kubrick virou uma febre mundial. Três anos após a sua feitura, na Copa do Mundo de 1974 a seleção holandesa de futebol foi batizada de “laranja mecânica”, pelo seu estilo tático inovador; alusão ao filme. Profetizou o movimento Punk, do qual se alimentou com a atitude anárquica e violenta da classe operária, concebida pela película. Atualmente, é o filme preferido de muitos adolescentes, camisetas com estampas de Alex são sempre confeccionadas, obras de todos os gêneros são baseadas no filme e a mídia hoje o eterniza como Cult.

Conclusão

A qualidade em todos os quesitos que envolvem uma produção cinematográfica e o seu teor contestador tornou Laranja Mecânica uma obra-prima indiscutível. O abalo que gerou, não só na população inglesa, mas em todo o planeta dá acesso a ser estimado como um “produto cultural” de grande autoridade na história do cinema. E destaca, acima de tudo, o poder de representação e transformação que uma manifestação cultural é capaz de perpetrar na sociedade. Por tal razão, que se vê a importância que contem o estudo analítico de um invento de comunicação midiática.

Referências

LARANJA MECÂNICA. Roteiro, produção e direção de Stanley Kubrick. São Paulo: Warner Bros. Entertainment Inc, 2007. (136 min.): DVD, NTSC, son., color. Legendado. Port.


O TEMPO NÃO PÁRA: O RETORNO DE LARANJA MECÂNICA. Produção e direção de Paul Joyce. São Paulo: Warner Bros. Entertainment Inc, 2007. (44 min.): DVD, NTSC, son., color. Legendado. Port.


A FORMAÇÂO DOS ESTUDOS CULTURAIS. In: CEVASCO, M. E. B. P. S. . Dez Lições de Estudos Culturais. 1. ed. Sao Paulo: Boitempo, 2003. v. 01. 188 p.


REIS, Nicole I. dos . Resenha de "Cultura Global e Identidade Individual", de Gordon Matthews. 2003 (Resenha).
Disponível em < pid="S0104-71832003000200016&script=" tlng="pt"> Acessado em 8 de Julho de 2009
Para quem, eventualmente, lê os pensamentos que publico nesta página, digo que o motivo da ausência de novas postagens é a minha dedicação exclusiva para os livros e filmes. Aproveito a folga das presenças na academia para tal exercício: ler excessivamente e olhar filmes. Até porque não existe a pretensão de uma periodicidade definitiva neste meio em que socializo textos subjetivos. Publicar aqui as poucas produções que faço é uma questão de disposição e não de prioridade.

Fico totalmente lisonjeado em saber que alguém acessa (ou acessou ao menos uma vez) o blog e tenha lido algum texto. Muito Obrigado a todos os raros leitores do Cogumelo do Zebu!!

27 junho 2009

O adeus de mais um rei



Boa parte do planeta está de luto. Morreu, aos 50 anos de idade, Michael Jackson - o intitulado "Rei do Pop". Vitimado por uma parada cardiorrespiratória ele se foi derrepente e a triste notícia nos pegou desprevenidos. Sem nos dar a chance de prever sua partida. Michael estava em meio a uma preparação para voltar aos palcos com 50 shows marcados em Londres e seus fãs ansiosos para revê-lo em boa forma. Vontade cortada ao meio agora.

Lembro-me quando criança de pegar um disco de vinil e ver um negro com cabelos cacheados e vestido elegantemente com um terno branco. Óbvio, não tinha a noção do que aquilo significava. Anos depois entendi que se tratava de um clássico musical, Thriller, o álbum mais vendido de todos os tempos; 104 milhões de cópias. Marca quase impossível de ultrapassar.

Por seu talento musical e coreógrafo, Michael reinou nos anos 80 e 90. Ganhou todos os prêmios que merecia. Seus hits de maior destaque, Billie Jean, Thriller, Beat It e Bad chegaram ao topo das paradas e tocaram incessantemente nas ruas e em casas de família. Suas danças peculiares com seus passos deslizantes fascinaram as pessoas de todas as faixas etárias, mundialmente. O que fez surgir incontáveis imitadores e sósias da sua figura exótica.

Seus videoclipes de alta produção em forma de curta-metragem marcaram época nos canais televisivos, principalmente na MTV, onde nunca foi tão tocado; mais do que qualquer outro artista de notoriedade. Dentre suas tantas imagens e aparições no auge do seu sucesso, a sua visita à favela no Brasil e sua gravação com o grupo Olodum, querendo admitir ou não, foi um momento que ficará na memória não só dos seus admiradores mais devotos, mas de qualquer um que se ligue em música e na cultura artística.

Michael Jackson sempre foi uma figura curiosa. Sua transformação imagética, do preto pro branco e do seu rosto semelhante a uma caveira assustou a todos, assim como seus transtornos psicológicos que o tornaram um sujeito extravagante e maniático. Distúrbios que decorreram na sua decaída e reclusão. Depois vieram as acusações de pedofilia que certamente corroboraram no desvio do artista para o criminoso.

O pop star foi mais um que não soube lidar com a vida da fama. Convivas dizem que era uma pessoa sensível e afetada por sua infância (ou falta dela) sofrida com seu pai rígido que privava a liberdade dos seus filhos. As situações de escândalo do ídolo pop o desgastaram. Não produzia mais e vivia encarcerado em seu castelo, brincando como uma criança sem amigos nos seus brinquedos. Resultado do esbanjamento para trazer a infância perdida: uma dívida de cerca de 800 milhões de reais.

Os fãs órfãos em toda a parte do mundo ignorarão os acontecimentos infelizes da carreira do seu ídolo e o lembrarão nas duas décadas de imensurável sucesso. Trajetória que resultou na venda de mais de 750 milhões de discos. Agora com sua morte toda sua carreira será revitalizada e nos próximos meses o "produto Michael Jackson" venderá excessivamente. E todos sairão ganhando, menos ele.

Sua passagem contundente o fez se tornar em mais um mito imortal. Sua fama equipara-se aos Beatles e a Elvis Presley. Aliás, a referencia de Michael Jackson está para a música pop assim como o Elvis está para o rock.
Lembre-se de uma parceria memorável entre o "Rei do Pop" e o rock:
http://www.youtube.com/watch?v=RPDZiyimdqg

25 junho 2009

Deu Cruzeiro na primeira parte da guerra azul. Já se esperava, pois em termos de qualidade é superior ao Grêmio e sabem aproveitar as chances que surgem. Ao contrário do tricolor que tem como hábito o desperdício de gols de fácil finalização. Nervosismo ou incompetência? Aliada com um pouco desses dois fatores, a falta de sorte acrescenta as deformidades.

É difícil de acreditar. O Grêmio investiu em três bons atacantes para a temporada, sendo que um deles um centroavante matador (pelo menos era o que vinha mostrando) acostumado em disputar a artilharia anual: Alex Mineiro. E nem assim acontece a efetividade nos arremates. Alex mineiro não deu certo, e nem vai dar. É apenas mais um a entrar na lista de jogadores de renome que não vingaram no Olímpico, ao lado de Luizão, Amoroso, Tuta e outros que não perderei o tempo em recordar.

A vitória de 3 x 1 do Cruzeiro foi justa, mas o gol de falta de Souza fez o tricolor dos pampas renascer. Agora o Grêmio vai com todas as forças para reverter em sua área campal, munido das armas de alentos incentivadores que rugem de sua Torcida Geral. Até porque sua história não nega: o Grêmio é um time especialista em missões impossíveis.

24 junho 2009

É hoje... O início de uma batalha em azul. Grêmio e Cruzeiro se encaram em busca da final do torneio de futebol mais importante da América – a tão cobiçada Libertadores. O efeito da peleja é de tensão. Cruzeirenses e gremistas mais ortodoxos por certo acordaram para o dia com uma sensação diferente. O pensamento latente no jogo não se desprendeu em nenhum momento da mente, como um fantasma do nervosismo. E, no presente momento; duas horas precedentes ao jogo, os fanáticos já fizeram a sua organização supersticiosa: ligaram o rádio, foram à igreja rezar, acenderam as velas, compraram a cerveja, combinaram o local com os amigos, pegaram as bandeiras, entre outros misticismos que comprovam a devoção.

Doze anos depois, as duas equipes se reencontram no campeonato. Na última oportunidade quem levou a melhor foi o clube mineiro. Eliminou o tricolor gaúcho. Derrota que deixou amarguras até agora na garganta do torcedor. Portanto, essa semifinal é a chance do revide. A disputa tem, dessa vez, um fato coincidente; o atual técnico do grêmio Paulo Autori será o único a assistir e sentir a emoção dos dois encontros do mata-a-mata (em 1997 ele comandava o Cruzeiro).

Os torcedores devem estar com as pernas tremendo e relembrando façanhas de suas equipes. Mas, a dica que sempre dou nessas horas é não ser demasiado otimista na vitória, e sim “entrar para o jogo” um pouco desacreditado. Isso ameniza a ansiedade pré e durante a partida e, principalmente, diminui o sofrimento na pior hipótese, afinal já se pressentia. No entanto, esse pensamento não deve estar acima da crença, até o último minuto, na vitória – essa é a porta para o triunfo. Por mais complexo que seja é preciso equilibrar as emoções.

Que o resultado desse prélio seja justo.

23 junho 2009

Poema da má digestão (ou não acredito que escrevi isso)

Queimação
Meu estomago está pegando fogo
Não há como dormir assim
Nem o que fazer nessa situação

Parece que estão escavando a minha parede estomacal
Abrindo buracos, crateras
Insuportável sensação
Cuspirei fogo como um dragão

Come porcaria come!
Esses lanches podres de rua
Parece que não aprende!

Maldito refluxo gástrico!
Estragou meu sono tranquilo
O jeito é esperar amanhecer
Até lá a dor já vai ter passado

Mas o sono virá para se vingar.

Essa não é a melhor forma de expressar isso.
Não importa!
Escrevo, já que não posso dormir
Nothing else matters!

14 junho 2009

Na penumbra de uma noite qualquer

A madrugada. A mais perfeita parte do dia. É nela que você fica a sós com você mesmo e com seu computador. Com seus pensamentos – bons ou ruins. Ela proporciona a autorreflexão, a avaliação dos seus atos. Ela é uma boa companheira. O silêncio dela é relaxante.

Ideias criativas, grandes projetos, belos poemas, inteligentíssimas composições; a arte sai dela... Da madrugada. O isolamento muitas vezes não é maléfico, e sim um momento de inspiração.

Apesar de não poder ser sempre, viver na noite é bom. Acordado na madrugada com suas vontades interiores. Essa é a melhor hora para se expressar; colocar num papel, ou agora, digitar toda sua meditação. Não se trata de insônia, mas prazer pelo momento da privacidade.

Sou, como muitos, um amante da madrugada... Da noite... E da calmaria que ela nos presenteia; junto com a música, com os filmes, com a leitura, ou até mesmo sem eles. Só comigo.

07 junho 2009

A estreia num outro modo de viver

Ontem, sábado, foi um dia atípico. Divino. Pela primeira vez participei de um seminário da luz, promovido pela filosofia milenar japonesa Seicho-no-ie. Foi uma tarde inteira de retiro espiritual. Palestras, relatos de experiências, muita oração, meditações, abraços fraternos, harmonia; todas essas benevolências em seis horas de desapego do tempo... De desprendimento do mundo material.

Em uma sala de cinema, cerca de 400 pessoas transcenderam o mundo real e habitaram, com uma só corrente de mentes na positividade, um espaço iluminado de paz interior. Adeptos da Seicho-no-ie de variadas cidades da região missioneira e fronteira-oeste do Estado se locomoveram até o município de Cerro Largo para compartilhar os ensinamentos da filosofia.

Saiba o que é Seicho-no-ie

Apesar de ter tido oportunidade de conhecer somente a praça principal da cidade supracitada e um pouco dos seus arredores, pareceu-me bem aconchegante e acolhedora. A primeira beleza que salta aos olhos são as mulheres loiras (morenas são raridades na cidade). Até porque não poderia ser de outra maneira, já que se trata de uma colônia alemã.

Voltando ao foco principal da ideia. Orientadas pela preletora da sede internacional da Seicho-no-ie, Professora Marie Marakami, as quatro palestras foram enxurradas de água fria nos rostos mais desanimados. Com um gestual eloquente Marakami discorreu sobre os temas: “A mente muda o ambiente e o destino”, “Conheça os segredos da prosperidade”, “Para conseguir a verdadeira felicidade no lar” e “Explicação e Prática da Oração da Cura”.

Palavras intensas saiam daquela mente harmoniosa. Doutrinas que possuem o poder de levantar até defunto. Ela passava com seu sorriso de mãe uma segurança... Uma tranquilidade espiritual que revigorava, a cada expressão que proferia, a gratidão pela vida e a coragem de enfrentar os reveses que originam da mesma.

Realmente acredito que a finalidade principal da religiosidade é o poder que a crença, em qualquer modo que seja, têm de nos metamorfosear... De nos tirar de uma situação errada e nos fazer perceber que somos capazes de estarmos em uma circunstância mais próspera. A fé salva mesmo.

Além da conveniência desse momento ímpar de serenidade e revitalização que o seminário proporcionou, a excursão foi (como quase todas são) um momento de bem-estar e de contatar novas pessoas.

Então, como vai, Fábio? Cada vez melhor!!

Muito Obrigado!! Muito Obrigado!!

29 maio 2009

Uma afinidade auspiciosa

Pela abertura de duas portas que separam dois quartos num apartamento de universitários, trocam-se informações sobre produções cinematográficas e musicais. Duas paixões de dois estudantes de jornalismo que raramente pensam em outra coisa a não ser os seus nichos culturais artísticos preferidos.

Um vive pro cinema e o outro para a música. Poucas coisas em suas vidas lhes dão mais prazer do que ver um longa-metragem e escutar álbuns musicais. Enquanto um coleciona filmes de todos os gêneros e possui uma videoteca em sua casa (em torno de 5000 títulos); o outro tem o mesmo vício por álbuns de variados gêneros musicais, e busca aumentar sua coleção incessantemente.

Vem ver um vídeo aqui! Escuta só essa música! Chamamentos como esses são proferidos todos os dias pelo vão dos seus quartos. Um evoca o outro eufórico para mostrar mais uma novidade ou um filme/música antiga (o) que há tempos não escutavam/ouviam.

Principalmente por conta dessa idolatria de ambos pelas duas artes, cada um no domínio da sua, que a amizade brotou de forma natural e extraordinária. O entendimento foi tão grande que nunca tiveram uma mínima discórdia desde que começaram a morar no mesmo teto. Por conta do estudo. Há um pouco mais de dois anos.

Apesar de um ser sete anos mais velho que o outro, eles não possuem mentalidades drasticamente divergentes. Muito pelo contrário, são detentores de pensamentos muitas vezes idênticos. E a diferença de idade só torna a convivência mais profícua no sentido de trocarem experiências vividas. É espantoso. Um pensa e o outro fala tal qual o pensamento do primeiro e vice-versa. Se os deixarem, são capazes de discorrerem por horas e horas sobre a cultura pop.

“O mais valioso dessa afeição é a troca de conhecimentos que praticamos... A partilha de informações do mundo da música e do cinema. Isso acaba por nos engrandecer intelectualmente no que realmente nos interessa. O resultado é a idéia de múltiplos projetos que temos o objetivo de realizar, aliando essas duas artes que se complementam”. Fábio Gudolle

08 maio 2009

A chegada do show nacional mais aguardado

A atração principal e mais esperada do último fim de semana, o show d’O Rappa, sucedeu de forma impecável. A performance da banda não difere das vistas pela tela da tevê. Porém, ao vivo, a sensação de furor é muito maior.

Falcão, ao balançar, como sempre, seu cabelo duro e esvoaçante no ar exaltou a platéia de jovens e de alguns "coroas" espalhados nos cantos. Os samples bem feitos e criativos da abertura já dizem logo de cara o que virá e de como será o restante da apresentação.

O show segue uma freqüência só. Não se nota uma decaída que deixe os espectadores totalmente acuados. Houve, e há sempre, grandes elevações em certos momentos, principalmente na hora de “Pescador de Ilusões” e “Me Deixa”. As duas arrancaram mais gritos e saltos que as demais. Mas uma diferença mínima, quase imperceptível.

O repertório transitou nos maiores sucessos da banda. Não todos, até porque se fossem tocar todos teria que ser um espetáculo de no mínimo duas horas. Inserções de músicas do novo trabalho, 7 vezes, foram feitas também.

O comportamento do conjunto é de simplicidade (talvez por isso seja tão belo). Nada de estrelismo e sim com uma dose grande de humildade. Falcão sempre comunicativo agradece e rasga elogios a cada música. Isso deixa a platéia confortável.

Se realmente aprecia a banda deve olhar no gargarejo, definitivamente. O mais perto possível do palco. E registrar. Filmar as preferidas.

Independentemente da duração do show, sempre a vontade é de que poderia ter sido mais. No entanto, você logo pensará que “valeu a pena, êh êh”. E quando se tratar d’ O Rappa, sempre valerá mesmo.






30 abril 2009

Dias para aliviar a carência familiar

É hoje. As malas já estão prontas para mais uma viagem. Há três anos que fazer malas na maioria dos fins de semana virou rotina. Está bem que são viagens rápidas. Sempre na rota: São Borja, Itaqui, Santo Ângelo. Raramente se desvia desse trajeto.

Dessa vez o destino é Santo Ângelo. A missioneira. Onde se encontra a catedral mais bela que conheço. E localizada numa praça igualmente rústica, do porte que merece.
Trata-se, na visão do que vos fala o principal ponto turístico da cidade. Encantadora.

Lá, a família materna me espera. Minha irmã me espera. Todos de braços abertos para trocarmos abraços carinhosos e seguros. Mataremos a saudade. E além dos reencontros, para aperfeiçoar ainda mais a passeio, dois shows musicais me esperam. Apresentações que há tanto aguardava: O Rappa e Zé Ramalho. Uma das bandas nacionais de maior qualidade rítmica desde o começo dos anos 90 e a voz mais potente da MPB. Espero contar os detalhes.

A fase: bom... Ou ruim. A fase é de desligamento e de ostracismo intelectual.

19 abril 2009

Uma vida se extingue e outra nasce

Em meio à recuperação de uma perda familiar aparece uma criança em nosso convívio. A sua chegada, de hora tão oportuna, soa como se fosse milagre; coisa dos anjos. Gentil é o nome da fera. Não poderia ser mais sugestivo. Esse anjo caiu na terra de forma divina, como uma sinfonia de Beethoven.

Quem sabe trata-se de um prodígio, com um talento incomum e mágico. Veremos. O simples fato de ser da família e o agente principal da continuação do sobrenome, já o tornam especial. Sem dúvida sua aparição foi para nos entreter num momento difícil. Arrancar de nós muitas risadas com suas traquinagens, tão habitual das crianças.

É um moreninho sapeca, arteiro, com um olhar e um sorriso hipnotizante. Sua presença é calmante. Exalta em nós um sentimento de prazer pela vida. A propósito: se existir, o que acho muito difícil, alguma coisa mais inocente do que o sorriso de uma criança; apresentem-me.

Sempre pensei que ter um filho... Gerar um ser – humano... É o sentido da vida. Tenho isso como um preceito indubitável. Só de imaginar que ensinarás e passarás todo teu conhecimento e experiência a outrem torna o desafio tentador. Porém, a procriação deve ser bem pensada e planejada. Até porque ter filho é caro. O ideal é que se tenha uma situação financeira estável. Mas isso não chega a ser um entrave, dado o encanto que a criação oferece. Tudo se ajeita.

Enfim, Gentil é ele! Comemoramos diariamente a sua vinda e acompanhamos atentos sua evolução.



Gentil Martins Oliveira. O mais novo primo

05 abril 2009

Luto! Uma perda e tanto

A morte. Um dia ela chega. Essa é a única certeza que temos na vida. Torcemos para que ela demore em dar as caras. Que ela apareça quando estamos velhinhos, sem forças e já exaustos. Desejamos que seja indolor e natural. Na tranqüilidade do sono. Simplesmente com o coração parando de palpitar sem sentirmos que estamos partindo.

Mas, infelizmente, a morte insiste em aparecer da pior maneira. Em forma de acidentes, tragédias dos mais dolorosos tipos. Na juventude, interrompendo no caminho, o que poderia ser uma longa trajetória de vivencia e bondade. Pais enterrando filhos é desumano. O sofrimento é imensurável.

É quase insuportável quando o óbito vem aos poucos, por doença. Nesse caso observamos a morte se instaurar na pessoa e a dissecar dia após dia, hora após hora. O corpo perde a carne e se transforma em pele e osso. Esse é o semblante, arrepiante, da morte. E, apesar de dificultoso, devemos enfrentá-la. Não tem saída. È a lei da vida. Somos mortais e vamos para outra dimensão. Melhor, espero.

Agnósticos pensam que somos como uma pilha. Acaba e pronto. Digo que tudo depende de como se encara a existência. O nosso destino a crença traça. O pensamento, a fé individual que vai dizer se a morte existe ou não. Se ela é apenas material ou também espiritual.

A triste realidade é que se perde a convivência com a pessoa para o resto dessa vida. Porém uma coisa nos conforta: o reencontro dela com os antepassados. Passarão a coexistir novamente.

Por mais que se presuma a hora derradeira, no momento demoramos á acreditar. Ficamos sem ação. Sentimos aquela sensação de aperto no céu da boca e vertemos lágrimas de tristeza e paixão. O que resta, então, é desejar uma boa viajem e agradecer os ensinamentos deixados pela pessoa. Crescemos com isso. Como disse Nietzsche: "Tudo aquilo que não nos mata, nos torna mais fortes".

Vai bem vó! Folgazona e forte como sempre foi. Exemplo de mulher! Obrigado por tudo! Fará muito falta.

29 março 2009

Orgulho do gauchismo

Manhã de domingo
Mateando solito
A carne descongela
No sol que bate no meu ninho

O nativismo ressoa no rádio e na tevê
Senhor! Não deixe que as tecnologias façam das tradições do gaúcho um mito
Que o sapucay sempre seja um colírio pros ouvidos
Mazoigalêteee!!

Descascar uma corda de fumo
Dar um corte na branca
Encher o bucho de carne
E engraxar o bigode de granito

Bom começo para um dia de domingo
Diga-me qual outro costume é mais bonito!?
Aonde quer que esteja sempre irá transparecer as raízes
Ser gaúcho não é somente ter nascido nessa pátria
E sim cultivar essas matizes

É mais que um Estado, é um estado de espírito...
Um país à parte
Viva o Rio Grande!!
Muchas Gracias aos antigos.

Vitor Ramil - Loucos de cara

Nunca é tarde para descobrir. Que música! Essa é de uma inteligência impar. No auge de uma inspiração divina. Impressionante. Na primeira audição me conquistou. Soou como um hino universal. Por favor! Escutem a música!

Vem
anda comigo
pelo planeta
vamos sumir!
Vem
nada nos prende
ombro no ombro
vamos sumir!

Não importa
que Deus jogue pesadas moedas do céu
vire sacolas de lixo pelo caminho
Se na praça em Moscou
Lênin caminha e procura por ti
sob o luar do oriente
fica na tua
Não importam vitórias
grandes derrotas, bilhões de fuzis
aço e perfume dos mísseis nos teus sapatos
Os chineses e os negros
lotam navios e decoram canções
fumam haxixe na esquina
fica na tua

Vem
anda comigo
pelo planeta
vamos sumir!
Vem
nada nos prende
ombro no ombro
vamos sumir!

Não importa
que Lennon arme no inferno a polícia civil
mostre as orelhas de burro aos peruanos
Garibaldi delira
puxa no campo um provável navio
grita no mar farroupilha
fica na tua
Não importa
que os vikings queimem as fábricas do cone sul
virem barris de bebidas no Rio da Prata
M´boitatá nos espera
na encruzilhada da noite sem luz
com sua fome encantada
fica na tua

Poetas loucos de cara
Soldados loucos de cara
Malditos loucos de cara
Ah, vamos sumir!

Parceiros loucos de cara
Ciganos loucos de cara
Inquietos loucos de cara
Ah, vamos sumir!

Vem
anda comigo
pelo planeta
vamos sumir!
Vem
nada nos prende
ombro no ombro
vamos sumir!

Se um dia qualquer
tudo pulsar num imenso vazio
coisas saindo do nada
indo pro nada
se mais nada existir
mesmo o que sempre chamamos
REAL
e isso pra ti for tão claro
que nem percebas
se um dia qualquer
ter lucidez for o mesmo que andar
e não notares que andas
o tempo inteiro
É sinal que valeu!
Pega carona no carro que vem
se ele é azul, não importa
fica na tua

Videntes loucos de cara
Descrentes loucos de cara
Pirados loucos de cara
Ah, vamos sumir!
Latinos, deuses, gênios, santos, podres
ateus, imundos e limpos
Moleques loucos de cara
Ah, vamos sumir!
Gigantes, tolos, monges, monstros, sábios
bardos, anjos rudes, cheios do saco
Fantasmas loucos de cara
Ah, vamos sumir!

Vem
anda comigo
pelo planeta
vamos sumir!
Vem
nada nos prende
ombro no ombro
vamos sumir!



26 março 2009

O falso bem-estar do sono

Dormir é bom. Bom é pouco, é ótimo. Quem não aprecia tirar uma pestana depois do almoço? Mesmo tendo que ser não mais que meia horinha, antes de regressar à labuta novamente. Esse mísero descanso já renova a disposição... Relaxa os músculos. Mas claro que fica sempre aquele gostinho de querer repousar mais. Como é prazeroso quando se pode fazer isso!

Felizes são os argentinos que adotaram o início do horário comercial às 16h. São capazes até de colocarem pijamas para sestear. Podem os chamarem de preguiçosos, mas duvido que se acontecesse o mesmo aqui não ficaríamos satisfeitos. Assim, poderíamos gozar daquele sono profundo da tarde, mais tranqüilos. Até sonharíamos.

Enquanto se é somente um mero estudante, as chances de tirarmos essas sonecas são mais fáceis. Mesmo estando atrelado de tarefas, chega um momento que não resistimos ao olharmos para a cama e pensamos: Ah! Que mal tem deitar e descansar um pouquinho!? E então, quando você abre os olhos depara-se com o crepúsculo e perde um tempo que poderia ter sido bem aproveitado para adiantar os trabalhos.

Particularmente, sinto-me culpado quando acontece essa situação - dormir mais que o necessário. Não entendo como existem pessoas que não dão a mínima e priorizam o passatempo, deixando suas responsabilidades em segundo plano. Sinto-me inútil se ao final do dia chego a conclusão que não produzi nada... Não realizei nada de benéfico para o meu intelecto.

Adormecer fora do horário de costume é uma tentação e também um refúgio (infeliz) no caso de desmotivação. Aquele dito popular realmente é verdadeiro: a preguiça é um dos maiores inimigos do homem. Portanto é necessário sempre afrontá-la. E como fica o prazer de dormir? É preciso saber equilibrá-lo.

24 março 2009

Uns Pitos

Noite de domingo bem vivido
Em São Borja
Pito um palheiro na janela de casa
Só pra fazer fumaça, sentir o cheiro e o gosto do fumo amarelo

As vizinhas em frente não sentem nada
Nem mesmo o cheiro,
Tampouco a presença de um espião

A arte de fechar um palheiro de corda...
Faz-nos recordar os tauras na madrugada dentro dum galpão
Tomando canha, contando causos ao redor de um fogo de chão

A boca secou
A ponta da língua ardeu
Os dedos já amarelaram
E o fedor do fumo queimado impregnou nas unhas e mãos

Obrigado Senhor!
Pelas cervejas e os palheiros de cada fim de semana.

23 março 2009

Meditação de uma noite qualquer

Escutar um jazz antes de dormir
Na companhia de uma dose de uísque amigo
Faz relaxar o corpo e se despreocupar...
Consigo... Eu consigo!

Afasta os infortúnios
Enche-nos de esperança e vontade
De seguir sempre avante
Sem medo de buscar o rumo da tranqüilidade

Se for um jazz na voz de Elis...
Arrepia os pelos do corpo
Provoca um susto na emoção
Seu timbre faz a gente dormir orgulhoso e feliz.

12 março 2009

Para a felicidade, ou não, dos seus torcedores: Grêmio vence em partida decisiva e Celso Roth permanece

Como era de se esperar, o Grêmio, apresentou um futebol razoável na Colômbia, ontem, contra o Boyaca Chicó. Conseguiu chegar à vitória de 1 a 0, somente em uma bola parada. É verdade que a atuação foi mais estável e organizada que os dois jogos anteriores, porém não satisfez 100% os gremistas.

Roth pressionado pela torcida e direção montou o time com um esquema aceitável (3-5-2). Levando em consideração que a equipe possui em seu plantel cinco avantes. O treinador caiu na real que a tática 3-6-1 é loucura.

O tricolor entrou em campo com fome de bola, criou muitas chances de gol, mas a notória falta de qualidade de finalização impediu a abertura do marcador. Muitos passes errados fizeram com que o time colombiano jogasse de igual para igual em certos momentos do primeiro tempo. O gol só saiu de uma jogada individual aos 31 min em uma arrancada de Souza que acabou derrubado na entrada da área. Habilidoso em cobranças de falta, o meio-campo chutou forte no canto direito do goleiro Prono, sem chance de defesa para tal.

Depois de abrir o placar, o Grêmio provou a sua superioridade até o final do jogo, ainda mais depois que Mahecha foi expulso por simulação aos 24 min do segundo tempo. Atacava sem parar. E novamente errava gols inacreditáveis. Como na primeira partida contra o Universidad do Chile, foi um festival de gols perdidos, 10 dessa vez.

Jonas e Herrera foram os protagonistas de quatro lances de gols imperdíveis. Em um dos ataques, Jonas perdeu, na sequência de um mesmo lance, três gols feitos. Esse desperdício de gols por jogo está se tornando costume. Se contabilizarmos as duas partidas da Libertadores, foram 25 gols perdidos. Surge, então, uma nova indagação: será que esses desacertos são culpa do técnico?

Celso Roth respirou aliviado. Safou-se da demissão e ficará agora durante toda a competição sul-americana. Até porque seria um equívoco tirá-lo no meio da competição. Dificilmente daria tempo para a equipe se readaptar ao trabalho de um novo comandante. O Grêmio, por sua vez, foi o de sempre, com dificuldades para ganhar, o que já é natural. A cada jogo, um novo sofrimento para os gremistas.

06 março 2009

Ganhou o melhor e mais corajoso

No GreNal de número 375, que valia o título do primeiro turno do Gauchão, novamente o inter foi superior e esmagou o seu rival em seu território. Os jogadores do Grêmio estiveram no gramado somente de corpo presente, mentalmente pareciam perdidos, inoperantes, desmotivados. Um dos possíveis pretextos para tal atitude do time foi a entrevista dada pelo seu técnico na véspera do clássico. Celso Roth tratou o duelo com desdém, dando ênfase à libertadores.

Posicionamento infeliz. Como que um técnico, antes de uma final, seja ela de qualquer proporção, vai dar visivelmente importância à outra? Isso abala qualquer equipe! É preciso ter ambição de vitória, e passá-la aos jogadores, a cada partida. Virtude que falta e muito ao comandante do Grêmio.

Não bastando o erro, Roth deixou os gremistas, sem exceção, irritados ao insistir no esquema insensato e pífio de 3-6-1, que já não tinha dado certo na estréia da libertadores. Um conglomerado no meio-de-campo e o isolamento do ótimo centroavante Alex Mineiro, que nada pôde fazer, foi o resultado da inacreditável tática.

“Mas o que é isso? O Grêmio até parece treino da categoria fraldinha... Todos correndo atrás da bola!”, este foi um comentário gritado de um gremista inconformado ao meu lado.

Assim, o Internacional, com facilidade se aproveitou da atrapalhada do técnico tricolor e a consequente ineficiência de seu time. Encurralou o adversário. Tomou conta do jogo. Pressionou incessantemente, e só não marcou porque Victor outra vez foi milagroso, defendendo três chances claras de gol do Inter. E cá entre nós, apaixonados por futebol, time que geralmente o goleiro é o único destaque na maioria dos jogos, não pode mesmo estar bem!

No inicio do segundo tempo, a situação do jogo continuou a mesma; para alegria da metade vermelha do Estado e aflição da parte azul. Só depois que Índio (agora goleador em grenais com quatro gols) abriu o marcador procedido de uma bola parada e presenteado por uma linha de impedimento burra tricolor, que Celso Roth mexeu no time. Jonas foi colocado e deu uma melhora no conjunto, como sempre acontece. Com o esforço dele que saiu o gol de empate, ao escorar a bola na entrada da área para Alex Mineiro. O centroavante não pensou duas vezes e chutou no ângulo. Gol belíssimo, digno de um exímio artilheiro.

Quando a igualdade deu uma esperança aos gremistas, Roth mais uma vez errou a mão e tirou o lateral Jadílson e colocou Héverton. Um zagueiro! O cúmulo da covardia. Aí a lambança foi geral. O tricolor gaúcho não esboçou mais nenhuma perspectiva de reação. Então o Inter, soberano, como foi no jogo inteiro e com a apresentação excelente de todos os seus jogadores, se esbaldou como antes. Decretou a vitória merecida aos 32 minutos com Magrão de cabeça. O resultado foi justo e o Inter deu uma aula de futebol e ousadia no Grêmio.

Ao final do jogo, Fernando Carvalho pôde, finalmente, suspirar e se despreocupar. O seu time do coração levantou a taça que leva seu nome. Agora sim, o Grêmio é freguês do Inter e é obrigado a vencer o segundo turno do certame, a taça Fábio Koff. É o mínimo que pode dar de recompensa aos anos vitoriosos que ele dedicou ao clube.

Celso Roth (que perdeu a quarta para Tite), admitiu que não errou ao usar o esquema e disse que foi um teste. Ora, todo mundo sabe que GreNal não é a melhor hora para testar a equipe!

A torcida gremista, quer a cabeça do técnico. No dia 11, Roth tem sua última chance de permanecer no Olímpico. Na próxima empreitada do Grêmio na Libertadores, contra o Boyacá Chicó da Colômbia. Se não ganhar, é quase certa sua demissão; por incompetência

02 março 2009

Uma apresentação arrebatadora


O belíssimo show acústico, Skin and Bones, da banda americana Foo Fighters, registra parte da turnê do álbum duplo In your Honor de 2005. Ganhador de Disco de Ouro no Brasil. Gravado no Pantages Theater em Los Angeles em 2006, o álbum e o dvd não mostram a apresentação habitual enérgica da banda, mas sim um concerto intimista e hipnotizante.

Transmitido de forma condensada pelo canal Multishow no final do mês passado, ele não perde seu valor, muito pelo contrário só instiga a vontade de adquirir o material e apreciar o espetáculo em seu total.

No set list, músicas do quinto trabalho do conjunto e sucessos consagrados, como: Big Me, Times Like These, Best of you e Everlong. Todos com uma releitura nova, desplugada. O que não deve ter sido um grande desafio para a banda, já que o seu líder – Dave Grohl – é um dos mais completos e talentosos músicos do planeta; e ainda por cima poder contar com uma ótima banda de apoio. Para dar um toque clássico na performance, instrumentos eruditos foram adicionados na maioria do repertório.

O cenário só colabora para a atmosfera introspectiva e agradável do espetáculo, com luzes levemente azuis e tapetes simples avermelhados. “Comprados na beira da estrada”, como diz Dave Grohl em mais uma de suas interações com a platéia – sempre no intervalo de cada música.

Os melhores momentos estão nos sucessos de qualidades indiscutíveis: My Hero, o hino composto em homenagem a Kurt Cobain acabou ganhando um solo lindo de teclado, deixando-a mais bela do que já é; Next Year, o acordeão se encaixa perfeitamente na versão; Times Like These, a balada que é abastecida com uma harmonia emocionante e uma letra que fala de entrega, das lições que aprendemos com um amor acabado e principalmente de saber recomeçar, na ocasião ela ganha um toque mágico de violino; por fim, a romântica Everlong com seus acordes iniciais inesquecíveis e o seu discurso de espera e de desejo latente por uma mulher.

Embora o show tenha a finalidade de ser brando, Dave Grohl não esquece que o seu melhor negócio – e o da banda – é o rock and roll de verdade, levemente pesado. Por isso, durante a apresentação acaba não agüentando a monotonia e balança a cabeça nas músicas mais agitadas, enquanto que Taylor Hawkins o acompanha descendo o braço na bateria.

Skin and Bones não se trata de um show somente para os fãs do Foo Fighters, nem tampouco para aqueles que idolatravam nirvana e só por isso se interessam por Dave Grohl e sua banda. Mas agradável para qualquer alucinado por música!

Muitos falarão que estou sendo extremamente hiperbólico, mas é mais que um simples show. É um daqueles espetáculos contagiantes... de visualizar com toda a atenção e que, poderá, lhe levar a entrar num clima de comoção através das letras inteligentes e melodias amortecedoras de Dave Grohl e de seus companheiros.

17 fevereiro 2009

Pegar o microfone e falar o que quiser: uma vitória por meio da democracia


Em uma madrugada de domingo para segunda, em frente ao computador. No quarto. Vertendo suor. Olho para a pilha de cds e vejo um que não mais o percebia no meio da minha coleção. Não o escutava há anos. Penso que desde a época de seu lançamento – 2000. Brotou uma vontade de relembrar essa obra. Então, deparei-me com um álbum excelente, com uma riqueza de sons impressionante.

Além da proposta principal: a mistura revolucionária de rock com rap; neste trabalho, o penúltimo da banda, A invasão do sagaz homem fumaça, uma amálgama de instrumentos aparece nas músicas: flauta, cuíca, bongô, entre outros que minha intuição não decifrou. Claro que esse disco induziu-me a escutar os outros trabalhos.

Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga. Esse é o neologismo que inventaram para se auto-rotularem. Uma inovação abalou o começo da década de 90. A aparição desse grupo no cenário musical foi um baque cultural de grande proporção. Um assunto principal e polêmico norteava as canções: a maconha.

Ao digitar essa palavra, vocês já devem ter chegado à conclusão sobre quem estou referindo-me. São eles mesmos. o Planet Hemp. A banda nasceu na zona sul do Rio de Janeiro, em 1993, da amizade de Marcelo D2 e Skunk; este que morreu precocemente, antes mesmo da banda atingir a fama. Poucos meses depois do lançamento do primeiro álbum, Usuário, em 1996, a banda tornou-se o centro das atenções no “mundo” cultural nacional.

Ao falar normalmente sobre maconha nas canções, liberdade impossível e inimaginável na época da ditadura, o grupo ganhou notoriedade entre os jovens e o ódio dos mais antigos e conservadores. Vistos como polêmicos foram acusados de fazerem apologia ao uso da erva e foram presos, por quatro dias, no auge do sucesso. O que ajudou a banda mais ainda ao exibicionismo. Na época, Mantenha o respeito e Queimando tudo, viraram hinos para a juventude. Os acordes iniciais da primeira são, até hoje, uma das primeiras lições para aprendizes de violão.

“A banda que você acabou de ouvir é um ponto de interrogação na testa do rock mundial.
Afinal de contas, este som e esta voz lembram um grupo que virou lenda.
A banda que você ouviu, explodiu graças a uma overdose de: maconha. Esta banda chama-se: Planet Hemp.
E em menos de seis meses, já conta com o reconhecimento absoluto da crítica e do público em todo o mundo. Qualquer dúvida, confia. Ouça de novo: fazendo sua cabeça! E deixe os ouvintes chapados!
De novo: chapados. De novo: chapados. Muito relaxado”.
(Trecho extraído da faixa “Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga”, 2000)


Lembro-me da primeira vez que escutei Planet Hemp, a qualidade e o bombardeio de rimas misturadas com rock me fascinaram. Simplesmente era diferente de tudo que existia.

Pena que depois de quatro discos, três deles de estúdio e o último ao vivo, a banda acabou. Cada um seguiu novos rumos musicais, todos bem-aventurados independentes, principalmente Marcelo D2, que agora goza de uma carreira solo de sucesso, merecidamente. Visto que deposita, e muito bem, sua criatividade no samba-rap.

Bem que os integrantes da extinta Planet Hemp, podiam aproveitar dessa moda de reencontros de grupos que acabaram e voltarem de uma vez. Porque, tenho certeza, que eles deixaram muitos fãs órfãos. E a música está precisando deles de novo, ainda mais agora com a invasão dos ditos emos. Precisam voltar, e nos presentearem novamente com a originalidade musical do rapcore e com letras contestadoras – a maior virtude do conjunto.