É com muito lamento
que a cultura musical gaúcha perde mais um dos seus perpetuadores. Na madrugada
de domingo de pascoa, João Darlan Bettanin (o Xiruzinho), nos deixou com apenas
48 anos em um desastre de carro, pelas bandas de São Francisco de Paula.
Músico e advogado, compositor, intérprete e violeiro; Xiruzinho era natural da cidade serrana de Esmeralda, mas sua alma de cantor vertia a Rio Grande como um todo em suas canções. Escolheu Caxias para viver e de lá, a partir de 1984, disseminar sua arte devotada às nossas tradições.
Há tempos recebi o
seu álbum “Nos Bretes da Vida”, que traz interpretações suas para poesias do
nosso poeta João Sampaio. Na época escutei poucas vezes, mas nessas raras vezes
deram para sentir sua excelência e a honestidade do seu trabalho.
Xiruzinho conhecia
nossa história. Apesar de nascer na serra, tinha uma forte paixão pelo
missioneirismo e pela cultura fronteiriça. Possuía empatias sentimentais que o
aproximavam da cultura missioneira. Sua voz de bugre, anasalada e de dicção
clara combinavam com a temática. Enlevado por Noel Guarany, Xiruzinho mesclava
e disseminava a cultura guaranítica e latino americana com coração e maestria,
como poucos. Junto de Jorge Guedes são os interpretes definitivos da poesia
universal de João Sampaio.
Gravou sete discos: Um
Parelheiro que Tenho (1991); Gaúcho, Tempo e Memória (1997); Sem Fronteiras
(2003); Nos Bretes da Vida (2008); Xiruzinho Canta o Poeta e Payador Don Arabi
Rodrigues (2009); A Arte Real em Versos, Pajadas, Décimas, Sonetos e Poesias (Livro-CD,
2012) e Aquarelas do Amor (2013), este como João Darlan e com composições
populares que pendem para o sertanejo.
Xiruzinho foi além do
seu pago, explorou o pampa dos países do Prata, entendeu e sentiu a irmandade
gaúcha e também a transformou em melodia. É mais um Xirú dos bons que se vai.
Vai matear lá em cima junto do tronco de Noel, seu maior inspirador.
Cantou em muitos rodeios e festivais
nativistas, quem vivia nesse meio sentiu mais sua presença.
Foto: Roni Rigon/Agencia RBS