17 março 2012

A fase de ouro d’Os Soprantes


Por volta do final dos anos de 1960 e inicio de 1970, existiram três grupos musicais bastante ativos em São Borja, em que alguns integrantes chegaram a participar de formações das três bandas. São elas: Os Dinâmicos, Os Soprantes e Os Sheiks.
Dessa vez vamos nos ater na história do conjunto Os Soprantes.

A banda nasceu em meados de 1968 a partir da ideia e da vontade do Sargento Naval carioca, Jerson Mendes. A formação inicial da banda consistia em: Jerson Mendes, na guitarra e no vocal; João Aires da Silva, na bateria; e José Nascimento, também na guitarra; ambos são-borjenses.

Mas cerca de um ano depois, em 1969, entra então a figura do músico, também natural de São Borja, Alfredo Ramos: “Comecei a ir aos ensaios dos Soprantes. No início da banda o Jerson só tocava músicas românticas, baladas, boleros; e o que estava bombando na época eram as músicas do Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, e outros”, conta.

Com a necessidade de adicionar a esse repertório inicial os sucessos do momento, a banda então recebeu o acréscimo de mais integrantes, com o intuito de executar tais temas. Houve, a partir daí, um rodízio na frente dos instrumentos.

“O José Nascimento não sabia fazer na guitarra, a batida, os ritmos das músicas dessas bandas do momento. Eu as treinava em casa, em meu violão e, uma vez no ensaio deles, eu peguei a guitarra e fiz os ritmos das músicas do Renato, e o João Moiano (são- borjense) que fora junto comigo, as cantou. Aí o Jerson gostou e nos convidou para fazer parte dos Soprantes. Então passei a ser o guitarrista dos Soprantes, o José Nascimento passou para o contrabaixo (que ninguém tocava por não ter músico para tal instrumento) e o João Moiano saiu dos Dinâmicos e passou a fazer parte dos Soprantes, cantando e tocando trompete”, relembra Ramos.

Ramos recorda também como que o teclado começou a fazer parte da sonoridade do conjunto: “O Jerson comprou um teclado marca Arbon, era um show da época. Eu treinei muito no piano do Clube Comercial, durante a Quaresma e quando esta terminou, treinando no piano, eu me tornei um músico autodidata e aprendi a acompanhar, no teclado, 15 músicas do repertório dos Soprantes. Foi então que o José Nascimento voltou para a guitarra e o meu amigo Joel (nativo de Santo Ângelo) saiu dos Dinâmicos e veio fazer parte, também, dos Soprantes, tocando o contrabaixo”.

O repertório foi definido com basicamente músicas dançantes, para animar bailes, com a execução de temas do Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, e outras bandas nacionais famosas da época; além das baladas românticas a cargo do fundador Jerson Mendes.

Formação e set list consagrados, o grupo ganha o gosto do público e começa a tocar em boa parte dos bailes do Clube Comercial; assim como nas boates da casa também.

Nessa época fazem shows em outras cidades do Estado, como: Porto Lucena, Santa Maria, Santiago, Porto Alegre e Uruguaiana.

A banda seguiria nessa constante de sucesso por dois anos, até que por desentendimentos aconteceu a separação do grupo. Alfredo Ramos, João Moiano, Joel Nascimento e João Aires da Silva resolvem sair e formar Os Sheiks.

Os Soprantes ainda seguiriam por mais um ano com o fundador Jerson Mendes, junto a outros músicos. Mas, por estes serem de outras cidades acabou por inviabilizar o prosseguimento da banda. Por pelo menos quatro anos Os Soprantes animaram as noites são-borjenses.

 Os Soprantes no Aeroporto (Campo de Aviação) de São Borja: da esquerda para a direita; Alfredo Ramos, João Aires da Silva, Joel Nascimento, João Moiano, Jerson Mendes, e Pedro (bagagista da banda).

O adeus de mais um ícone

 
Infelizmente, me sinto na obrigação de escrever sobre mais uma partida irretornável de um homem e artista da nossa música nativista gaúcha. No dia 12 do último dezembro, aos 63 anos, morreu em Porto Alegre, o cantor José Cláudio Machado. Vitimado pelos prazeres dos excessos com álcool e fumo. Um enfisema pulmonar o pealou.

Também compositor e gaiteiro, o tapense José Claudio Machado começou sua trajetória consagrada ao compor em parceria com Claudio Boeira Garcia o clássico Pedro Guará, que ergueu a Calhandra de Ouro na segunda edição da Califórnia da Canção Nativa, em 1972. Na mesma década fez parte do grupo Os Teatinos, junto com Glênio Fagundes, Paulo Portela Fagundes e Marco Aurélio Campos. Com eles, gravou dois álbuns riquíssimos e notórios do folclore gaúcho: o Telurismo I e II. Chegou a participar e gravar também por um período com o conjunto Os Serranos e foi parceiro do pajador Jayme Caetano Braun.

Mas, seu reconhecimento mesmo veio ao interpretar versos de Mauro Moraes, que viriam a ser alguns dos seus maiores sucessos, como Lástima, Fulanos e Sicranos, e Milonga Abaixo de Mau Tempo. Machado eternizou em canção essas poesias. Assim também, como: Chasque Para Dom Munhoz, de Airton Pimentel e Campesino de letra de José Theodoro dos Santos Jr.

Deixou de legado 14 álbuns com a sua maior marca: a voz. Dentre esses trabalhos, dois são obras interessantes para qualquer entusiasta da música gaúcha: as parcerias com Bebeto Alves em Milongueando Uns Troços (1993); e com Luiz Marenco em De Bota e Bombacha (2001).

Foram quatro décadas dedicadas à arte gaúcha. O corpo vai, mas o espírito fica em suas músicas, em imagens como a do braço erguido com um pala de seda atado ao punho cantando “São gritos de bamo-cavalo, toca toca, êra êra...” da famosa Pêlos no programa Galpão Crioulo, debaixo da figueira conversando antes de interpretar Milonga Abaixo de Mau Tempo. Enfim, um artista que com o seu cantar galponeiro deixou uma marca singular e eterna encravada no cancioneiro regional gaúcho.