“Música é vida interior, e quem tem vida interior jamais
padecerá de solidão.” (Artur da Távola)
cogumelo do zebu
Divagações Desvairadas
23 agosto 2016
06 abril 2016
A imponência do Saturnus
Metal com vozes guturais nunca foi minha praia, mas
sempre a qualidade do instrumental importou. Há um tempo, duas manifestações têm
feito parte de minhas noites inóspitas: como o duo chileno Uaral e a banda
dinamarquesa Saturnus. A despeito das minhas raízes, possuem vozes guturais.
Mas elas estão em segundo plano, tamanho a grandeza artística que emanam no
todo.
Saturnus é viciante. Doom Metal potente, pesado e
extremante melodioso. Sensível como a alma humana. Composições épicas
intercaladas com as falas limpas e cantos guturais não exagerados de Thomas
Jensen.
Tem de tudo ao mesmo tempo no planeta do Saturnus.
Riffs suntuosos, bateria forte e versátil, linhas de baixo audíveis e criativas,
transições eruditas de piano, violino e violão que remetem às melodias
tristes dos Cavaleiros do Zodíaco, e o contorno pesado como a trilha de uma
tragédia.
Os temas são escuros; como a tristeza, a dor e a solidão.
Sentimentos inerentes que não escapam do homem. Por isso os arranjos tão belos.
Veronika Decides To Die, de 2006, é a obra-mor.
Perfeita e genial do inicio ao fim. Com "I Long", "Pretend", "Descending", "Rain Wash
Me"; e o réquiem lindo de lacrimar, "All Alone". Entrou na lista dos favoritos de
sempre.
Deviam ser mais reconhecidos no segmento.
29 dezembro 2015
22 dezembro 2015
A baixa de mais um combatente
O rock gaúcho sente dor pela morte prematura de um
dos seus alicerces. Flávio Basso, mais conhecido nas artes como Júpiter Maçã, morreu
nesses dias natalinos de dezembro. E com apenas 47 anos de vida excêntrica.
Um dos fundadores da lendária TNT e partícipe também
da icônica Os Cascavelletes, Basso iluminava a música com sua arte criativa e
irreverencia. Um dicotômico entre a graça e a tristeza.
Um menino roqueiro no TNT e n’Os Cascavelletes e um
homem produtivo e original nos discos solitários. Autor da obra mor do
psicodelismo brasileiro, o sydbarretiano “A Sétima Efervescência”, de valor
reconhecido além-mares.
Perdemos mais um, ou uns. Perdemos as personalidades
do Flavio e dos Júpiteres. Perdemos uma
referencia do rock do Rio Grande do Sul. Perdemos um grande artista gaúcho.
03 dezembro 2015
A explosiva Jijiji
Um dos meus grandes desejos, como um apaixonado pelo rock
argentino, era ver uma apresentação do grupo Los Redondos, com o seu vocalista Índio
Solari, num dos estádios históricos da Argentina.
Patricio Rey y sus Redonditos de Ricota é uma lenda e uma
das bandas mais representativas do país hermano. Jijiji é uma das músicas mais
contagiantes que já escutei. Quando tocada ao vivo é a causa do maior pogo do
planeta.
Apesar de toda a merda praticada pelo governo argentino ao
longo de muito tempo eles são exemplos de voz ativa e amor à pátria de que se
tem notícia.
09 novembro 2015
Tim Maia pode viver para sempre
Lembro com
exatidão a noite que Tim Maia morreu. Tinha lá uma década de idade. Naquela
noite posei na casa do meu tio e lembro-me de ver no noticiário o acontecimento
infausto. Pensei: morreu um famoso da teve. Só isso. E fui dormir.
Passado uns
cinco anos, já ligado em música, fui perceber o que aquele mulato, gordo e
engraçado representava: um dos maiores gênios da música. O Rei do Soul
brasileiro.
Sebastião
Rodrigues Maia elevava seu talento ao limite. Inovou ao trazer suas raízes americanas
do soul, funk, latinidade e psicodelia para o Brasil. Misturou no
liquidificador com xaxado, baião, samba e chocolate e serviu batidas dançantes,
felizes e depressivas à massa.
Tião era um
artista nato. Um arranjador incomum e complexo. Sempre acompanhado de músicos
competentes, conseguiu aliar sua desorganização emocional e informação musical
em cultura rica.
Não há música
oca em sua discografia. São estratos recheados de grooves, suingues e balanços
que empolgam o mais rabugento, e também baladas que emocionam o mais casca
dura. E todas simetricamente aparadas pela sua voz de rocha.
As obras
Racionais são inatingíveis em termos de qualidade instrumental e de banda
afiada.
Tim Maia é
tudo... E nada é nada.
08 setembro 2015
Provérbios do Inferno
de WILIAM BLAKE (1757-1827)
De “O matrimónio do Céu e do Inferno”: No tempo de semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta. Conduz teu carro e teu arado sobre a ossada dos mortos. O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria. A Prudência é uma rica, feia e velha donzela cortejada pela Impotência. Aquele que deseja e não age engendra a peste. O verme perdoa o arado que o corta. Imerge no rio aquele que a água ama. O tolo não vê a mesma árvore que o sábio vê. Aquele cuja face não fulgura jamais será uma estrela. |
A
Eternidade anda enamorada dos frutos do tempo.
À laboriosa abelha não sobra tempo para tristezas. As horas de insensatez, mede-as o relógio; as de sabedoria, porém, não há relógio que as meça. Todo alimento sadio se colhe sem rede e sem laço. Toma número, peso & medida em ano de míngua. Ave alguma se eleva a grande altura, se se eleva com suas próprias alas. Um cadáver não revida agravos. O ato mais alto é até outro elevar-te. Se persistisse em sua tolice, o tolo sábio se tornaria. A tolice é o manto da malandrice. O manto do orgulho, a vergonha. Prisões se constroem com pedras da Lei; Bordéis, com tijolos da Religião. A vanglória do pavão é a glória de Deus. O cabritismo do bode é a bondade de Deus. A fúria do leão é a sabedoria de Deus. A nudez da mulher é a obra de Deus. Excesso de pranto ri. Excesso de riso chora. O rugir de leões, o uivar de lobos, o furor do mar em procela e a espada destruidora são fragmentos de eternidade, demasiado grandes para o olho humano. A raposa culpa o ardil, não a si mesma. Júbilo fecunda. Tristeza engendra. Vista o homem a pele do leão, a mulher, o velo da ovelha. O pássaro um ninho, a aranha uma teia, o homem amizade. O tolo, egoísta e risonho, & o tolo, sisudo e tristonho, serão ambos julgados sábios, para que sejam exemplo. O que agora se prova outrora foi imaginário. O rato, o camundongo, a raposa e o coelho espreitam as raízes; o leão, o tigre, o cavalo e o elefante espreitam os frutos. A cisterna contém: a fonte transborda. Uma só idéia impregna a imensidão. Dize sempre o que pensas e o vil te evitará. Tudo em que se pode crer é imagem da verdade. Jamais uma águia perdeu tanto tempo como quando se dispôs a aprender com a gralha. A raposa provê a si mesma, mas Deus provê ao leão. De manhã, pensa, Ao meio-dia, age. Ao entardecer, come. De noite, dorme. Quem consentiu que dele te aproveitasses, este te conhece. Assim como o arado segue as palavras, Deus recompensa as preces. Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução. Da água estagnada espera veneno. Jamais saberás o que é suficiente, se não souberes o que é mais que suficiente. Ouve a crítica do tolo! É um direito régio! Os olhos de fogo, as narinas de ar, a boca de água, a barba de terra. O fraco em coragem é forte em astúcia. A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão ao cavalo como apanhar sua presa. Quem reconhecido recebe, abundante colheita obtém. Se outros não fossem tolos, seríamos nós. A alma de doce deleite jamais será maculada. Quando vês uma Águia, vês uma parcela do Gênio; ergue a cabeça! Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para pôr seus ovos, o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas. Criar uma pequena flor é labor de séculos. Maldição tensiona: Benção relaxa. O melhor vinho é o mais velho, a melhor água, a mais nova. Orações não aram! Louvores não colhem! Júbilos não riem! Tristezas não choram! A cabeça, Sublime; o coração, Paixão; os genitais, Beleza; mãos e pés, Proporção. Como o ar para o pássaro, ou o mar para o peixe, assim o desprezo para o desprezível. O corvo queria tudo negro; tudo branco, a coruja. Exuberância é Beleza. Se seguisse os conselhos da raposa, o leão seria astuto. O Progresso constrói caminhos retos; mas caminhos tortuosos sem Progresso são caminhos de Gênio. Melhor matar um bebê em seu berço que acalentar desejos irrealizáveis. Onde ausente o homem, estéril a natureza. A verdade jamais será dita de modo compreensível, sem que nela se creia. Suficiente! Ou Demasiado. |
13 julho 2015
13 de julho: Dia “Mundial” do Rock?
Apesar da efeméride ser chamada de Dia
Mundial do Rock, esta data somente é comemorada aqui no Brasil. Ela surgiu em
homenagem ao evento beneficente Live Aid em 1985, ocasião em que o músico Phil
Collins expressou sua vontade de que a data fosse considerada o “Dia Mundial do
Rock”. Porem, a ideia não ganhou seguidores lá fora.
Foi nos anos 1990 que duas rádios
paulistanas (a 89 FM e 97FM)
lançaram a ideia, abalizada pelo baterista inglês, e começaram a dedicar nesse
dia programações alusivas à data. Então, o “Dia Mundial do Rock” não é
reconhecido internacionalmente. Está mais para uma farsa.
Seria mais sensato comemorar o mês do
rock, visto que existem outras datas em julho mais significativas para tal. Como
em 5 de julho de 1954, quando Elvis Presley gravou pela primeira vez o Blues
acelerado, “That’s All Right, Mama”; ou 12 de julho de 1962, data de formação e
do primeiro show em Londres dos Rolling Stones; ou até mesmo em 25 de julho de
1965, quando o Bob Dylan “traiu” os folkeanos ao se apresentar pela primeira
vez com uma guitarra elétrica no Festival de Newport.
Porque ao invés de copiar os gringos -
até porque nem eles possuem uma data específica -, não se criou uma que
celebrasse o rock em solo brasileiro? Poderia ser em março de 1959, quando Celly
Campelo gravou a versão Estúpido Cupido; o álbum de estreia dos Mutantes em
junho de 1968; ou em maio de 1973 quando a banda fictícia Rock Generation, liderada por Raul Seixas, lançou a coletânea “Os
24 Maiores Sucessos da Era do Rock”. Seria muito mais digno a nós brasileiros
que amam esse estilo de vida.
Mas
o que importa é evidenciar esse gênero extraordinário que mudou o rumo da
história mundial. Tanto nas artes como no comportamento.
12 junho 2015
05 junho 2015
Rosa Tattooada: duas décadas e meia de lealdade
Poucas bandas do glorioso rock gaúcho tiveram a coragem de se manter por tantos anos pela indelével paixão pela música. E uma dessas poucas é a Rosa Tattooada. É de se orgulhar que ainda estão na ativa pela ideologia do Hard Rock. Nicho que teve seus anos de glória no final dos 1980 e meados dos 1990. Abafado pela midiatização massiva do Grunge, muitas desistiram no exterior e tantas outras levadas a pagarem mico ao tentar se adequar à nova onda. Não adianta, não era a praia. E aqui no sul a Rosa seguiu. Minguando, mas com o punho erguido pela filosofia da velha escola.
Quem nunca ouviu "O Inferno Vai ter que Esperar" ou "Tardes de Outono" tocar incessantemente nas FMs da vida? Não é preciso ser um apreciador xiita da vertente. Essas pérolas canções chegaram a todos os públicos. Jacques Maciel, o vocalista com a voz peculiar que continua na linha de frente da banda, já pode ser considerado um dinossauro.
Com muitos reveses e fases de adaptação na formação a Rosa lançou em 2000 um dos álbuns mais importantes e significativos de todos os tempos da discografia gaúcha: "Carburador", com um peso e profusão de riffs matadores. Lançaram um novo trabalho de inéditas em 2013: o identitário "XXV", em comemoração ao ciclo de 25 anos de barulho.
Procure aquele seu disco empoeirado da Rosa Tattooada e ponha a tocar novamente. Reviva aqueles tempos áureos dos 1990. Quando a Rosa imperava. A sonoridade não envelhece, assim como os grandes reis do rock puro ACDC.
A marca é maior que seus inventores. A Rosa Tattoada é um pilar perto do impossível de desmoronar. Esses caras nem idosos deixarão de tocar. Vão morrer com a guitarra na mão. Ao som de um bom Hard e um com um gole seco de uísque ou cerveja na garganta. Sempre trilha ideal para uma noite de diversões pesadas.
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