30 outubro 2013

Mais um verdadeiro artista dá adeus


Lou Reed morreu. Infelizmente. Aos 71 anos um dos mais geniais músicos e poetas do século XX se despediu tranquilo e consciente, no último domingo em sua casa em Long Island , Nova York. A causa foi por complicações de um transplante de fígado feito em maio.

Guitarrista, letrista e compositor, Lou Reed nasceu no Brooklyn e quando grande tornou-se um exímio observador. Longe da cena pacífica e colorida de paz e amor dos hippies, Reed era mais realista. Sua alma de legítimo artista caminhava ao contrário da beleza. Pelas ruas cinzentas de Nova York foi imbuído pelas mazelas da sociedade americana.  E nessa perspectiva caótica de miséria, violência, drogas e prostituição fundou o The Velvet Underground na metade da década de 1960 com o baixista John Cale, o guitarrista Sterling Morrison a baterista  Maureen Tucker, para retratar e dar voz aos marginalizados.

Com uma proposta extremamente experimental, mesclando poesia, melodia e ruído tornaram-se uma banda de vanguarda. Inovadora e eternamente influente para o rock mundial. O Velvet foi uma referencia de rebeldia criativa e estilística. Sem eles é difícil imaginar o surgimento de correntes como o Glam, o Punk, o Gótico, o Industrial e o Pós-Punk. Tudo isso Lou Reed pode ser considerado progenitor. Além da noção de independência, que o Underground do nome da banda já sugeria, de não ter a pretensão de ser puramente comercial e de agir ao pegar os instrumentos e fazer sua música autoral. Se a cena independente existe em todo canto do mundo, certamente tem um pouco de Lou Reed e do Velvet Underground ali.

O artista pop Andy Warhol foi um dos poucos que pressentiu que eles poderiam ser grandes e contribuiu para a importância do grupo ao assinar uma das artes mais icônicas de um álbum de rock, a simples banana, e trazer a cantora alemã Nico e seus vocais fortes e graves para a banda.  Registro de estreia de 1967, que é coberta de clássicos, como: “Sunday Morning” (sobre a ressaca mental de uma noite de excessos), "I'm Waiting for the Man" (o dependente à espera do traficante), “Venus In Furs” e “Heroin”. Uma obra capital perene do rock.


Depois vieram White Light/White Heat (1968), o homônimo The Velvet Underground (1969) e Loaded (1970). Todos estes com a maioria das letras e canções escritas por Lou Reed. Após a dissolução do grupo, em 1970, Reed continua sua missão sozinho: pintar o lado atroz das ruas através da poesia. Com Transformer (1972) e Berlin (1973) chega à tradução de sua sensibilidade. “Walk on the Wild Side” (apelo a uma existência abusiva e um tributo aos travestis e homossexuais) e “Perfect Day” (uma lira comovente) são seus épicos.

A música de Lou Reed, tanto nos Velvets como nos seus trabalhos solos, possuem uma sonoridade impecável e entusiasmante. E por conta disso e a despeito das suas muitas poesias duras, elas trazem uma sensação de esperança por trás.

Lou Reed seria o Bukowski do rock...? O fato é que ele foi uma espécie de porta-voz de uma geração descrente e confusa e seu discurso sempre será atual. E pessoas iluminadas e corajosas assim sempre farão muita falta.




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