Lou Reed morreu. Infelizmente. Aos 71 anos um dos mais geniais
músicos e poetas do século XX se despediu tranquilo e consciente, no último
domingo em sua casa em Long Island ,
Nova York. A causa foi por complicações de um transplante de fígado feito em
maio.
Guitarrista, letrista e compositor, Lou Reed nasceu no
Brooklyn e quando grande tornou-se um exímio observador. Longe da cena pacífica
e colorida de paz e amor dos hippies, Reed era mais realista. Sua alma de
legítimo artista caminhava ao contrário da beleza. Pelas ruas cinzentas de Nova
York foi imbuído pelas mazelas da sociedade americana. E nessa perspectiva caótica de miséria, violência,
drogas e prostituição fundou o The Velvet Underground na metade da década de
1960 com o baixista John Cale, o guitarrista Sterling Morrison a baterista Maureen Tucker, para retratar e dar voz aos
marginalizados.
Com
uma proposta extremamente experimental, mesclando poesia, melodia e ruído
tornaram-se uma banda de vanguarda. Inovadora e eternamente influente para o
rock mundial. O Velvet foi uma referencia de rebeldia criativa e estilística.
Sem eles é difícil imaginar o surgimento de correntes como o Glam, o Punk, o
Gótico, o Industrial e o Pós-Punk. Tudo isso Lou Reed pode ser considerado
progenitor. Além da noção de independência, que o Underground do nome da banda
já sugeria, de não ter a pretensão de ser puramente comercial e de agir ao
pegar os instrumentos e fazer sua música autoral. Se a cena independente existe
em todo canto do mundo, certamente tem um pouco de Lou Reed e do Velvet
Underground ali.
O
artista pop Andy Warhol foi um dos poucos que pressentiu que eles poderiam ser
grandes e contribuiu para a importância do grupo ao assinar uma das artes mais
icônicas de um álbum de rock, a simples banana, e trazer a cantora alemã Nico e
seus vocais fortes e graves para a banda. Registro de estreia de 1967, que é coberta de
clássicos, como: “Sunday Morning” (sobre a ressaca mental de uma noite de
excessos), "I'm Waiting for the
Man" (o dependente à espera do traficante), “Venus In Furs” e “Heroin”.
Uma obra capital perene do rock.
Depois vieram White Light/White
Heat (1968), o homônimo The Velvet
Underground (1969) e Loaded
(1970). Todos estes com a maioria das letras e canções
escritas por Lou Reed. Após a dissolução do grupo, em 1970, Reed continua sua
missão sozinho: pintar o lado atroz das ruas através da poesia. Com Transformer (1972) e Berlin (1973) chega à tradução de sua
sensibilidade. “Walk on the Wild Side” (apelo a uma existência abusiva e um
tributo aos travestis e homossexuais) e “Perfect Day” (uma lira comovente) são seus
épicos.
A música de Lou Reed,
tanto nos Velvets como nos seus trabalhos solos, possuem uma sonoridade
impecável e entusiasmante. E por conta disso e a despeito das suas muitas
poesias duras, elas trazem uma sensação de esperança por trás.
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