18 novembro 2009

Os abutres e seus faros impetuosos

Didático e reflexivo. Essas duas palavras sempre vêm à tona quando se fala no clássico do cinema noir americano A Montanha dos Sete Abutres (Ace In The Hole – 1951), de Billy Wilder. Didático porque é uma das referencias obrigatórias de estudo em qualquer escola de Jornalismo, pelo fato de mostrar os limites de uma cobertura jornalística. E reflexivo por simplesmente bombardear o telespectador de ações contestatórias que suscitam a debates infindáveis e, consequentemente, benéficos para o pensar jornalístico, principalmente no campo ético da profissão.

Protagonizado por Kirk Douglas, Charles Tatum é um jornalista autodidata e desempregado que consegue uma oportunidade de trabalho em um jornal de pequeno porte na cidade interiorana de Albuquerque. Com um caráter extremamente petulante, para ele, o emprego é temporário, até conseguir aquele furo de reportagem que o recoloque a um jornal de renome.

Charles Tatum, então transforma o fato de um homem preso nas pedras de uma caverna em um grande “carnaval”. Para isso o jornalista pratica uma penca de atos controversos, em maior escala se vê a manipulação, tanto nas pessoas ligadas diretamente à vitima, Leo Minosa, como no desdobramento do fato.

O longa, além de ser uma um retrato do cinismo e da ambição do ser-humano, é uma critica ácida à imprensa sensacionalista que ignora a responsabilidade social, a veracidade dos fatos, para a qualquer custo se auto-promover. Esta é a imagem que Tatum passa durante todo o filme, que reflete notoriamente a ideologia da “penny press” americana iniciada nos anos 30 e que permanece nos dias atuais.

Durante a película, se encontra várias máximas que se eternizariam no meio jornalístico e que são levadas como norteadora na definição do que é notícia até hoje nos cursos de graduação, nas empresas de comunicação e obviamente nos profissionais destas. "Eu posso cuidar de grandes notícias e pequenas notícias, e se não houver notícias eu saio e mordo um cachorro", diz Charles Tatum, ao pedir o emprego.

A verdade é que a análise do que é de bom senso ou não nas ações do protagonista se tornam muito complicadas. É mais uma questão de caráter do que de diretriz profissional. O personagem já tinha sido demitido de onze jornais por várias razões, entre calúnias e envolvimento com a mulher do editor. Um comportamento questionável que já denota um antiprofissionalismo de sua parte.
O papel de Tatum pode ser em partes, aceito; até o momento em que ele coloca em risco a fonte mudando o plano de sua retirada e adiando para uma semana o trabalho que seria feito em um dia. Ao comparar com o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros ele quebra, com essa atitude, o parágrafo IV do artigo 7º que visa não expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, situação que era a de Leo Minosa.

Billy Wilder expõe de maneira asseverativa o comportamento da sociedade e da imprensa acerca de um fato de drama humano, talvez por isso ao olhar A Montanha dos Sete Abutres somos tão identificados com o propósito do diretor que acabamos nos sentindo ultrajados. Essas duas assimilações explicam o fracasso comercial do filme na época, e, ao mesmo tempo, o torna reconhecido pela sua seriedade e o seu valor artístico.

Ficha Técnica:
Título original: Ace in the Hole
Gênero: Drama
Duração: 01 hs 51 min
Ano de lançamento: 1951

Estúdio: Paramount Pictures
Distribuidora: Paramount Pictures
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Walter Newman, Billy Wilder e Lesser Samuels
Produção: Billy Wilder
Música: Hugo Friedhofer
Fotografia: Charles Lang
Direção de arte: A. Earl Hedrick e Hal Pereira
Figurino: Edith Head
edição: Arthur P. Schmidt

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