Dos tantos
nomes de pompa que fizeram historia na MPB o meu preferido sempre será o Milton
Nascimento. O Milton é único. Sua voz tem uma potencia inexplicável. Uma
tessitura mista de grave e agudo. Elis Regina sentiu sua natureza e definiu
perfeitamente a sensação na frase: “Se Deus cantasse, seria com a voz de
Milton”. Ao ouvir os seus falsetes escutamos algo como um coro de anjos. É
inconfundível e de pouquíssimas referencias.
O Bituca é a
música brasileira e latina em pessoa. Desde seu surgimento com o Clube da
Esquina, - o movimento mais rico da nossa música – até hoje, sua presença
apesar de rara me cativa. Sua música tem cheiro de terra, como disse Ruy
Guerra.
Basta
escutar seus hinos clássicos, como: Travessia, Cais, Canção do Sal, Tudo que
Você Podia Ser, Nada Será como Antes, Coração de Estudante, Nos Bailes da Vida,
Para Lennon e McCartney, Clube da Esquina nº2, Carta para River Phoenix; e
todas as outras. Milton tem a magia de transformar a música em rito.
Milton
deveria ser sempre jovem com aquela sua boina característica. É daqueles
artistas que gostaríamos que ficassem aqui para sempre, nos encantando com suas
composições além-território.
Um sujeito
místico e enigmático. Humano, humilde e discreto.
Sempre me
emociono quando ouço Milton. E tenho certeza que vou escutá-lo por toda a vida.
Quando o Milton morrer vou sentir muito. Tomara que essa notícia demore a chegar.
Experimente escutar sua arte com atenção. Vai
entender que essa reverência não é exagero.
Frank é um filme genial. Um tratado de paixão pela música.
Do amor da arte pela arte, e não pela fama e dinheiro. Para a maioria:
esquisito. Mas para os desajustados: brilhante. Frank com sua máscara de fuga. Uma imagem
impactante, que mescla comicidade e aflição.
Tem tudo para ser cultuado. Personagens insanos, com atitudes
incomuns. Atuações primorosas, especialmente de Michael Fassbender.
Os que se identificaram captarão a mensagem. E dá uma
vontade de se esconder numa carapuça dessas. Não é verdade?
HURACÁN chegou a tua hora! Depois de 41 anos de morno, o El Globito
explode na Copa da Argentina. Que alegria! Parabéns a los apaixonados quemeros.
Rumo à Libertadores 2015!
A INSETO SOCIAL completou 16 anos. Originária de Santa Maria, a
banda foi formada em 1998, por: Flamarion Rocha (guitarra/vocal), Márcio Garcia
(bateria), Alex Ferraz (guitarra) e Orlando Cavalheiro (baixo).
O grupo, que já foi banda de apoio do WANDER WILDNER, possui uma relevante
história no cenário independente do rock gaúcho. No ano de sua estreia em palcos
(1998) a banda foi classificada entre 400 de todo o Sul do país no Skol Rock 98.
Em Florianópolis tocou para um público aproximado de 10 mil pessoas. Evento em
que teve como principais atrações BARÃO VERMELHO e CHARLIE BROWN JR, e
cobertura da MTV.
Em 2000, os Insetos Sociais ficaram célebres por serem
protagonistas de uma façanha incomum - extraída da cabeça insana do baixista
Giovani Kovalczyk - percorreram a pé 270 km durante 11 dias, de Santa Maria a
Porto Alegre, para terem a chance de tocar no Planeta Atlântida. Chegando lá, conseguiram se apresentar nos
dois dias em palcos alternativos do evento.
Durante esses anos de asfalto (fora o hiato de 2005 a 2010) tocaram
em muitos festivais no RS e em muitas cidades do interior do Estado. Lançaram
dois álbuns (o Homônimo – 2000 e Keep On Rockin’ - 2013) e um EP (Ed Wood Nunca
Ganhou um Oscar - 2002).
O grupo detém a
característica de ser avesso a rótulos. Possuem uma grande influencia de NIRVANA,
PIXIES e NEIL YOUNG, mas transitam por diferentes modos de fazer o gênero: punk, grunge, hardcore, e até
uma mínima influência de rap. Digamos
que o único título que se possa lhe atribuir é que se refere a um grupo
simplesmente de rock and roll, sem se
importar com suas adjacências. Talvez, por conta disso que a banda conquistou o
seu séquito fiel de fãs.
Assisti recentemente ao trabalho audiovisual “Contando
Insetos”, que retrata tudo isso minuciosamente. A película traz falas dos
integrantes e ex-integrantes do grupo e depoimentos de figuras importantes da
mídia e do rock do sul, como o relato de Wander Wildner e do mitológico Pylla,
da lendária banda FUGA. Imperdível. Precisa ser visto. Precisa ser divulgado
Os loucos e sonhadores da Inseto nunca desistiram de serem
reconhecidos no meio. Nem que para isso tivessem que concluir a estratégia ousada
de ir ao Planeta Atlântida a pé para serem vistos. Os personagens da proeza não titubeiam em
declarar que fizeram a jornada para atrair a atenção da mídia. E
conseguiram. E muito bem. E não era só
para simplesmente ser notícia, e sim para mostrar o que tinham a dizer artisticamente
e provar a todos que é possível. É plausível uma banda punk ser reconhecida no Estado e quiçá no país inteiro. Mas para
chegar lá é preciso muita labuta e paixão. A Inseto teve. E nunca será
esquecida por quem é ligado no rock do nosso Estado.
Quem esteve lá em Porto Alegre e foi num tal concerto de rock, nunca vai esquecer desta data. Nem perto do fim da linha da vida. Ver uma apresentação do Pearl Jam já é por si só inesquecível e ainda por cima com essa data... não tem como.
Até o momento, o melhor show internacional que tive a oportunidade de ver. E como é raro eu ir em algum. Este vai ficar por um bom tempo no primeiro lugar do podium. Não é, Frederico Bravo Pillon?
Há muitos que sempre odiarão PINK FLOYD, por conta do
experimentalismo. É mais um daqueles casos clichês do ou ama ou abomina. A
minha teoria é que essa instituição inglesa vai além de ser somente uma banda
de rock. Pink Floyd é como música clássica. É preciso de um determinado momento
e preparação para escutar e sentir.
A sensação que se tem após “The Piper At The Gates Of Dawn”
- o único com o selo do insano Syd Barrett -, é que David Gilmour, Roger
Waters, Nick Mason e Richard Wright embarcaram em uma viagem sonora e não
voltaram mais. Extrapolaram os limites da criação musical, assim como ZAPPA. E
nos convidam para a jornada junto dos registros. Basta olhar o ao vivo em Pompeia
para entender. É necessário estar aberto à experiência. Depois que entra nessa
cápsula dura um tempo para retornar.
E o maior culpado disso tudo é DAVID GILMOUR, um dos
guitarristas mais diferenciados e criativos da história do rock. Sem dúvida o
mais melodioso. Não é a questão de quantas notas consegue tocar em menos tempo.
Não é masturbação técnica, e sim, puro feeling.
Ouvir um solo de Gilmour é presenciar a guitarra falar, gritar e muitas vezes
até chorar. É um raro exemplar que não se encontra mais.
Há tempos vinha namorando um álbum solo do Gilmour. O
primeiro, de 1978. Homônimo. Sempre me deparava com ele me olhando, relegado na
sessão de ofertas. Até que um dia criei coragem e o levei. E foi uma das
melhores escolhas que fiz em todos esses anos de colecionador amador de CDs.
Por uma bagatela de quatorze reais tive uma surpresa das
grandes. Uma obra primorosa do começo ao fim. Poderia bem fazer parte da
discografia do Pink Floyd, mas é só o interior do Gilmour se expressando ali. Uma
sequencia de esculturas esculpidas pelos solos e vocais transcendentais
Gilmourianos, com uma base simétrica e audível. Não há como escolher destaques.
Todas sobressaem em completude.
Baladas, Blues Rock, progressividade, pianos, suavidade, lamentações
sonoras perfeitas para adormecer.
Obrigatório para toda a família. Pinkfloydianos ou não.
Na seara vasta dos estilos de se fazer rock, a que
sempre me fascinou mais são os power-trios. É o rock puro. Direto. Baixo,
bateria e guitarra. Sem frescuras e enfeites sonoros. É o “simples” essencial.
É a porrada comendo solta mesmo. Harmonia pesada e simétrica da cozinha com
riffs que complementam. Com direito a viradas de bateria e grooves de baixo.
Sonoridade densa e veloz, como uma manada de búfalos
descendo uma ladeira e levantando poeira. Essa é a sensação de escutar um bom
Hard de três integrantes, principalmente dos anos 1970. De Cream, Jimi Hendrix Experience e Blue Cheer à Grand
Funk Railroad, Mountain, Trapeze, Budgie e Beck Bogart & Appice. E
aqui na América do Sul de Pappo’s Blues, Aeroblus à Vox Dei e Color Humano.
No trio não há espaço para fingimento. Não há o que
esconder. Ou se sabe tocar muito bem ou desmorona. Não há liga. São poucas as
bandas que sincronizam e são criativas em forma de tríade. São únicos em seus
instrumentos e há um acumulo de tarefas no que toca e canta que demanda dom e
muita sensibilidade.
Aqui no Rio Grande do Sul tem um grupo que faz esse
tipo de som e que se encaixa perfeitamente nessas propriedades. É a RINOCERONTE.
Banda de Santa Maria que nos remete à esse Hard setentista pegado de três
músicos.
A banda é formada por Paulo Noronha (voz e
guitarra), Vinicius Brum (baixo e voz) e ‘Alemão’ Luis Henrique (na bateria).
Formada em 2007, já lançaram dois discos completos (Nasceu -2010 e O
Instinto-2013) e rodaram o Brasil em muitos festivais independentes.
Possui uma sonoridade coesa, pesada, com flertes a
stoner, e uma performance empolgante. Letras inteligentes e em português. Rinoceronte
não é mais promessa. É uma das melhores bandas do modo power-trio do país. Os
caras arrebentam com tudo! Pra quem gosta de rock com tutano é indispensável.
Em 1992 os Engenheiros do Hawaii lançaram seu sétimo disco,
intitulado “Gessinger, Licks e Maltz”. É deste álbum a faixa “Parabólica”, em
que Humberto Gessinger homenageia sua filha Clara. A citação final da letra
diz: “ eu paro e fico aqui parado, olho-me para longe, a distância não
separabólica”.
Vinte e dois anos depois a banda Vera Loca escolheu esta
canção para homenagear os trinta anos dos Engenheiros do Hawaii. “Parabólica”
foi gravada ao vivo em show acústico que superlotou o Theatro São Pedro (POA)
em maio deste ano. A versão da Vera Loca integra o projeto “Espelho Retrovisor",
coletânea-tributo organizada pelo site Scream&Yell.
Amanheceu vazio o quatro de setembro. Morreu mais um grande
artista. Um dos melhores do rock argentino. Gustavo Cerati não aguentou mais o
coma de quatro anos.
É extremamente triste e sacrificante escrever hoje. O músico que germinou o rock latino dentro de mim. Soda Stereo é encantador. Sua obra é primorosa.
Ídolo.
Os gênios não são esquecidos. Ele não será também. Ao menos
por mim e muitos argentinos. Sua música sempre será um soro contra a tristeza e
a depressão.
A tecnologia surgiu para beneficiar o homem ou para deixa-lo
mais acomodado, mas junto com a evolução dela alguns paradigmas são quebrados e
ou enfraquecidos. Foi o que aconteceu com a indústria fonográfica. Aquele reino
das grandes gravadoras de discos foi derrubado. Primeiro com aparição dos
discos compactos (CDs), que fez com que a manufatura dos álbuns de vinil se
tornasse espécie em extinção.
Depois a pirataria física, e mais recentemente a
incontrolável proliferação da música digital. Isso faliu o império do negócio
da música, depauperou as mágicas lojas de discos e empobreceu ainda mais os
músicos.
Nos tempos atuais, para a maioria, é impensável comprar CDs
e muito menos LPs dos seus artistas preferidos. Basta baixarem da internet,
aonde se acha quase tudo. Esta, uma grande aliada para o conhecimento, mas não
o fim. E sim um propulsor de valorização. Gostou? Vai lá e compra! Todos saem
ganhando.
Porém, graças ao bom senso dos verdadeiros que veem a música
- e principalmente o rock - como arte e não meramente objeto superficial, não
deixam tudo isso morrer. O futuro da música em formato físico é cada vez mais
voltado para o nicho dos colecionares. E ainda bem. São poucos, mas são os que
realmente valorizam essa profissão árdua.
O cenário mudou. Já não é mais o único objetivo assinar com
uma grande gravadora e atingir a massa. É fazer de forma autônoma. Se valer das
mídias digitais, no tocante a divulgação e no contato direto com os fãs. Com muita luta é possível chegar lá e ser reconhecido
sem se escravizar e abrir mão dos seus princípios.
E é com essa ideologia de manter a música atraente que entra
o selo HEARTS BLEED BLUE – HBB STORE. Uma gravadora e loja virtual alternativa que
veio para ajudar a comunidade criativa do rock nacional, e não deixá-lo na
dormência do esquecimento.
Criada em São Paulo há pouco mais de três anos por Antonio
Augusto, o objetivo do grupo é dar espaço, amparo e disseminar o trabalho das
bandas de rock do nosso país. Em resumo, proporcionar cultura para os melomaníacos.
O catálogo da HBB está crescendo e com muita qualidade.
É uma das gravadoras independentes mais ativas
atualmente. Além de apresentar bandas
novas, reeditam trabalhos de grupos já consagrados do meio, como: RATOS DE
PORÂO, BLIND PIGS, DANCE OF DAYS, ZUMBIS DO ESPAÇO, DEAD FISH; entre outros.
Também publicam uma revista bimestral: a “Curto Circuito”. Tudo na raça.
Pra quem gosta de rock, e entende a música como arte honesta,
vale a pena conhecer mais essa proposta. Há uma série muito interessante sobre
os bastidores da empresa no canal Hearts Bleed Blue no You Tube. Confere lá também.
Quem sente encanto pelo Heavy Metal seguramente
aprendeu a gostá-lo por instituições como o BLACK SABBATH, JUDAS PRIEST e IRON
MAIDEN. Passou por outros da espécie: de
MOTORHEAD à METALLICA e SEPULTURA à PANTERA.
Ou até por sons mais brutais em bandas como DEATH e KRISIUN (orgulho dos
metaleiros gaúchos).
Mas esse gênero sempre chegou até nós na língua
inglesa. O Brasil teve um boom do estilo
no final dos anos 1980 e começo dos 1990 com os sucessos de Sepultura e ANGRA
além-mar. A maioria das bandas então queria cantar somente em inglês, com o
sonho de estourarem no exterior. Com o passar dessas décadas o movimento foi se
silenciando. Hoje a cena vem se fortalecendo no país com a ajuda da divulgação
pelas mídias digitais. Existem promessas muito fortes nessa nova safra do metal
tupiniquim, como JACKDEVIL, VIOLATOR, NERVOSA e SHADOWSIDE. Mas adivinhem!
Ainda em inglês. São poucas as bandas de metal daqui que escrevem em português.
Então foi preciso que um grupo de músicos
experientes surgisse para mostrar como se faz e como se valoriza a nossa língua
portuguesa e a espanhola dos nossos vizinhos. Afinal, se o RAMMSTEIN faz
sucesso mundial cantando em alemão, porque uma banda brasileira, argentina ou
uruguaia não pode alcançar a fama com a sua língua nativa?
O quarteto DE
LA TIERRA nasceu para abrir esse caminho. E tem tudo para conseguir. O
grupo é um multiétnico formado por dois argentinos, um brasileiro e um com
múltiplas nacionalidades; cubano, colombiano e americano.
Trata-se de um encontro de artistas de diferentes
escolas. Do mais pesado ao mais pop. Os donos do projeto são: os argentinos Andrés Giménez
(A.N.I.M.A.L), nos vocais e na guitarra rítmica; Sr. Flavio (LOS FABULOSOS
CADILLACS), no baixo; o multicidadão Alex “El Animal” González (MANÁ), na bateria;
e nosso Andreas Kisser (SEPULTURA), também nos vocais e na guitarra.
O projeto não foi invenção de um produtor caça-níquel de uma grande
gravadora. São músicos que tem o prazer de simplesmente tocar e criar. Com uma
proposta inovadora e oportuna: colocar em prática, em letras reflexivas, suas
consonâncias sociais e culturais; suas raízes tão semelhantes.
De La Tierra apareceu para aproximar nós brasileiros e fronteiriços do
Heavy Metal de uma forma mais palpável. Não é por mera forma estética que usam
o portunhol nas músicas. É para entendermos melhor nosso território latino.
A sonoridade dispensa digressões. Metal forte em sua essência - sem
aparatos tecnológicos -, criativo, e com um groove
e riffs de bater cabeça.
As sensações ao ouvir a banda londrina SAVAGES são várias e complexas ao mesmo tempo. Variam entre
satisfação, esperança, energia, introspecção e êxtase.
Reúne todas as características de uma arte sonora que
fascina quem gosta do bom e velho rock and
roll feito com vigor e dedicação. Personalidade musical agressiva, minimalista,
lúgubre, imagem icônica, temáticas cruas e atuação hipnotizante.
Música potente e simples. Direta ao ponto. Sem firulas. Uma fusão de Joy Division, Dead Kennedys, Siousxie and The Banshees, e em raros momentos, Queens Of The Stone Age. E muito mais sentimento ao invés da técnica vazia. No fim das contas, isso é o
que importa.
Os atributos são muitos e mesclados. Uma completude instrumental
sólida surpreendente. Guitarras dissonantes que cortam alma; baixo audível e
latente; bateria que beira ao militar; e a voz desesperada, suave e gritante no
ponto certo. Não se pode tirar nada dali que o monstro se desmorona.
Em apenas três anos de atividade já fizeram um estrago no mainstream. Parece que dedicaram parte
de suas vidas somente se alimentando do melhor do punk, do pós-punk, e de uma
arte vanguardista; para no momento certo, com acuidade, estourarem a bomba. O palco é o lugar de batalha das Savages. Uma banda literalmente do “ao vivo”. As quatro dão o sangue ao tocarem. Como se a Terra fosse explodir ao final da última nota.
São nessas faíscas de genialidade, como as cabeças dessas
quatro mulheres, que nos faz sentirmos orgulho de viver para e pela música. E
que isso, ao contrario do que muitos acham, não é tempo perdido. O rock está
muito vivo e imperioso.
“Silence Yourself” é transgressor e Savages é o que tem de
mais requintado no rock atual. Não há muito que dizer e sim muito que sentir.
O grunge foi o último abalo criativo e interessante que
o rock nos proporcionou. Hoje, existem poucas bandas que nos transportam para
aquela tenacidade juvenil e enérgica dos noventa. O maior exemplo desse cultivo
sonoro aqui no "país da copa" é o quarteto gaúcho HANGOVERS.
Pesado, direto e sem frescura. A Hangovers é a banda
que a cena da cinzenta Seattle não teve. Calcada nas características punks garageiras
das guitarras sujas e distorcidas, o barulho é um bom soco no ouvido. São
quatro guitarras e uma bateria que fazem um som de pura pujança. Daqueles
impossíveis de não balançar a cabeça. Uma parede de riffs no modo Mudhoney, Melvins, Nirvana, TAD, Helmet e Kyuss, de
se fazer música.
Os responsáveis pela desordem é a ótima dupla já
conhecida do rock gaúcho, o guitarrista Andrio Maquenzi (ex-Superguidis,
Medialunas) e a talentosa baterista Liege Milk (Medialunas, Lommer);
acompanhados de mais duas guitarras: Theo Portalet e Gabriel Lixo. Nada de vocal
e harmonia de contrabaixo. E agora, já imaginou a densidade da coisa?
Na ativa desde 2010, o grupo lançou três EPs até
agora: Bebendo Socialmente (2011), Academia Brasileira de Tretas (2011) e Hanga
In The Sky With Breads (2013). Outro aspecto que agrega simpatia e irreverência
à banda são os títulos das músicas. Engraçados como: “Chico Bento Vai Ter sua
Vingança em Seattle”, “Eis-me a Transpirar tal qual um Suíno”, “Cheiro de
Lentilha Queimada”, “Medo e Delírio em Canoas” e “Ode a Beto Jamaica”.
Em tão pouco tempo de trabalho já conquistaram a
recomendação das revistas Rolling Stones Brasil e Billboard Brasil. Além de
participarem ativamente de festivais independentes do sul do país, fizeram
shows em cidades do interior de São Paulo e foram selecionados no maior
festival de música instrumental do país - o PIB – Produto Instrumental Bruto.
Hangovers é a cultuação de um momento solene da
música independente – o grunge -, mas com um frescor jovial de século 21. Está
longe de nos trazer ressaca daquele período, mas sim saudade daquela época intensa da música.
É com muito lamento
que a cultura musical gaúcha perde mais um dos seus perpetuadores. Na madrugada
de domingo de pascoa, João Darlan Bettanin (o Xiruzinho), nos deixou com apenas
48 anos em um desastre de carro, pelas bandas de São Francisco de Paula.
Músico e advogado,
compositor, intérprete e violeiro; Xiruzinho era natural da cidade serrana de
Esmeralda, mas sua alma de cantor vertia a Rio Grande como um todo em suas
canções. Escolheu Caxias para viver e de lá, a partir de 1984, disseminar sua
arte devotada às nossas tradições.
Há tempos recebi o
seu álbum “Nos Bretes da Vida”, que traz interpretações suas para poesias do
nosso poeta João Sampaio. Na época escutei poucas vezes, mas nessas raras vezes
deram para sentir sua excelência e a honestidade do seu trabalho.
Xiruzinho conhecia
nossa história. Apesar de nascer na serra, tinha uma forte paixão pelo
missioneirismo e pela cultura fronteiriça. Possuía empatias sentimentais que o
aproximavam da cultura missioneira. Sua voz de bugre, anasalada e de dicção
clara combinavam com a temática. Enlevado por Noel Guarany, Xiruzinho mesclava
e disseminava a cultura guaranítica e latino americana com coração e maestria,
como poucos. Junto de Jorge Guedes são os interpretes definitivos da poesia
universal de João Sampaio.
Gravou sete discos: Um
Parelheiro que Tenho (1991); Gaúcho, Tempo e Memória (1997); Sem Fronteiras
(2003); Nos Bretes da Vida (2008); Xiruzinho Canta o Poeta e Payador Don Arabi
Rodrigues (2009); A Arte Real em Versos, Pajadas, Décimas, Sonetos e Poesias (Livro-CD,
2012) e Aquarelas do Amor (2013), este como João Darlan e com composições
populares que pendem para o sertanejo.
Xiruzinho foi além do
seu pago, explorou o pampa dos países do Prata, entendeu e sentiu a irmandade
gaúcha e também a transformou em melodia. É mais um Xirú dos bons que se vai.
Vai matear lá em cima junto do tronco de Noel, seu maior inspirador.
Cantou em muitos rodeios e festivais
nativistas, quem vivia nesse meio sentiu mais sua presença.
A noite deste sábado, 5 de abril, é de relembrar os sucessos
da cinquentenária e mais popular banda uruguaia que se tem notícia: Los
Iracundos.
Formada em 1958 em Paysandu, inicialmente como Los
Blue Kings, pelos irmãos Franco (Eduardo – vocalista e compositor; e Leonardo –
guitarrista), durante três décadas os Iracundos dominaram o seu país e construíram
fama internacional com suas baladas românticas a lá Jovem Guarda.
Na ocasião serão interpretados grandes sucessos,
como: Agua con Amor, Chiquilina, El Juguete, Hace Frío Ya, La Lluvia Terminó,
Lisa de los Ojos Azules, Marionetas del Cartón, Porque no Vale la Pena, Puerto
Montt (considerada a canção de maior êxito do grupo), Si Lloras por Mí, Te lo
Pido de Rodillas, Va Cayendo una Lágrima, Y la Lluvia Caerá, Y me Quedé en el
Bar, Venite Volando, entre outras pérolas do vasto repertório dos platinos, que
conta com mais de 30 discos gravados - entre inéditas e compilações.
A noite será uma verdadeira ode ao passado. A
celebração de uma era marcante da música latina. Além de prestarem tributo ao
Los Iracundos, serão tocados sucessos dos chilenos Los Galos e Los Angeles
Negros; e também do argentino Leonardo Favio. O conjunto The Luck Boys seguirá
o baile.
O concerto homenagem está marcado para as 23h e a
entrada custará 20 reais.
Os músicos palhaços da porto-alegrense Bandinha Di
Dá Dó se apresentam hoje no teatro Prezewodowski, em duas sessões: às 15h30min
e às 20h. A entrada é gratuita.
O evento é uma parceria do Setor Municipal da
Cultura e os Amigos da Cultura. A apresentação faz parte da "Circula Tchê Tour!", turnê da Bandinha Di
Dá Dó, que passa por sete cidades do RS: Pelotas (2), Bagé (3), Itaqui (4), São
Borja (5), Passo Fundo (6), Mostardas (11) e Rio Grande (12).
Este plano de circulação foi aprovado em edital e é financiado pela
Secretária da Cultura do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Conta com o
apoio da Prefeitura de Itaqui, Prefeitura de São Borja, Casa Fora do Eixo de Pelotas
e Atelier Coletivo de Bagé, e dos demais produtores locais das cidades
roteirizadas.
A trupe começou sua jornada na capital em 2005 e já
teve em sua formação um itaquiense, o músico Ed Lannes. Atualmente a banda é
formada por Mauro Bruzza (acordeom e vocal), Thiago Ritter (baixo), Gabriel
Grillo (guitarra) e Paulo Zé Barcellos (bateria). Artistas com experiência em
trilhas sonoras para teatro e circo.
Com uma proposta de unir música e teatro para
divertir - uma espécie de doutores da alegria da música – os palhaços Cotoco,
Teimoso Teimosia, Invisível e Zé Docinho conquistaram uma atenção sólida no
Estado e já se apresentaram na Europa. Em 2012 lançaram o primeiro registro
autoral em CD, chamado “It's a Clown
Music! Bandinha Di Dá Dó e Muito Mais...”.
A sonoridade do
quarteto é uma mescla de world music,
música cigana e rock and roll, e
possuem diversas influencias, como: Gogol Bordello, Goran Bregovic, La Rue
Kétanou e Municipale Balcânica.
O objetivo da Bandinha é levar o humor para as
pessoas de todas as faixas etárias, em locais fechados ou nas ruas.